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Política local: aviso à navegação laranja

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É corrente dizer-se que somos um povo de marinheiros, para justificar seja o que for e o seu oposto. Sucede, contudo, que não somos descendentes dos navegadores, mas sim dos que cá ficaram. Quase sempre por falta de coragem para embarcarem. Donde a aversão mal camuflada dos tomarenses para com os conterrâneos viajados que, sabendo outras coisas, (o tal saber de experiência feito), pensam de outra forma. Refiro-me a todos aqueles que realmente já navegaram bastante. Tanto em sentido próprio como figurado.

Mas o passado mostra que, havendo opção, os partidos locais preferem sempre um tomarense simplório convencional, a outro tomarense mais sabedor e desembaraçado, porque parcialmente educado fora do rebanho nabantino. Por isso nunca mais saímos da cepa torta. Somos assim uma espécie de equipa de futebol que se recusa a alinhar com jogadores capazes de melhorar o plantel… porque destoam.

O título desta peça refere-se ao comportamento dos eleitos e outros quadros do PSD nabantino. Até agora, conforme está à vista de todos, têm-se comportado mais como aliados objectivos do PS, do que como oposição. Dir-se-ia que estão convencidos de que andando com a maioria socialista nas palminhas, o poder acabará por lhes vir cair no colo. Tanto em Lisboa como em Tomar. Não é por isso de estranhar que os eleitores social-democratas se sintam enganados, e pensem migrar para outras siglas, ou para a abstenção.

O panorama é mesmo desolador. Em 2013, logo a seguir aos desaires e outras infelicidades de António Paiva e sucessores, o PSD perdeu as autárquicas para o PS pela diferença mínima. Apenas menos 281 votos. Dois anos mais tarde, nas legislativas de 2015, conseguiu até uma brilhante recuperação, ultrapassando os socialistas, ao obter uma vantagem de 1.322 votos. Foi porém sol de pouca dura.

Nas autárquicas de 2017 voltaram a perder, e desta vez por uma diferença maior. O PS conseguiu mais 1.155 votos. Uma habilidade de Anabela Freitas, (que antes conseguira um acordo com os IpT e incorporou na sua lista, em 4º lugar, o putativo cabeça de lista escolhido por Pedro Marques), bem como o prematuro e trágico desaparecimento de Luís Boavida, que chegou a encabeçar a lista laranja, assim como o facto de José Delgado ser um candidato de recurso, por ter sido antes 2º da lista de Boavida, tudo isso serviu para justificar a pesada derrota.

Infelizmente, a realidade posterior veio provar que afinal houve outras causas, além das apontadas, para a derrota laranja de 2017 em Tomar. Contrastando com a vitória laranja, ao alcançar mais 1.322 votos que o PS nas legislativas de 2015, 2019 foi um desastre grave. Em Tomar o PSD teve menos 2.109 votos que os socialistas. Porquê? Ainda o desaparecimento de Boavida? Uma boa prestação do PS?

No meu entender nada disso. Apenas o inegável apagamento dos dirigentes, vereadores e deputados municipais PSD, que mais parecem ajudantes dos socialistas do que membros da oposição. O que leva os eleitores social-democratas a questionarem-se: Para que serviu afinal o meu voto? Para facilitar a vida aos socialistas?

A presente conjuntura é muito complicada, no país e sobretudo em Tomar, que já estava em decadência bem antes da crise do covid19. Não é tanto assim? Pois aqui vai um exemplo prático. É ponto assente que o PCP é um partido de protesto, cuja votação aumenta consoante os locais e as crises. Tal como acontece com o Bloco de Esquerda. De acordo? Pois nas autárquicas de 2017, no final do primeiro mandato de Anabela Freitas, o PCP obteve mais votos em Tomar (1.548, 7,81%) do que em Leiria (1.488, 2,40%), cujo eleitorado (113.592) é quase quatro vezes superior ao nabantino (34.814). E os resultados do BE não diferem muito. 1.194 (6,02%) votos em Tomar, 1.689 (2.72%) em Leiria. (Caso haja dúvidas, estes resultados eleitorais podem ser confirmados aqui.

Em tão triste e preocupante contexto, parece ser opinião cada vez mais partilhada no burgo que, combalida pelo seu longo rol de asneiras de toda a ordem, esta câmara PS já está vencida e sem argumentos. Só falta mesmo encontrar quem a queira derrotar.

O problema é que entretanto o PSD local, com dois candidatos à presidência do partido que valem o que valem, sem tirar nem pôr, vai protelando a eleição interna, aguardando ninguém sabe bem o quê. Tarda a clarificação dos laranjas. Falta-lhes um líder, uma equipa, um projecto robusto e mobilizador para Tomar. E quem o saiba elaborar, claro está.

Os tomarenses que gostam mesmo da sua terra e são realistas, continuam a aguardar com alguma esperança. Sabem bem que, desde 1975, em Tomar ou ganha o PS ou o PSD. (A aventura IpT durou 12 anos, acabando por naufragar num mau acordo para salvar a face do líder). Uma vez que o PS local aparenta estar gasto…

Mas convém não abusar demasiado da sorte, e saber arrancar a tempo.

                                                     Margarida Magalhães

 

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3 comentários

  1. A Menina Margarida é uma Cínica. Os cínicos (Cinismo) representaram uma escola filosófica moral na era helénica (2 500/2400 a.n.e.) – cínico, kinos, significava cachorro. O Mestre dessa filosofia, Diógenes de Sinope, o Cínico, comparava a vida de um cínico a um rato, que anda sempre daqui para ali, sem casa, sem objetivos, terá vivido num grande barril, e deambulava pelas ruas com uma lamparina, durante o dia, â procura de um homem honesto. É o que vossemecê me parece, na busca de uma alma pura para governar a nossa terra – Tomar. Pelos vistos, a sua esperança está em encontrá-lo no PSD. Pode ser que encontre. Um ex-presidente deste partido identificou no seu interior uma ave rara, que lançou na Àgora – CHEGA de palavras. Passe muito bem, menina.

    1. É um chavão bem conhecido: Os factos são o que são, a opinião é livre. Por conseguinte, o sr. Cantoneiro pode pensar e escrever aquilo que bem entender, na paz do Senhor. Não pode é confundir factos com opiniões, conquanto estas também possam ser consideradas factos, dependendo das circunstâncias. Tão pouco atribuir-me intenções que não foram nem são as minhas.
      Onde foi o sr. buscar matéria para me apelidar de cínica? Que frase ou frases lhe indicaram que ando “na busca de uma alma pura para governar”? O que o leva a confundir o texto que subscrevo com a minha alegada esperança de encontrar essa candidatura no PSD? Alertar para a necessidade de clarificação a tempo e a horas é apoiar um partido?
      O CHEGA aparece no seu comentário a que título? São todos porventura de extrema-direita no PSD?
      Águas passadas não movem moinhos, sr. Cantoneiro. É simultaneamente prematuro e exagerado condenar algo que ainda não aconteceu, nem se sabe se irá acontecer.
      Sempre passei bem, cavalheiro. Mesmo depois de ler comentários despropositados como este seu. Reconheço a todos e a cada um o direito de dizerem as barbaridades que entenderem, sem me encrespar. Sem stress, como se diz agora.
      Aproveito, ainda assim, para louvar a sua evidente erudição histórica. O sr. deve se ter visto grego para absorver tanta coisa. Louvado seja!
      Venham mais comentários, sr. Cantoneiro, que a leitura é agradável. Mas cuidado com o coração. A tensão alta não ajuda nada. E se o sr. por acaso ainda fuma, pior é.

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