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Uma visita pouco cultural da ministra da cultura

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Foi habitual nos tempos da monarquia, manteve-se durante a primeira República e perdurou até ao 25 de Abril. Antes ou durante uma visita do rei, do presidente, ou de algum ministro, havia sempre tempo para que a população pudesse expor as suas eventuais queixas ou reivindicações. Anunciava-se a data da visita, antes devidamente preparada, quase sempre com a vinda de um alto funcionário, tendo por missão auscultar, e só depois estabelecer o respectivo programa.

Constata-se agora, 46 anos após o 25 de Abril, que tais bons hábitos lamentavelmente se perderam. Ao que se diz já de saída do governo, a ministra da cultura resolveu visitar o Convento de Cristo, acompanhada pelo director-geral do património cultural.

A informação local só noticiou a ocorrência uma semana depois. A vinda da senhora ocorreu em 26 de Maio e o Tomar na rede só a noticiou a 2 de Junho, decerto porque só então teve conhecimento do facto. Evidente falta de cultura da ministra da cultura. Falta de cultura democrática, já se vê.

Reza a notícia que se tratou de uma breve visita (cabe recordar que, até nova ordem, uma visita ao Convento não pode exceder 30 minutos), para conhecer o monumento e alguns dossiers, com a já costumeira desculpa dos condicionalismos provocados pela covid-19. Acrescenta a mesma fonte que decorrem obras nas antigas cavalariças, para aí reinstalar a loja de recordações, estando também prevista uma outra saída para os visitantes, e conclui referindo que está previsto igualmente mudar o actual acolhimento dos turistas.  Para onde? Para quando? Denso nevoeiro, que já dura há mais de uma década. Entretanto vai-se mantendo a vergonhosa entrada.

Por manifesta inépcia governamental, o Convento de Cristo padece de numerosas mazelas, que tendem a transformá-lo numa espécie de cão cheio de pústulas e de carraças. Seria demasiado longo enumerar aqui todas as feridas e outras carências do monumento, ou os erros da actual gestão. Basta referir dois aspectos.

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Por um lado, há estragos provocados pelo tornado de há dez anos que continuam a aguardar reparação. Apesar de estarem na parte mais nobre do monumento.

Por outro lado, mesmo com os quase 40 funcionários que lá estão agora, contra apenas 4 antes da transferência para o então IPPC no século passado, não há nem nunca mais houve o mesmo nível de serviço para os visitantes.

Antes da dita transferência, as entradas eram gratuitas (agora custam 6 euros/pessoa), o acesso fazia-se pelo portal manuelino da Charola, todas as visitas eram guiadas por funcionários afáveis, o horário era das 8 da manhã às 8 da noite, e depois da visita os turistas podiam, se assim o desejassem, descer pela Mata dos 7 montes.

Agora, além da tarifa exorbitante, a entrada faz-se por uma espécie de porta para serviçais, o horário é o da função pública, visitas guiadas só requeridas com muita antecedência, muitos funcionários têm semblante e atitude de guardas prisionais, e a passagem para a Mata está sempre fechada.

Estamos portanto numa situação assaz curiosa. Contrariando a expectativa geral, no Convento as coisas vão piorando e muito, em vez de melhorarem. Contando com o cúmplice silêncio da autarquia (incluindo a oposição), cuja única preocupação conhecida é tentar sacar ao governo uma percentagem da receita das entradas, cujo cômputo anual ronda os dois milhões de euros.

E não adianta tentar desculpar-se com a habitual frase feita “a câmara não tem nada a ver com esse assunto”. Na verdade, tem tudo a ver sim senhor. Quando tomaram posse juraram cumprir com lealdade as funções que lhes são confiadas. Entre essas funções avulta a defesa da comunidade tomarense, da qual são legais representantes. Devem portanto protestar sempre que os interesses da comunidade estão a ser prejudicados. Acham que o actual estado das coisas no Convento prestigia os tomarenses?

