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Novo Aeroporto ou Novo “Aerolisbon”? (Parte 1)

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Em 2023, o relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) para a escolha da localização do novo aeroporto descolou, o governo comprou o bilhete, mas há problemas com o local de aterragem…

Um aeroporto, como qualquer grande infraestrutura, tem premissas para a sua localização
devido às dimensões e impactos em vários factores. Segundo o relatório da CTI, o campo de tiro
de Samora Correia em Benavente -não, pasmem-se, não é em Alcochete- apresenta-se como o
melhor local para o tão velhinho “novo aeroporto”. Perdão pelo lapso… Novo “Aerolisbon”…
Recentemente e de forma abrupta o governo de Montenegro anunciou Alcochete como a
localização seleccionada para o Aerolisbon, talvez por influência do seu Ministro da Educação
Fernando Alexandre que foi elemento integrante da CTI, digo “abrupta”, porque PSD até
incentivou o PS a optar pelo Montijo tal como defendia no passado, votando a seu lado a alteração
à lei do veto autárquico, que permitia à autarquia do Montijo e dos montijenses o chumbo do
projecto. Provando que afinal se legisla convenientemente e mal para casos específicos. Existem
razões para a pressa, mas comecemos pelas contradições da CTI…

Lisboa assiste ao esvaziamento da sua essência por opções políticas que favorecem a
dependência do turismo de massas de baixo valor acrescentado, e não as que servem Portugal e
as necessidades dos seus habitantes e empresas. Estas opções conjugadas com a falta de um
parque habitacional público como o austríaco, que responde à necessidade dos cidadãos, equilibra
preços de mercado e evita a especulação imobiliária, continuam a elevar o custo das habitações.
Os subúrbios da capital onde se encontram já boa parte dos lisboetas deslocados não são excepção,
e com o novo Aerolisbon a bater literalmente às suas portas pelo ruído aéreo, levará a que em
breve se mudem novamente.

O Aerolisbon no campo de tiro não servirá as pessoas que residem na capital e arredores, servirá
o interesse nacional? Não. Não servirá, porque não é uma localização que descentralize e
contribua para a coesão territorial. Auxilio-me de palavras da própria Rosário Partidário, líder da
CTI, em entrevistas, para explicar as contradições entre o que diz e as conclusões da CTI nos
diversos factores materiais e imateriais que relegaram a opção de Santarém a um segundo lugar e
que foi uma localização estudada apenas porque “sendo proposta teve mesmo de ser avaliada por
formalidade.”. Subentendendo-se que nunca foi considerada a sério pela CTI.

Pelo relatório, o campo de tiro é a opção mais próxima de Lisboa, os terrenos são públicos e
interfere menos com o espaço aeronáutico militar, sendo que ambas têm impacto ambiental.
Todavia, existem vários factores importantíssimos que não foram tidos em conta no relatório e
que influenciam em muito a localização escolhida. Sem desmerecer o relatório, exemplo em
Portugal de que especialistas em diversas áreas podem trabalhar juntos, com participação cidadã
e em pouco tempo apresentarem resultados. A minha opinião não é técnica é somente política e
politicamente falando o relatório deveria ter ido mais longe, ficou a meio caminho na avaliação
dos factores e aterrou de emergência. Talvez se não tivesse tratado algumas propostas apenas
como mera “formalidade”…

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Vejamos factores entre o primeiro lugar, o campo de tiro, e o preterido Santarém:
1- Custos | Não foram contabilizados no relatório da CTI os custos aos contribuintes da terceira
travessia sobre o Tejo, bem como os do novo terreno para um campo de tiro (com especificidades
territoriais ainda maiores do que um aeroporto), desde logo maior em área, portanto mais caro do que os terrenos privados da opção Santarém, além de que o seu custo ficará totalmente ao encargo do Estado e não da ANA como aconteceria com os terrenos ribatejanos para o aeroporto.;

2- Defesa | Alguns falam em Mértola para o novo campo de tiro, mas responde esta localização
e as suas características às necessidades militares? Se o Estado não arranjar um novo terreno
coloca em causa a defesa territorial e o compromisso de Portugal para com a NATO e os seus
aliados, queremos que tal aconteça em tempos tão conturbados militarmente como os actuais?
Podemos ainda questionar, se os custos de procura e preparação de um novo campo de tiro foram
contabilizados e se esse tempo não compromete os prazos do aeroporto no campo de tiro, ou
estará a CTI a não ter em consideração de que a construção do novo aeroporto só poderá ocorrer
após termos um novo campo para as forças militares?;

3- Descentralização | Actualmente e tendo em conta os transportes públicos como meio
privilegiado utilizado pelos turistas, não o transporte privado individual, o tempo de distância do
campo de tiro ao centro de Lisboa é de sensivelmente 1h15m, exactamente o mesmo tempo de
distância entre Santarém e o centro da capital. Tal como Rosário Partidário disse em entrevista à
rádio Renascença e contradizendo o argumento do relatório da CTI sobre o campo de tiro ser a
opção mais próxima da capital, “A distância é relativa… o que importa é o tempo de distância.”,
e aqui temos duas grandes opções, ou a construção da terceira travessia sobre o Tejo totalmente
paga pelos portugueses, ou uma alteração ao traçado da linha de Alta Velocidade junto a Santarém
para ter em conta a localização do aeroporto nesta opção, relembrando que a construção desta
linha irá ocorrer de qualquer forma, sendo grande parte dos custos financiados por fundos
europeus, poupando os contribuintes nacionais.;

O artigo de opinião continua na segunda parte.

