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Contestação política: dois pesos e duas medidas

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A situação é bem conhecida, mas convém recapitular, para evitar algum mal entendido. Em Tomar, quase toda a informação jornalística está ao serviço da autarquia, pela força das coisas. É a Câmara que lhes paga, seja para difundir em imagens e som as suas reuniões e as da AM, seja em antecipação de despesas de publicidade. É portanto natural que os ditos órgãos controlados não publiquem nada que possa desagradar à actual maioria. Se a Câmara resolve cortar-lhes as benesses, serão forçados a fechar a porta. Entende-se, portanto. Há trabalhadores que precisam que lhes paguem, para poderem sustentar a família.

Escapam até agora a essa triste situação, O Templário e o Tomar na Rede. No que diz respeito a este, basta ler o recente comunicado do PS-Tomar para constatar que só não matam o administrador José Gaio porque não podem. Estamos na Europa, em pleno século XXI, seria um escândalo e sobretudo até podiam cortar os subsídios.

Neste quadro tão sombrio, em que já me chamaram todos os nomes e me acusaram de “só dizer mal”, de “estar sempre em desacordo” ou de “só fazer crítica destrutiva”, pelo simples facto de eu gostar de escrever e me limitar a dizer aquilo que penso de forma educada, fiquei boquiaberto ao ler a mais recente edição d’O Mirante.

Numa notícia que pode conferir aqui  a nossa presidente, srª dª Anabela Freitas, expõe uma vez mais o imbróglio da poluição do Nabão. Não para informar a população. Apenas para incitar os eleitores tomarenses a apoiarem a inclusão na bazuca europeia de 22 milhões de euros para financiar um plano de resolução quase total da poluição do Nabão. Plano que ninguém conhece de forma detalhada, situação que já nem surpreende, habituados que estamos a planos autárquicos em estado gasoso, que quando concluídos e executados, é o que se vê por aí…

O que deveras me surpreendeu neste caso foi o tom convicto da senhora presidente, a concluir o pedido de colaboração à população: “Façam como quiserem, MAS SOBRETUDO NÃO SE CALEM E REVOLTEM-SE”. Leu bem. “Não se calem e revoltem-se”.

Temos assim mais uma ilustração da velha expressão “dois pesos e duas medidas”. Ou do católico “Que bem prega Frei Tomás (neste caso Freira Anabela). Façam como ele diz. Não olhem para o que ele faz.”

Terei decerto muitos defeitos. Sei por exemplo que sou por vezes demasiado agreste na forma como escrevo. Mas nunca me esqueci nem esqueço que felizmente vivemos em democracia, bem ou mal governados por quem foi livremente eleito. Por isso nunca apelei à revolta. E acho indigno que uma presidente de Câmara, para mais do mesmo partido do governo, possa publicamente incitar à insubordinação.

Está mal, srª presidente da Câmara! Muito mal!

                                                           António Rebelo

 

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7 comentários

  1. A situação descrita da comunicação social só tem tendência para se agravar.
    O episódio mais recente diz respeito à TV:
    “O dia 1 de Março ficou marcado pela abertura da delegação de Tomar da estação televisiva SIC. (…)
    Um projeto empreendedor, que por isso mesmo contou com o apoio do Município de Tomar.”
    Não me deixa descansado.

  2. Trata-se de um exemplo evidente de incoerência ou esquizofrenia política. Não cabe na cabeça de ninguém, minimamente sensato e equilibrado, atacar terceiros quando é criticado, para depois, apertado pelos acontecimentos, incitar à crítica e à revolta. Em que ficamos afinal? Os eleitores devem criticar? Devem revoltar-se? Ou pelo contrário devem limitar-se a acompanhar o rebanho, balindo o menos possível?
    No fim de contas os autarcas do PS são moderados ou extremistas? Têm ideias próprias, ou limitam-se a seguir o que diz o BE, ex-parceiro de coligação? Convém saber, antes das próximas eleições.

  3. Estranho, estranho mesmo, é que o apelo à revolta denuncia uma total incapacidade de ação politica.
    Ninguém ignore que a resolução do envenenamento do nosso rio passas muito mais pela movimentação e influência politica, pelo trabalho nos, e com os Gabinetes, do que pela revolta da População.
    Já lá vai o tempo da carne para canhão.
    Não somos parvos, e não temos vocação para figurantes. Mesmo que pagos.
    Que cada um assuma as suas responsabilidades.

  4. Temos uma nova Maria da Fonte, neste caso uma Maria do esgoto??
    Os tomarenses têm o que merecem, pois a atual equipa ( ?? ) governativa do Município foi eleita com os votinhos esclarecidos dos tomarenses!!
    Não deixa de ser curioso que a notícias do novo carro particular da Presidente provocou um sobressalto e participação de inúmeras pessoas, sobre um assunto que é da esfera privada e que nem devia ser notícia, mas quando falamos de temas de interesse público e que afetam a vida dos tomarenses são meia dúzia de pessoas a comentar!!
    O tema da poluição do Nabão já fede em todos os aspetos.
    A última perola da presidente é pedir a revolta popular!!?? À boa maneira revolucionária??