Protestar acarreta inimizades e outros problemas? São ossos da função. Na política nunca se consegue estar de bem com Deus e com o Diabo. Nem tão pouco agradar a gregos e a troianos. Ou a espartanos e atenienses. É muito duvidoso que a actual atitude da oposição local, que consiste em procurar andar à chuva sem se molhar, possa conduzir a algo de positivo. Logo veremos.

Ainda assim, se para os tomarenses em geral, está tudo bem, no melhor dos mundos possíveis, pelo menos enquanto houver subsídios, tintol e feijoada à borla, que fazer, para além de denunciar?

                            Margarida Magalhães

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11 comentários

  1. Sr. Margarido
    Acho que escalpelizou brilhantemente como aliás já nos habituou as mazelas e vicios daquela casa que tão bem conhece!

  2. Margarida Magalhães,

    este não parece um texto de opinião mas sim, um texto crítico desconstrutivo.
    Acaba por atacar em todas as frentes, os tomarenses, a autarquia local, os funcionários do Convento, os jornalistas, só faltou mesmo criticar-se a si própria.
    Em primeiro lugar interessa dizer que é verdade que há espaço para melhorar mas também é verdade que há desconhecimento da sua parte em muita da matéria que menciona.
    Em relação ao preço da bilhética do Convento de Cristo é um preço que é transversal a outros museus e monumentos da DGPC, e não é um valor exorbitante tendo em conta que a recuperação e conservação do património acaba por ter um custo elevado. Além disso, interessa dizer que aos domingos e feriados até às 14H00 tem oportunidade de visitar o monumento gratuitamente (aproveito para referir a oportunidade a triplicar de o poder fazer na próxima semana).
    A gestão do Convento de Cristo diz respeito à sua Diretora Andreia Galvão e ao Diretor da DGPC Bernardo Alabaça e não à autarquia local.
    Os vigilantes não atuam todos da mesma forma e por isso não é de bom senso descrevê-los a todos da mesma maneira.
    O maior problema do convento de Cristo a meu ver não é o seu circuito de visita mas sim o facto de impossibilitar o acesso pelo interior da cidade, o que faz com que o turismo não seja retido e acabe por gerar menos economia à cidade.
    Em relação ao restauro do edifício já foi comunicado que foi atribuída uma verba da FEDDER (Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional) no valor de 3,22 milhões de euros, que se destina à conservação e valorização dos espaços, tanto no Convento de Cristo, em Tomar, como do Mosteiro de Alcobaça. Obras estas que têm o prazo de conclusão até 30 de junho de 2021.
    A medida de limitar a duração da visita no Convento de Cristo é uma medida a curto prazo e está relacionada naturalmente com a pandemia. Foram dadas indicações gerais aos museus e monumentos da DGPC e foram colocadas à consideração de cada diretor de serviço dependente da DGPC a imposição de medidas especiais para que de melhor forma se consiga prevenir o contágio. Esta foi a medida que a diretora encontrou.
    Quanto às práticas culturais e manifestações políticas dos tomarenses,as escolas têm um papel crucial nesse sentido de promover essas ações e não o Tomar na Rede.

