Opinião

Não há omeletes sem ovos

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Viver no equilíbrio foi e é, desde sempre, uma tarefa difícil ou quase impossível para o Ser Humano. Essa dificuldade reflete-se em vários setores primordiais para o desenvolvimento de um país e Portugal não é exceção, sobretudo na área da Educação.

Desde 1974, as Políticas em Educação seguiram o confiante caminho da democratização. Um período onde se massificou a escola, chegando a todos os lugares e pessoas. Milhares de crianças passaram a ter mais oportunidades, com campo aberto para dar andamento aos seus potenciais talentos e aptidões.

Para acompanhar a democratização e os mecanismos inerentes à Educação e ao Ensino, num esforço louvado, conciliou-se simultaneamente a construção de escolas, modificação de currículos, bem como o recrutamento de professores e estabeleceram-se parcerias com outros profissionais do ensino.

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Nos locais mais recônditos do interior esquecido, em cada cidade ou vila, nasceu, ainda que insuficiente, uma escola secundária, catalisadora de uma nova ordem social e de uma cidadania mais robusta e promotora de ações efetivas. A volúpia foi de tal forma sedenta que, em pouco tempo, até as escolas de ensino superior chegaram a muitos pontos do país. Efetivamente, foram criadas as condições para só ficarem para trás os que não queriam acompanhar.

Será que este esforço para melhorar a educação de um país se manteve até aos dias de hoje? Segundo dados do INE e Eurostat, comparativamente com os restantes países da UE, não.

Lembro que, o ainda primeiro-ministro em funções, em setembro de 2017, de visita à Escola Básica e Secundária de Padrão da Légua, Matosinhos, veio a terreiro dizer, que o investimento na Educação era “absolutamente essencial para podermos ter um País que não se envergonhe”. Todavia, no ano seguinte, Portugal acabaria por registar o rácio da despesa pública em educação/PIB mais reduzido desde que há registos oficiais. Efetivamente, a realidade dos números não casa com o discurso político.

A análise das últimas duas décadas, relativamente à evolução da execução orçamental dos gastos públicos com a Educação, dá-nos algumas pistas que ajudam a desenhar um cenário de desinvestimento.

Segundo os dados mais recentes, em 2020 o Estado português gastou em Educação 7 850,1 milhões de euros, um investimento maior face a 2019, mas ténue e explicado

pelas evidentes circunstâncias do momento. Mas, em termos absolutos, os estudos apontam para um claro desinvestimento ao longo dos últimos oito anos de governação socialista (de 4,2% para 3,5% do PIB).

Se analisarmos a situação na ótica do desempenho escolar dos nossos alunos, também podemos retirar algumas ilações. O Programme for International Student Assessment (PISA), em 2015, refere que Portugal registou uma evolução no desempenho crescente em todas as áreas. Contudo, em 2023, a mesma entidade registou uma vertiginosa queda em todas as áreas.

Estes resultados vêm comprovar o claro desinvestimento em matéria de educação e parecem ser um sinal evidente de que Portugal pode ter invertido o trajeto educativo apontado a partir 1974.

Às portas de se comemorar os 50 anos da nossa democracia, o próximo governo desta nação deverá perceber que a EDUCAÇÃO é o pilar fundamental de qualquer democracia. Sem ela, não teremos cidadãos conscientes, profissionais competentes, bons serviços, economia robusta e tudo o que daí advém.

Naturalmente que à escola compete garantir aprendizagens e valores que se transformem em conhecimento consolidado. Todavia, cabe ao governo o investimento com base numa estratégia credível, avaliando os resultados, interpretando-os, contextualizando-os e comparando-os com as políticas positivas de outros países. Se esse estudo não for feito, continuaremos eternamente a desenvolver políticas educativas com base no “achismo e no idealismo”, entrando numa espiral de “monta e desmonta” sem termo. Não se pode, de maneira nenhuma, adotar políticas educativas que “empurrem com a barriga” os problemas e hipotequem o futuro de um país e de uma sociedade que se deseja com altos níveis de literacia e bem preparada.

Vários são os fatores que têm vindo a ser considerados como fundamentais para a derrapagem geral dos últimos resultados. Mas o que é que falhou nos últimos anos?

Apesar das evidências apontarem para grandes fragilidades no sistema educativo, foi em 2020, com a chamada crise pandémica, que mais se acentuaram e que nem o Plano de Recuperação de Aprendizagens e os seus projetos associados, mais as suas sucessivas renovações conseguiram mitigá-las. É com a análise dos resultados deste período, que se percebe o que é que verdadeiramente falhou.

Durante esse período conturbado, no meu entender, os planos e as estratégias avulsas adotadas falharam em três pontos: em primeiro lugar, partiu-se do pressuposto errado, quando se “achou” que os défices de aprendizagem eram, apenas e só, consequência da pandemia (as escolas, já antes da pandemia, estavam a esgotar o motor por falta de uma manutenção a médio e longo prazo); depois, não foram dadas às escolas as ferramentas necessárias, principalmente no que respeita às horas de crédito horário, para a concretização dos respetivos planos; por fim, uma falha diagnosticada por todos nós, que se vem arrastando ao longo dos últimos anos, com grande impacto nas aprendizagens dos nossos alunos é a falta de professores nas escolas.

De acordo com os últimos dados, o envelhecimento da classe fará com que 30.000 professores abandonem o sistema de ensino até 2030. Já diz o ditado, “não há omeletes sem ovos”, neste caso, “não há escola sem professores”. Estes números traduzem-nos a necessidade de se atuar urgentemente para inverter esta situação.

Não só é pertinente, como é inadiável, uma estratégia nacional que recupere verdadeiramente a essência da escola, reforce e transporte a importância de uma educação como pilar de uma nação. A escola não pretende milagres, mas sim ações concretas e pensadas.

Bem sabemos que há falta de professores e esse é um dos problemas de base. Gradualmente tem-se assistido a uma desprofissionalização da carreira, ao contrário do que deveria acontecer, que seria uma maior atração pela profissão. Mas como podemos atrair profissionais a uma carreira tão descredibilizada?

Facilmente se pode concluir que só com políticas adequadas à realidade do século XXI, salários justos, com perspetiva de progressão na carreira e com uma cultura de valorização social da profissão, se pode resolver a crise sistémica na educação.

Neste momento, é cada vez mais difícil atrair e reter os bons professores, bem como, encaminhar jovens com talento e predisposição para escolherem uma profissão que anda com a casa às costas e deixa na estrada grande parte do salário.

Sou Professor desde 2007, há quase duas décadas e com experiência na educação em dois contextos de ensino: o Privado e o Público. Contudo, não gosto de apelidar a escola de pública ou privada, escola é escola e é nela que devemos focar a nossas energias sem distinção. Ao longo destes anos, senti a escola muito flutuante, como uma instituição que vai sobrevivendo na esperança de dias melhores. Mas, os últimos oito anos foram de desgaste atroz, colocando a nu todas as suas carências e fragilidades. Aqui a governação Socialista e aliados falharam unilateralmente.

Dignificar a profissão deve ser a principal medida na educação, porém certo de que ficar por aqui seria muito pouco; existem outras medidas urgentes que são um fortíssimo sinal de que vale a pena acreditar na educação como motor do desenvolvimento de um país. Assim, sendo a Educação “absolutamente essencial”, é tempo de verdadeiramente ser uma prioridade na política nacional.

David Cascaes
Deputado Municipal eleito pelo PSD

Vogal Comissão Política do PSD

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