A candidatura dos Tabuleiros a Património mundial
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Tejo e Tabuleiros a Património Mundial?
Na base do por agora hipotético dossier da eventual candidatura do Tejo a património mundial, (ler crónica anterior) parece estar o processo em curso (???) da candidatura dos Tabuleiros ao mesmo galardão, mas imaterial. Património Imaterial da Humanidade. Confiado, não se sabe bem porquê, pela actual maioria camarária, no primeiro semestre de 2019, a gente que não é tomarense, nem antes conhecia Tomar, já custou perto de 100 mil euros. E por enquanto, passado mais de um ano e meio, o resultado ainda não é do conhecimento dos nabantinos. Estarão a aguardar a campanha eleitoral, para então anunciar com estrondo que a festa tomarense já foi inscrita na lista do património nacional, a parte mais fácil da candidatura? É bem possível.
Em qualquer caso, paga e cala-te, parece ser um dos mandamentos locais, adoptado pela actual maioria socialista. E os tomarenses parecem gostar, a julgar pelos resultados eleitorais anteriores.
Ao contrário do rio Tejo, simples maravilha da natureza, como tantas outras, os tabuleiros são uma realização dos tomarenses. São portanto e de facto obra humana, logo património da humanidade. Será isso suficiente para a obtenção do almejado galardão “onusiano”? Tenho as minhas dúvidas.
Como bem escreveu o saudoso tomarense Fernando Nini Ferreira, “…os tomarenses vêem os tabuleiros com outros olhos, de outro modo”. Ainda assim, resulta evidente para qualquer observador atento, que se trata de uma manifestação ritual do culto católico. Mais precisamente de um cortejo ou procissão de oferendas, que se transformou numa atracção turística, mercê do progresso, entretanto conseguido pelo país, que acabou com a fome endémica. Assim, o que antes era patrocinado por particulares, a título de esmola, com o objectivo único de recolher e depois distribuir gratuitamente pão, carne e vinho à população pobre -genericamente “matar a fome”- passou a ser sobretudo uma manifestação folclórica, financiada pela autarquia, “para turista ver”. Uma atracção turística, com o inconveniente de ser quadrienal, muito dispendiosa e sem retorno imediato, no seu modelo actual.
Ora, tratando-se de uma manifestação do culto católico, mesmo se alterado o seu objectivo principal, natural será que, no respectivo comité da UNESCO, os países de outra tendência religiosa maioritária aí representados, sobretudo os muçulmanos, que são muitos, influentes e avessos a manifestações imagéticas, se oponham a tal candidatura. Como de resto já fizeram em relação a outras, avançando um argumento lateral, mas muito eficaz: Já há demasiados bens classificados na Europa, em detrimento dos outros continentes. Se a isso acrescentarmos a faceta machista da festa, uma vez que só as mulheres carregam os tabuleiros, situação pouco tolerável para os influentes países anglo-saxónicos, as hipóteses de sucesso parecem-me muito reduzidas. Se é que existem. Oxalá me engane.
Aqui ficam estes meus humildes pontos de vista, procurando, na medida do possível, evitar futuros desgostos profundos, tanto aos tomarenses como aos ribatejanos em geral.
O mundo é vasto. Quem nunca, ou quase nunca, sai da gaiola do médio Tejo e do rectângulo luso, quem não acessa regularmente os grandes media internacionais, poucas ou nenhumas hipóteses tem de entender o Mundo e o seu pulsar cosmopolita. Quer se goste ou não, sem mundivivência, pouco se acerta ou consegue.
Cabe de resto recordar aqui que esta situação não é nova. Já nos finais do século XV, o rei D. João II enviou por terra, ao médio oriente e mais além, dois exploradores portugueses, Afonso de Paiva e Pero da Covilhã, com a missão de colherem informações úteis para preparar a subsequente descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Seis séculos mais tarde, parece termos perdido também esse hábito tão útil de preparar adequadamente as coisas. É a política. Só se lembram da viagem de Vasco da Gama. (Quando lembram…) Esquecem tudo o que antes foi feito para a preparar.
Mas que outra coisa esperar, de autarcas em geral eleitos sem sequer apresentarem um programa devidamente estruturado aos eleitores?
Não passam afinal de simples caçadores, mais ou menos felizes no tiro ao voto. E aí, temos de o reconhecer, a presidente tomarense tem-se revelado uma boa atiradora. Ou terá sido só uma atiradora com sorte?
Saberemos em Outubro próximo.
António Rebelo
Homem, eu não lhe chamo de “senhora”!!!!, 270 mil euros de 4 em 4 anos para uma festa que atrai tanta gente não é dinheiro mal gasto, é um bom investimento. Isto se o dinheiro for bem gasto, por exêmplo fazer publicidade ao evento nos sitíos certos. Se a festa dependense dos donativos estávam bem lixados!!! O Turismo é o único sector que a Câmara pode promover e é fundamental que a câmara consiga vender Tomar, daí eu achar muito bem que a presidente, que sabe vender (ao contrário do Eng.Paiva) vá aos programas do Goucha e outros. É muito difícil vender, não é qualquer um que tem capacidade para tal, eu infelizmente não tenho, daí eu nunca ter ído para politíco. O Turismo em Portugal explodiu graças a uma equipa, liderada pelo agora deputado João Cotrim Figueiredo, que andou pelo mundo a vender Portugal. Por isso eu apelo a todos os candidatos ás próximas eleições autárticas que quando apresentarem os programas copiem o que este executivo fez de bem, e promover o concelho foi uma delas, e corrijam o que está mal, talvez tornar a câmara mais eficiente.