    1. Senhor Gonçalo Oliveira:
      Agradeço o seu amável e útil comentário, ao qual passo a responder ponto por ponto:
      1 – “…não parece um texto de opinião, mas sim um texto crítico desconstrutivo”, escreveu o sr. Quando puder, e se lhe aprouver, agradecia que indicasse quando e como é que um “texto crítico desconstrutivo” deixa de ser uma opinião livre e frontal.
      2 – “Só faltou mesmo criticar-se a si própria”, continua o sr. Quem lhe garante que não me autocritico no próprio texto ao qual o sr. responde? Leu com atenção o meu último parágrafo?
      3 – “há desconhecimento da sua parte em muita da matéria que menciona”. Pode indicar exemplos precisos?
      4 – A sua argumentação, procurando rebater a minha afirmação segundo a qual a tarifa de entrada é exorbitante, não colhe. O facto de se tratar de “um preço que é transversal” não é justificação aceitável. Tal como quatro mortes não justificam uma. Sobre os custos elevados da conservação e restauro, melhor será nem falar. O Estado já financiava integralmente esses trabalhos, como lhe compete, QUANDO AS ENTRADAS ERAM GRATUITAS, antes da transferência para o então IPPC, no século passado. Quando o Convento tinha só 4 funcionários, em vez dos 30 e tantos actuais.
      5 – Em nenhum ponto da minha crónica agreste se afirma que a gestão do Convento é assegurada pela autarquia. O que se afirma, isso sim, é que a autarquia está obrigada, como representante legal da comunidade tomarense, a protestar sempre que os interesses da população local estejam a ser prejudicados, como é o caso. Os visitantes são mal acolhidos, mas depois os tomarenses, no seu conjunto, é que ficam com a fama de não serem hospitaleiros.
      6 – Estamos de acordo: “Os vigilantes não atuam todos da mesma forma”. Por isso usei na crónica a expressão MUITOS funcionários, e não TODOS os funcionários. Por conseguinte, a generalização é sua, não minha.
      7 – Discordo totalmente quando escreve que “o maior problema do Convento de Cristo… … …” Cá para mim, o Convento padece de quatro grandes problemas: A – Acolhimento dos visitantes; B – Segurança interna e exterior; C -Circuitos de visita; D – Estacionamento. O problema que indica, do acesso pelo interior da cidade, não é da competência da DGPC, mas sim do Município de Tomar. Que terá de o resolver um dia. Só falta saber quando.
      8 – Oxalá as verbas europeias agora conseguidas não venham a ser mal gastas em mais um crime contra o património, como seria a limpeza-lavagem da Janela do capítulo com jacto de água, detergente e areia. Faça favor de ler mais abaixo o comentário de Afonso Paládio.
      9 – As medidas restritivas decididas para combater a pandemia são inadequadas, infantis mesmo, pois revelam ignorância e excesso de medo. É consensual que as pessoas com máscara não precisam de manter a distância de dois metros, podem estar em grupos de 10, e sem limite de tempo.
      10 – É dito nos textos bíblicos que, a dada altura, alguns apóstolos “procuraram Cristo debalde.” Ou seja: procuraram e não O encontraram. Pois agora também eu procurei debalde alcançar o sentido do seu último parágrafo, mas confesso que ainda não consegui. Prometo no entanto que vou insistir.
      Respeitosamente,
      Margarida Magalhães

      1. Em primeiro lugar, é relevante dizer que fez bem em investir tempo a ler o meu comentário pois esse era o principal objetivo.
        Em segundo lugar, o objetivo seria adicionar informação importante à crítica que fez.
        Por último, tentar fazê-lo refletir sobre o que escreveu mas é como encontrar Cristo debalde.
        Grato pela sua ironia e por tentar lutar pela sua dignidade.

        1. O senhor sabe estar à altura das circunstâncias, tornando este debate escrito bastante ameno. Terá em tempos bebido chá quando convinha, que é coisa rara em Tomar.
          Um esclarecimento final: Não tento lutar pela minha dignidade. Apenas procuro, na medida das minhas modestas capacidades, fazer tudo o que posso em prol da cidade e do concelho, que o mesmo é dizer da comunidade tomarense. Nem sempre o consigo da melhor forma? É provável. Mas faço o possível, e tento ir aprendendo com os erros e as derrotas.

