Opinião
Trégua de Natal e Ano novo, em tempos perigosos
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Podia escrever sobre a opinião, publicada aqui no TNR, da líder do PSD, Lurdes Ferromau, que ao fim de tantos anos (mais vale tarde que nunca) diz o óbvio: Uma maioria autárquica que ao fim de oito anos ainda não resolveu o problema do saneamento urbano, a cem metros dos Paços do concelho, mas gasta milhões em obras ornamentais mesmo ao lado, não é uma maioria séria nem responsável.
Podia escrever sobre a ideia arriscada da câmara, ao anunciar a reabertura do cine-teatro municipal para cinema comercial, a partir de 20 de Dezembro. Não se tratando de ajudar empresários privados locais, arriscar ajuntamentos mesmo limitados, em ambiente fechado e com ar condicionado, um dos principais difusores do vírus, só pode ser ou uma provocação, ou uma irresponsabilidade infantil, uma simples traquinice.
Podia escrever sobre a luta pela sobrevivência dos industriais de pirotecnia, que, apesar da pandemia, têm encomendas de 30 câmaras municipais, que todavia não podem fornecer, porque as autoridades não deixam, procurando evitar ajuntamentos ao ar livre. Enquanto isto, em Tomar a autarquia resolve reabrir o seu cinema municipal sem mais nem menos, como se não houvesse pandemia alguma, nem perigo em ambientes fechados, nem infectados na cidade e no concelho.
Podia escrever sobre sobre “Grândola vila morena, terra da fraternidade” e Tomar terra templária, terra da impunidade. Mete-se a mão na gaveta, recebe-se por baixo da mesa, recebem-se gratificações às claras, contestam-se concursos públicos, torpedeiam-se projectos, tudo na paz do Senhor. Nunca há queixas formais, nunca há inquéritos, nunca há sindicâncias. E “por supuesto” nunca há punições.
Podia escrever sobre tudo isso e sobre muito mais, mas não o farei por agora. É a trégua do Natal e Ano novo. Voltarei ao contacto dos leitores a 15 de Janeiro.
Bom Natal. Bom ano novo. Boa saúde. Sobretudo boa saúde, que os tempos estão perigosos. O cinema municipal pode ser uma tentação fatal. Proteja-se e proteja os outros. Use sempre máscara fora de casa.
António Rebelo
Sem perturbar as tréguas, não sei se merecidas, mas sou mais otimista em relação às limitações no cinema, face à COVID.
Na realidade já temos de nos limitar com todo o tipo de restrições, muitas das quais sem lógica nenhuma. Dificilmente podemos recusar uma abertura oferecida pelo regime, seja em que setor for. Se não proibiram idas ao cinema, vamos ao cinema. Andamos assim, só fazemos o que nos deixam.
Com a separação de lugares, assentos desinfetados e impedimento de consumos alimentares, talvez não seja tão perigoso assim.
O problema do cinema comercial é outro: o da sua sustentabilidade financeira. Se não acreditava nisso antes da pandemia, agora acredito menos. Vamos a ver se se aguentam.
Boas Festas. As tropicais são de fazer inveja.
Estimado conterrâneo Fernando Caldas Vieira:
Julgo ser conhecido aquele dito popular, segundo o qual o agricultor vê melhor a sua horta ao longe. Pois o mesmo aconteceu comigo neste assunto do cinema. Olhando o Atlântico e além, a partir de uma esplanada do longo e amplo calçadão da beira-mar, a sete mil kms daí, vi a Europa toda “do Atlântico aos Urais”, como disse De Gaulle. E tive presente o que consta da informação internacional: cinemas, teatros, bares e discotecas totalmente encerrados em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda. E toda aquela gente é bem conhecida pela sua tendência para a cultura, o divertimento, a extroversão.
Sendo a situação aquilo que é, perante a discordante iniciativa tomarense, de reabrir em plena pandemia o que até agora estava encerrado, dei por mim a pensar que volvemos à época do Botas de Santa Comba, quando ele proclamava, ante as votações adversas na ONU, que “estamos orgulhosamente sós”. Agora em Tomar, também “estamos orgulhosamente sós”, no que concerne a cinema e outra cultura de encher o olho. Será sensato?
