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Poluição do Nabão: um crime ambiental a aguardar solução

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O assunto é tão complexo que uma pessoa nem sabe bem como abordá-lo. Parece um daqueles temas redondos, sem ponta por onde se lhe pegue. Ainda assim, mãos à obra. Tomar e a maioria dos tomarenses merecem ter quem tente defendê-los.

Ao princípio eram os SMAS, tão bem geridos que, a dada altura, um vereador que presidia ao seu conselho de administração, teve este desabafo: -“Tem que se comprar um carro novo, que eu não estou para continuar a andar de carroça.”

Assim se comprou o “carro novo”, mas os SMAS continuaram numa situação pouco recomendável, com “pessoal a mais e falta de trabalhadores”, “excesso de quadros e carência de competências”.

Que a situação não era nada brilhante, prova-o o facto de nenhuma das associações agregando os maiores municípios da zona, ter querido associar-se com Tomar. É uso dizer-se que, quando a noiva é linda, ou pelo menos rica, nunca faltam pretendentes. Se neste caso faltaram…

E faltaram mesmo, de forma que, pressionada pelas circunstâncias, Anabela Freitas foi praticamente forçada a avançar. Para se poder candidatar aos fundos europeus é imperativo estar associado e Tomar estava isolada.

Foi então que a presidente da câmara e dos SMAS decidiu trocar a independência, não por um prato de lentilhas, mas por uma presidência de prestígio. (Mais uma!) Aceitou associar-se com Ourém, o único município importante ainda disponível, porém com a rede municipal de água concessionada a uma multinacional, até 2027.

Juntaram-se também quatro municípios sobrantes, cada um com menos de 10 mil habitantes, e nasceu a TEJO AMBIENTE. Uma empresa intermunicipal com seis sócios, sede em Ourém, mas Anabela Freitas na presidência. Os cem funcionários dos SMAS puderam entretanto escolher entre a transferência para a nova entidade, ou a permanência nos quadros da câmara de Tomar.

Meses mais tarde, os tomarenses ainda continuam sem saber quantos funcionários foram transferidos, quantos ficaram, ou quais são as novas funções dos que ficaram. Verdade seja dita, a maioria camarária ainda não informou, mas a oposição também ainda não perguntou. Ou estarei mal informado?

Tendo o município criminoso (Ourém) juntado os trapinhos com a autarquia vítima (Tomar), Anabela presidente da câmara apressou-se a acusar Anabela presidente da TEJO AMBIENTE de ser a causadora da grave e repetida poluição do Nabão, através da acanhada ETAR de Seiça.

Acossada pela opinião publicada, uma vez que em Tomar parece não haver opinião pública, como sempre sucede nas sociedades de conformados, Anabela TEJO AMBIENTE queixou-se junto da entidade criminosa, o Município de Ourém. Foi então -e só então- que os tomarenses tiveram direito à versão oficial daquilo que já sabiam há muito tempo.

A poluição do Nabão, que se tornou crónica, resulta afinal da falta de capacidade da ETAR de Ourém, instalada na freguesia da Sabacheira. Uma vez que a rede de colectores de Ourém nunca foi modernizada, os efluentes domésticos e a água da chuva correm pelo mesmo emissário. Não há separação, tal como ainda acontece nalguns sectores do centro histórico de Tomar, por exemplo. Assim, qualquer chuvada mais forte ultrapassa a capacidade dos tanques da ETAR, forçando a descarga para o Nabão sem qualquer tratamento prévio. É disso que se trata e foi isso que justificou o longo silêncio de Anabela Freitas, quando se tratou de revelar os resultados das análises à água do Nabão.

Denunciado assim o crime ambiental, havia duas vias possíveis, no actual contexto político. Uma câmara PS contra uma câmara PSD. Se a entidade criminosa fosse privada, aplicava-se uma coima até 200 mil euros, como está previsto na Lei, e intimava-se a prevaricadora a resolver a situação, sob pena de encerramento compulsivo.

Tratando-se de uma entidade pública, urgia encontrar uma solução no papel, e nada de coimas, para não indispor os eleitos. Apareceu então um administrador da TEJO AMBIENTE a explicar que o problema é muito complexo e oneroso, devido à necessidade de duplicar todos os colectores e instalar novos ramais domésticos. Coisa para 22 milhões de euros, acrescentou. Sem garantia de que o problema fique solucionado na totalidade.

Percebe-se esta prevenção do administrador. A indispensável duplicação dos colectores, implica a indispensável ampliação da ETAR, mas deste detalhe ele não falou. Talvez porque seja bem mais sumarento, digamos assim, duplicar a rede de colectores e ramais, em vez de ampliar a ETAR. O problema é que a duplicação de emissários, bem vistas as coisas, não garante grande coisa. Tal como acontece em Tomar, também na cidade de Ourém são muitos os prédios sem separação de colectores, e alguns até têm quintais. Nestas condições, mesmo com dois emissários urbanos em vez de um, quando chover muito, a ETAR de SEIÇA vai tratar água da chuva, misturada com efluentes domésticos e industriais, até que haja capacidade disponível. Depois derrama para o Nabão, como vem acontecendo.

Tendo em conta o que antecede, era muito mais vantajoso começar por ampliar a ETAR, ou fazer uma nova, e só depois ir efectuando as obras de duplicação de emissários e ramais domésticos. O problema aqui é que ampliar a ETAR fica muito mais barato que duplicar os emissários, e a ganância reinante…

Entretanto os tomarenses vão olhando e cheirando o rio poluído, o que também, valha a verdade, não parece incomodá-los por aí além. Pelo menos quando se pensa naquele adágio “Quem cala consente”.

                                             António Rebelo

 

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3 comentários

  1. Este assunto é, todo ele, quase obsceno.
    Cheira mal.
    E felicito o autor pela clareza com que o expõe.
    Quanto ao comportamento dos eleitos, políticos, dizem, não merece mais comentários.
    Está tudo escrito, e repugna.
    A falta de transparência, a ausência de informação verdadeira e factual, a invenção de sucessivas manobras de diversão para enganar o lorpa do eleitor.
    Ah, e a inexistência de soluções….

  2. No final do dia resume-se o texto a: falta dinheiro para fazer as obras todas necessárias.

    Não há dinheiro para o essencial, manter o rio limpo, mas se o mesmo dinheiro for necessário para uma qualquer ponte sobre o Tejo que custe 1000 milhões de euros, o dinheiro provavelmente aparece à velocidade da luz. E quem diz uma ponte, diz uma linha de alta-velocidade, ou um aeroporto novo num qualquer sítio vulnerável a tudo (terramoto, enchentes do rio, tsunamis…).

  3. O blá-blá-blá continua e alarga-se, porque estamos em ano de autárquicas. Agora é o grupo parlamentar do PS a pedir ao governo para identificar os culpados, aumentar a fiscalização e abrir os cordões à bolsa para financiar soluções ainda por encontrar. Está no blogue da Rádio Hertz, a voz da câmara municipal.
    É um bom argumento para a campanha eleitoral, lá isso é. Mas não resolve nada. Nem agora nem mais tarde. E a intenção também não é essa. É só para iludir os eleitores tomarenses, como já vem sendo costume.

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