
A jovem estudante de 18 anos que foi encontrada morta na residência da Universidade da Beira Interior, no dia 29 de setembro, num cenário de suicídio, estava num processo de mudança de género e já tinha conseguido mudar de nome.
Sofia Pereira Santos residia no Bairro, concelho de Ourém, onde desde tenra idade se sentiu menina. Mas o conflito interior de alguém que não se identifica com o género com que nasceu e a pressão do processo de transição de género poderá ter precipitado o fim da sua vida.
Era aluna do 1º ano do curso de engenharia informática e numa altura em que estava a iniciar o ano letivo foi encontrada sem vida por uma colega de quarto.
A propósito da morte da jovem estudante transgénero, a psicóloga clínica Joana Calado, de Ourém, publicou um texto que foi lido durante o funeral, partilhado por várias pessoas nas redes sociais e que suscita uma reflexão sobre a transexualidade.
“Que este assunto seja cada vez mais falado, discutido e percebido”, desejou a especialista.
“A Sofia partiu porque não aguentou a dor de ter nascido diferente. A Sofia é o exemplo de muitas Sofias que sofrem em silêncio, incompreendidas e quase deixadas ao abandono pela sociedade. Valeu-lhe a família maravilhosa onde nasceu.
A transexualidade não é uma mania, não é uma doença. A transexualidade acontece ainda no útero materno, onde a quando da formação do feto existe uma falha de comunicação entre o cérebro e a identidade dos genitais. Sendo mais concreta, o cérebro da Sofia ainda na barriga da mãe deu-lhe uma identidade feminina, o corpo falhou e fê-la menino.
Foram 18 anos a sentir-se menina, a ver-se menina e a olhar-se ao espelho com dor e com um sofrimento inimaginável.
A Sofia iniciou o seu processo de mudança de género, iniciou os tratamentos, conseguiu mudar o seu nome, sempre de mãos dadas com a família e com as pessoas que mais a amavam.
Mas infelizmente a Sofia cumpriu quase um destino que está traçado a todas estas pessoas que infelizmente assim nascem e não conseguem aguentar a dor daquilo que o espelho lhes mostra. A Sofia, tal como muitos transgéneros pôs termo a vida. É importante olharmos para isto, é importante que estejamos atentos, isto não é uma mania, isto não é uma doença mental. Isto é vida. A nossa vida é a vida daqueles que amamos. Se todos nós conseguirmos olhar para estas pessoas com mais amor, podemos evitar este fim a muitas Sofias que por aí andam escondidas, envergonhadas e em sofrimento.
Sofia, foste para todos os que privaram contigo a inteligência suprema, o amor incondicional e o sorriso mais bonito que vamos guardar para sempre no lugar mais bonito de todos nós.
Até sempre minha querida”.
Joana Calado
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Serviços telefónicos de apoio emocional e prevenção ao suicídio em Portugal: (ou) Se estiver a sofrer com alguma doença mental, tiver pensamentos auto-destrutivos ou simplesmente necessitar de falar com alguém, deverá consultar um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral. Poderá ainda contactar uma destas entidades:
SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) – 213 544 545 (Número gratuito)
– 912 802 669 – 963 524 660
Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) – 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159
SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) – 239 484 020 – 915246060 – 969554545
Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) – 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535
Todos estes contactos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24 – depois deve selecionar a opção 4), o contacto é assumido por profissionais de saúde. A linha do SNS24 funciona 24 horas por dia.
Que descanse em paz. Pêsames a toda a família e, talvez, a toda a sociedade que não quer ver o que é diferente mas é legítimo.