  3. Segundo O TEMPLÁRIO de hoje, na notícia sobre a visita da ministra, nada foi dito sobre a reparação dos estragos causados pelo tornado de há dez anos. Em contrapartida, voltou à baila a limpeza das paredes exteriores do coro manuelino. Incluindo a Janela do Capítulo. Valha-nos Deus, se puder. Na DGPC e no próprio Convento já estão a tentar copiar o modelo da câmara: desprezar o essencial para cuidar do acessório, porque é mais espectacular.
    Neste caso, para fazer na Janela e nos botaréus aquilo que já fizeram, por exemplo, nos Jerónimos e no portal renascença da igreja da Atalaia. Causar estragos irrecuperáveis. Apenas movidos pela ganância. Pela ideia de ganhar muito dinheiro com pouco trabalho.
    Aquando do concurso público para a execução da obra (se houver!) comprometem-se a limpar com todo o cuidado, exclusivamente à mão e com pessoal qualificado. Uma vez instalado o estaleiro, tapam tudo muito bem tapado, ligam os compressores e sai um jacto de água, detergente e areia, que limpa tudo num instante. O problema é então duplo:
    1 – Removem os líquenes e lá se vai a patine, o aspecto actual de 500 anos ao ar livre, bem como a protecção que essa mini-vegetação faculta, ao tapar os poros do calcário, assim evitando em grande parte as infiltrações de chuvas ácidas, que vão desfazendo a pedra.
    2 – A pressão excessiva do jacto de água, detergente e areia erosina gravemente, de forma irremediável, toda a parte esculpida. Basta comparar fotos do portal da Atalaia de há 40 anos com as actuais, para constatar o desastre. Nalguns casos, os medalhões nem parecem os mesmos.
    Quem nos acode? Quem acode ao que de melhor e mais lindo temos em Tomar?

  4. A sr Margarida ahah ou será a sra António como queiram está com uma entrevadinha mental de todo o tamanho , que grandes cotovelos aí tem pois nota-se o tamanho da dor

  5. Esta “senhora”, Margarida Magalhães, “recentemente aparecida” neste espaço de opinião revela-se, logo à partida muito activa mesmo. Não tem mal. Até se pode considerar bom que isto anime e que, da diversidade de opiniões possa surgir algo de construtivo. Só é pena não ser o caso.
    Mas é toda esta hiperactividade súbita e, sobretudo, o facto de falar, falar, falar e nada acrescentar que não seja o dejá vu do dizer mal do que está, sem outro critério que não seja esse: o dizer mal, que torna aquilo que descreve em algo desinteressante ou desprezível. A “senhora” parece confundir perspicácia ou espírito crítico com traquinice e falta de educação. E acha que, só o escrever e ter oportunidade para isso já é indicador de génio ou de inteligência crítica.
    Para escrever o que escreve, melhor fora ficar calada.
    A senhora ministra da Cultura veio a Tomar e visitou o Convento de Cristo. Veio em trabalho fazer o que entendia que tinha a fazer. Não mandou dizer que viria, nem disse que veio. Contrariamente ao presidente da república ou ao Costa, ou até aquela moça de Abrantes que agora é da agricultura, em vez de se pavonear em calções de banho, abraçar velhinhos que choram ou ir aos programas dos Gouchas e Cirstinas, a senhora ministra da Cultura, ao que parece, limita-se a fazer o seu trabalho.
    Pode não se concordar com ele. Eu acho que até a existência desse tal ministério é questionável. À falta de outra evidência para pouco mais tem servido ou serve que torrar dinheiro dos contribuintes entregando-o a “personalidades” e grupelhos autodenominados cultos e inteligentes, cujo principal elemento identificador é a ideologia do politicamente correcto de esquerda. Ser ministra com este programa é coisa que não se deve invejar.
    Seja como for, ter, em cima disto, de se sujeitar à “crítica” dos intelectuais de província que só acham que se tem cultura democrática se se tiver uma prática política populista e pimba é que é mesmo demais.
    É certo que para a ministra, as Margaridas Magalhães serão inócuas. Para nós, cá pela terrinha, não tando mais ou algum conteúdo, podia fazer um esforço para ter alguma graçola.

    1. Agradeço o seu amável comentário. A resposta completa será publicada dentro de alguns dias. Peço-lhe o favor de ser paciente. Vai ver que não perde pela demora.

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