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Alguns recados para os autarcas

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Agora que já estão instalados os eleitos nos respetivos órgãos autárquicos, importa relembrar algumas regras e alguns conselhos para os políticos que ocupam lugares nas câmaras, assembleias municipais ou juntas de freguesia.

Em alguns casos é uma questão de formalismo e de respeito entre eleitos e entre estes e os cidadãos, mas noutros casos é mesmo uma questão de educação.

A lista está incompleta e não tem pretensões moralistas. É apenas um conjunto de orientações que, na nossa opinião, devem ser seguidas pelos autarcas:

– Não se fechem em gabinetes e não passem o dia fechados em reuniões. Dediquem algumas horas do dia para contactar com as populações e acompanhar os problemas no terreno.

– Devem ir à rua, aos bairros, às aldeias, aos cafés, às coletividades, ouvir o que dizem os cidadãos, tomar o pulso à realidade que por vezes não coincide com as preocupações e prioridades dos eleitos

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– A transparência na gestão autárquica deve ser uma regra básica. Abram todas as reuniões dos órgãos executivos, seja câmara, seja junta, à comunicação social e ao público em geral. Se não têm nada a esconder, não fechem essas reuniões. (a lei obriga apenas a uma reunião pública por mês, infelizmente).

– Descodifiquem as siglas e expliquem as medidas, as decisões ou as obras de forma pedagógica. Quanto mais siglas usam, mais afastam os cidadãos da política porque nem todos sabem o que é um EVEF, um PDM, uma UOPG ou uma ETAR.

– Evitem os estrangeirismos. A língua portuguesa é rica e deve ser explorada. Alguns autarcas, só para se armarem ao pingarelho, abusam dos estrangeirismos.

– Não tratem os outros colegas da vereação, de bancada ou da junta por “tu” nas reuniões de câmara ou de assembleia. Tal como nos julgamentos nos tribunais, nas reuniões municipais tem de haver o mínimo de elevação no tratamento porque senão confunde-se com conversa de café. Também não é necessário cair no extremo de tratamentos como Vª Exª, digníssimo, etc. nem exagerar nos chamados “salamaleques”.

– Nas reuniões, os eleitos devem ser tratados apenas pela função, nome e apelido, sem referência ao título académico. É também provinciano colocar Dr. ou Prof. antes do nome nos ofícios. Acabem lá com isso!

– Evitem muletas da linguagem vernácula como o “oh pa”, isso fica para a conversa de café.

– Não comecem as frases com verbos no infinitivo (Ex. “agradecer a todos os presentes”, “dizer que estamos empenhados…). Como diz o Ricardo Araújo Pereira, isso é só “falar parvamente”.

– Projetem a voz. Lembrem-se que por norma há mais pessoas na sala, para além dos eleitos, que estão ali também para ouvir.

– Não virem as costas aos cidadãos, seja nas reuniões, seja na gestão autárquica. A disposição das mesas e cadeiras deve ter isso em conta.

– Se houver um ecrã na sala, coloquem-no de forma a que todos, mas todos possam ver. E se houver uma projeção, confirmem se todos estão a ver.

– Nas reuniões, coloquem nas mesas placas identificadoras de cada autarca. Os cidadãos que assistem às reuniões podem não conhecer todos os eleitos. Além disso, o ou a presidente da câmara deve nomear a quem dá a palavra identificando o orador seguinte com o respetivo nome.

– Não seria necessário dizer, mas, por favor senhores autarcas, não participem em reuniões ou atos oficiais em calções e chinelos, mesmo que esteja muito calor. Acreditem que já aconteceu.

– Coloquem-se na pele dos jornalistas e dos cidadãos quando decorrem as reuniões de câmara, avaliem se estão a falar suficiente alto para que as pessoas possam ouvir. Falem suficientemente alto ou mandem ajustar o volume de som para que todos os que estão na sala oiçam. Lembrem-se que nas reuniões públicas deve-se respeito a quem está a assistir e não falarem apenas virados para os colegas.

– Quando disponibilizam documentos em PDF façam-no em formato editável, ou seja, que se possa copiar o texto de modo a facilitar a vida aos jornalistas que de outro modo têm de escrever tudo.

– Diligenciem para que os jornalistas tenham condições para trabalhar: mesas onde possam colocar os seus portáteis, acesso a wi-fi e a tomadas ou extensões elétricas, condições para captação de som e imagem, etc

– Reservem tempo para contactos com os jornalistas em conjunto ou individualmente. Por exemplo no final das reuniões de câmara dediquem alguns minutos para responderem às dúvidas dos jornalistas. Assim evitam mal entendidos e eventuais deturpações e a informação sai mais completa e rigorosa.

– Se houver lugares reservados aos jornalistas não custa nada disponibilizar garrafas de água tal como é feito para os eleitos.

 

Escrevemos estas linhas “ao correr da pena” sem a pretensão de educar seja quem for, até porque a maioria dos eleitos tem noção e sabe tratar de forma adequada os seus colegas.

Sem querer dar lições de etiqueta e boas maneiras (Paula Bobone tem vários livros publicados sobre o tema), os eleitos não se podem esquecer que não estão no café e que há um certo formalismo a que as reuniões têm de obedecer.

E depois nunca é demais lembrar a importância da comunicação social na cobertura da atividade autárquica.

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José Gaio

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

2 comentários

  1. Caro José Gaio,

    Apesar de uma ou outra discordância menor, aplaudo, de pé.

    E, já agora, não vão para as reuniões sem conhecerem os problemas, sempre que possível “in loco”, e não falem só por falar. Sejam estudiosos, trabalhadores e humildes e abstenham-se de falar do que não sabem, às vezes mesmo nada.

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