Ricardo Martins Antunes, membro do partido Volt Portugal.
A opinião do autor não vincula a posição do partido Volt Portugal.
O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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2 comentários

  1. Todo o “corredor” da margem direita do Tejo,
    de Santarém até Lisboa, está saturado. Veja-se o problema da passagem da AV em Vila Franca Xira. Só a margem esquerda tem espaços livres. construir nova ponte é inevitável. Querer vir para norte do distrito é afastar (sem razão, a não ser ser uma suposta coesão territorial) a infraestrutura do centro populacional.

  2. Não tem cabimento nenhum este artigo, fazer um artigo do aeroporto em cada quintal?
    1 – Ficaria bastante mais caro aos contribuintes a solução em Santarém. Imagine quantos eixos a serem construídos e ampliados? E o custo? Já fez os cálculos da Engenharia e Desapropriação dos terrenos + casas de privados? E a capacidade para ampliação a 4 pistas para afluência de Milhões de pessoas que vão sobretudo orientados para a Região METROPOLITANA de Lisboa, em virtude de ter a maior quantidade populacional residente em Portugal (dados nos Censos), da população com maior poder de compra (dados dos Censos INE), da maior quantidade de empresas em Portugal (dados do INE), da maior quantidade de monumentos e atividades culturais a serem visitados por estrangeiros (dados do INE). Vamos mudar o Sporting, o Benfica, etc para Santarém e tudo o que é estrangeiro vai começar a ir a Santarém ver os jogos. Vamos mudar as Sedes das empresas da Area Metropolitana de Lisboa para Santarém e tudo o que é empresa estrangeira vai começar a ir lá, só porque sim. O Rock in Rio Febras Santarém também muda e o Parque das Nações, Jerónimos, Torre de Belém, Palácio e Castelos de Sintra, Mafra, todos os Museus Nacionais, Panteão, Ministérios Nacionais, Catedrais, Sé, etc.. os pastéis de Belém tudo para Santarém.
    Agora incluirá os custos ambientais e custos de transportes que teriam de existir. E quais os custos da capacidade hoteleira sobretudo das pessoas que vêm dos voos intercontinentais (mais de 10 horas a viajar dentro de um avião e quer descansar rapidamente). Em Lisboa quantos hotéis existem? E já estão feitos? Faça por favor as contas nesse “pacote global de problemas e soluções” e coloque tudo nessa mesma balança. Saberá certamente calcular o impacto do transporte para Milhões de pessoas que têm de ir obrigatoriamente a Lisboa e a sua disponibilidade de viajar em carro, metro, comboio, comprar bilhetes a preços X ou Y, esperar X minutos pelo transporte A, B ou C, certo?
    A terceira travessia da AML no Tejo já se fala há bastantes anos e nem se sabia onde ficaria localizado o novo aeroporto.
    2 – Estará a Defesa nacional mesmo em causa com a deslocalização de um CAMPO de TREINO? Não haverá mais território de Norte a Sul com capacidade de albergar essas instalações? É assim tão urgente ter a mudança como a água para beber? E se não houver capacidade em Portugal, há em Espanha? Há no resto da Nato?
    3 – Santarém não é Lisboa. As empresas e Municipio de Santarém recebe fundos nacionais e comunitários próprios por ser diferente da “Grande Lisboa”. Vamos então fazer “petição nacional” para mudar Santarém para a AML, pois está classificada na NUT III “Lezíria do Tejo” e ter as mesmas restrições da Grande Lisboa, pois o que se quer é um aeroporto da Área Metropolitana de Lisboa.
    Descentralização é um mito. As pessoas vão para onde querem, onde se sentem bem, onde têm amigos ou familiares próximos, e vão para viver e ganhar dinheiro.
    Descentralizar um Aeroporto de uma capital para “Curral de Moinas” ou “Freixo de Espada à Cinta”, só porque sim? É moda, é bonito, é cool? Qual é o custo disso? Porque é que não abrem hipermercados nas aldeias? Porque é que a fibra-óptica nem está em todo o lado? Vamos decidir meter casinhas em todo o lado e ter transporte público eficiente e barato? 1 ou 4 habitantes por quilometro quadrado e fica tudo feliz? É esse o país das maravilhas eficiente descentralizado.
    Fale de descentralização às empresas privadas e eles cortam logo as medidas. Quantos transportes existem hoje para as Vilas e Aldeias deste nosso Portugal? Quantas Caixas Multibanco existem nesta onda de descentralização? Quantos PSP’s e GNR’s existem ai Espalhados pelo país? Quantos hospitais estão abertos, há gente que nem acesso a saúde tem. Tribunais? CTT’s?
    Tudo por causa da descentralização. Então e vamos obrigar a todo o lado a ter tudo, quem paga? quem paga? Aumentem os impostos? aumentem idade da reforma? Boa gestão.

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