Bom natal. Bom ano. Boa saúde, apesar de tudo.
Estimado conterrâneo Fernando Caldas Vieira:
Resolvi dividir a minha resposta em dois. Para não cansar demasiado os leitores, que sei gostarem pouco ou nada de textos longos. Vamos então à obra, abordando os dois pontos ainda por responder -a sustentabilidade financeira do cine-teatro e as festas tropicais.
Sabendo desde já que me vão apoda, uma vez mais, de refilão crónico, é meu entendimento que o convénio celebrado entre a autarquia e uma empresa privada para que haja cinema comercial em Tomar, não tem qualquer viabilidade. Nunca será solvente. Acabará assim que a câmara deixar de cobrir o défice e de assim assegurar o lucro da empresa privada com dinheiro de todos nós.
Em que me baseio para chegar a esta conclusão? Nos resultados de bilheteira conseguidos pelo Cineclube de Tomar. Mesmo com bilhetes a 2 e 3 euros, raramente conseguem mais de 10/20 espectadores por sessão, quando não se ficam por 4/5 espectadores, incluindo o pessoal da bilheteira e da projecção. E os filmes até nem são do pior que há no mercado. De forma que, só não sabe que assim é quem nunca vai às sessões cineclubistas, como é o caso das senhoras e senhores autarcas, que não gostam de misturar-se com o povo. Salvo durante as campanhas eleitorais e nos eventos que organizam.
Sobre “As (festas) tropicais são de fazer inveja”, de que o meu amigo fala, este ano estamos mal. Embora o Brasil não esteja em confinamento, os governadores dos estados da costa já interditaram o fogo de artíficio, as festas, e até os ajuntamentos populares nas praias, que são usuais por aqui. E têm até uma dimensão religiosa importante, pois os fiéis do condomblé vão para os areais vestidos de branco, homenagear o deus Yemanjá.
A semana passada o governador do estado do Ceará (6,5 milhões de habitantes, dos quais 2,5 milhões em Fortaleza, 5ª cidade brasileira em termos de população), publicou um diploma avisando que usará de todos os meios ao dispor do governo para dispersar ajuntamentos nas praias. E já está a cumprir. Ontem durante a caminhada diária contei 7 polícias militares de moto (embora já sem a espingarda automática na mão do pendura, como era usual), 4 todo o terreno, cada um com três polícias militares, e 6 cavalos da polícia militar a cavalo. Tudo isto em pouco mais de 4 kms de calçadão da beira-mar, que eu não fui até ao final, no Mucuripe. Fiquei-me pelo Meireles. (Ver no googlemaps.pt a planta de Fortaleza)
Mas não chateiam os caminheiros, nem os vendedores ambulantes, que na verdade são fixos. Limitam-se a dispersar ajuntamentos ilegais ao ar livre.
Enquanto isto, aí em Tomar procuram encafuar gente num espaço amplo mas fechado, com ar condicionado, ainda por cima.
António Rebelo, os filmes do cineclube de Tomar não são cinema comercial, se a empresa projectar aquilo vai á falência, de certeza.
Não me recordo de ter escrito algures que os filmes do cineclube de Tomar são cinema comercial. O que disse é que, tendo em conta a usual assistência muito reduzida, mesmo de cinéfilos e a preço mínimo, a empresa agora a explorar aquela casa não será viável. Só não irá à falência porque o contrato celebrado com a autarquia já prevê essa hipótese. Quando a receita de bilheteira não der para os gastos + lucro, a câmara paga a diferença. Conforme acontece em qualquer empresa pública. Ou seja, doravante em Tomar, pelo menos até Outubro 2021, o cinema comercial também é subsidiado, como um bem de utilidade pública. Exactamente como acontecia nos países comunistas, antes da derrocada geral a leste.
Para bom entendedor…