    Mas se pensarmos um pouco e pegando nas suas palavras o município não tem competência para fazer NADA, pois em primeiro lugar as ditas ETARS ficam noutro concelho , que pelos vistos tem dinheiro para pagar 10001 dormidas em hotéis do concelho e outras “iniciativas ” para a populaça aplaudir mas para assuntos importantes nem comenta.
    Depois a bendita Tejo Ambiente , qual solução milagrosas para sacar dinheiro da Europa e gastar os milhões que justificaram a sua constituição , com o ridículo da sua sede ser exatamente no concelho poluidor de Ourém, não tem nada mais que um esboço de projeto e avisa desde logo que não resolve em definitivo o problema!!

    1. Prezado Zé Caldas:
      De acordo com este seu comentário.
      Permita-me apenas três pequenas correcções: 1 – O Município de Tomar não pode fazer nada, porque: A – Não quer, não lhe convém em termos políticos, tendo em conta os acordos feitos com Ourém; B – Há evidente conflito de interesses entre a presidente Anabela poluidora, via Tejo Ambiente, e Anabela prejudicada porque tomarense que gosta do Nabão e presidente da Câmara de Tomar; C – Tem medo de perder votos.
      2 – Ao contrário do que escreve, pelo menos uma das ETAR , a de Seiça, fica na freguesia da Sabacheira, concelho de Tomar.
      3 – Convém não esquecer que além da poluição proveniente da ETAR de Ourém, há também a que vem de uma suinicultura situada no concelho de Tomar. Durante o Verão, regra geral não chove, e portanto os emissários fluviais de Ourém não podem provocar o transbordamento da ETAR de Seiça, salvo acidente fortuito. Apesar disso, temos tido vários episódios de poluição do rio em pleno verão, com acentuado mau cheiro a indiciar que houve descarga na suinicultura. A câmara está à espera de quê para identificar cabalmente a referida suinicultura, enviar os seus funcionários ao local, e apresentar queixa ao poder poder judicial?
      Infelizmente, há uma acentuada tendência entre os políticos que temos para estarem sempre de bem com Deus e com o diabo, salvo no que concerne aos órgãos de informação. Mas nem sempre isso é possível ou conveniente.

      1. Caro António Rebelo,

        Agradeço as suas retificações certas. No entanto o meu ponto é que somente agora 1 ano depois de criada a Tejo Ambiente a presidente admitiu que a poluição vem maioritariamente das referidas ETARS.
        Também diz que agora a entidade que gere o abastecimento de água, resíduos e saneamento é a Tejo Ambiente e é essa entidade que permitiu a candidatura aos dinheiros europeus.
        Tudo feito por técnicos super competentes, mas que vá-se lá saber por quê não conseguiram os referidos fundos!
        Por isso só resta a revolta popular . liderada quiçá, pela própria para abocanhar os fundos da bazuca!!
        Enquanto isto , não se discute mais nada, pois verdadeiramente o que importa é discutir os esgotos fluviais.
        Bom fim de semana!!

        1. Prezado Zé Caldas:
          Conforme tenciono explicar num futuro texto, a questão da criação da Tejo Ambiente é bem mais complexa do que parece assim à primeira vista. Desde logo porque Ourém concessionou a parte da água, que está sempre ligada aos esgotos, como é lógico, à Be Water, uma multinacional, até 2027. Por conseguinte, tudo indica que o acordo com Tomar, que levou ao desmantelamento dos SMAS, tem em vista unicamente o problema dos esgotos de Ourém. O projecto dos 22 milhões, que afinal ainda ninguém conhece bem, pois nunca foi apresentado ao público para discussão, se calhar nem sequer existe ainda. Será apenas uma ideia. Um mero argumento  eleitoral, para tentar ultrapassar sem demasiados estragos a onda de justificados protestos que por aí vai.
          Há até um bom exemplo, bem próximo de Tomar. Os leirienses, que têm outro peso político, com os seus 110 mil eleitores contra apenas 34 mil em Tomar, andam há 50 anos a lutar contra a poluição do rio Liz, proveniente da ribeira dos Milagres. Situação bem mais grave que a do Nabão, pois envolve mais de 400 suinicultores e obriga com alguma frequência à interdição da praia de Vieira de Leiria, por excesso de coliformes fecais.
          Aqui há uns anos, obtiveram da União Europeia 10 milhões de euros a fundo perdido, para construirem uma ETES – Estação de Tratamento de Efluentes Suinos. Vai-se a ver, não havia nenhum projecto pronto para executar, nem sequer acordo entre a autarquia e os suinicultores para financiar o restante. E os 10 milhões de euros foram devolvidos a Bruxelas.
          Em Tomar e Ourém estou convencido de que não vamos chegar a tanto, porque uns e outros sabem muito bem que os reivindicados 22 milhões nunca virão. É só música para entreter o pessoal votante.
          Oxalá esteja enganado!

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