Obrigado pelo seu comentário, cidadão Helder Silva. Sem ressentimento.
Considera o Helder que 270 mil euros de 4 em 4 anos “não é dinheiro mal gasto.” “Isto se o dinheiro for bem gasto”, acrescenta o senhor logo a seguir. Sucede que não é bem gasto, cidadão. E que não são só 270 mil a cada quatro anos. Se as minhas fontes não erram, a festa de 2019 custou aos cofres camarários 630 mil euros, mais alcavalas não tidas em conta. (meios de transporte, pessoal, instalações, combustíveis, ocupação da via pública…)
É demasiado, numa cidade cada vez mais raquítica, para uma festa que até podia produzir valor acrescentado, caso fosse organizada em moldes contemporâneos, e usando todos os recursos disponíveis.
Sobre a restante argumentação do seu comentário, limito-me a destacar a incoerência entre a sua adesão às ideias da IL, e os tabuleiros financiados pelo Estado. Em que ficamos afinal? Menos estado, menos impostos, mais sector privado? Ou mais festas, mais impostos e mais estado?
A terminar, uma vez que o Helder está muito satisfeito com a promoção de Tomar feita pela srª presidente, pode-me indicar alguns efeitos positivos visíveis dessa alegada promoção? Blá-blá-blá, conversa da treta, é tudo muito fácil. Mas quanto a factos verificáveis…
Eu quando falei em 270 mil € foi com base no que saiu no Tomar na Rede, não tenho as suas fontes logo não posso opinar. Nós liberais não defendemos o fim do estado, o que queremos é que o mesmo emagreça até que nós nos tornemos competitivos. Nós estamos a empobrecer a olhos vistos, ainda á pouco li que a Polónia, que era até á pouco um país muito mais pobre que nós e só aderiu á UE em 2004, já nos ultrapassou no indíce de paridade de poder de compra, e ninguém faz nada para alterar isto, ninguém quer perder direitos adquiridos nem regalias. Idealmente a festa deveria de se auto-financiar mas com uma economia tão débil como a nossa porventura tal não é possível!!! Se nós fossemos mais competitivos, se os empregadores não tivessem de pagar vinte e tal percento de TSU, mais tantas taxas e taxinhas de certeza que haveria mais emprego, mais economia e se calhar a festa teria sponsors e não necessitaria de ajuda da câmara.
Apenas uma achega em relação à Festa dos tabuleiros: Quando se conhecem eventos similares que facultam bom valor acrescentado, conclui-se que o que está em causa não é e pobreza do país, nem a falta de sponsors, devido à debilidade da máquina económica. O que está em causa é mesmo o próprio modelo organizativo e a evidente casmurrice local, que olha para qualquer mudança como se fosse o fim do mundo. É como você escreve: “ninguém quer perder direitos adquiridos nem regalias”. Mesmo os direitos mais ridículos, como por exemplo exibir-se em pleno cortejo com o barrete ao ombro.
É sempre engraçado ler o que escrevem os liberais portugueses de hoje. Incapazes de criar riqueza através da economia real, defendem menos impostos e menos Estado mas, ao primeiro problema clamam pela ajuda financeira do Estado. Querem total liberdade de iniciativa mas o que se constata é a sua procura de negócios com o Estado (leia-se rendas), como foram as PPP nas estradas ou na saúde. Há ainda a tentativa de entrar na Segurança Social e educação, agora em banho-maria com a dispensa dos srs. passos e portas. No fundo o que os liberais queriam era que os impostos financiassem as suas atividades … privadas. Os desvarios dos bancos privados falam por si.
Não confundir 270 mil € com 12 mil milhões €, são ordens de grandeza completamente diferentes, nós não defendemos a ajuda aos bancos, nem á TAP. 270 mil € num orçamento de 40 cmilhões, o que me parece um exagero para uma cidade como Tomar, não são nada!!!
Vai-me desculpar mais esta observação, cidadão Helder.
Conforme já escrevei num comentário mais acima, a câmara gastou 630 mil euros com a edição 2019 dos Tabuleiros. E gastará muito mais em 2023, se entretanto não houver um reformulação do modelo organizativo. Como você decerto sabe, neste país e nesta terra de chupistas, a inflação é quase nula, mas apesar disso os custos gerais não param de aumentar. Sobretudo quando se trata de verbas do orçamento de Estado. Basta olhar para aquela parvoeira da Várzea grande, que custou mais de 3 milhões de euros, para perceber o que se passa.
Concluindo, a soma de 270 mil euros que você refere, terá sido o contributo camarário para a festa de 2011 ou 2015. De então para cá, tem sido sempre a somar…custos extra.