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“Em busca da arca perdida” na Várzea Grande

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94 anos depois, vai ser retirada a caixa de chumbo onde se encontra o pergaminho da 1ª pedra do monumento aos mortos da Grande Guerra em Tomar.

Foi a 9 de abril de 1926, numa cerimónia com pompa e circunstância (ver foto), que foi colocada a 1ª pedra daquele monumento, que viria a ser inaugurado a 11 de novembro de 1931.

No jornal “O Templário” de 1926 relata-se com pormenor a cerimónia. Na notícia está escrito que, depois de lavrado o auto do lançamento da 1ª pedra, “é encerrado na caixa de chumbo lá fica sepultado na pedra, para ser lido, quem sabe? daqui a alguns milhares de anos…”.

Não foram milhares, mas sim 94 anos. Uma equipa do empreiteiro que está a executar a obra da Várzea Grande, acompanhada por técnicos da câmara e dirigentes da Liga dos Combatentes, está a realizar escavações para encontrar a referida caixa.

Já foi retirada uma grande laje que servia de base ao pedestal da estátua e, com recurso a uma máquina, foi feito um buraco. Não faltará muito para que a caixa seja localizada.

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Lançamento da primeira pedra para a construção do Monumento ao Soldado Desconhecido em Tomar (abril 1926)

No grupo Gabinete de Curiosidades de Tomar, Ccr Carvalhal transcreveu a notícia publicada pelo jornal “O Templário” em 1926 sobre a cerimónia do lançamento da 1ª pedra do monumento:

“Com numerosa assistencia e sem a mínima nota discordante, teve logar no Largo 5 de Outubro a missa campal. Resou-a sua S Ex. Reverendíssima o sr. Bispo de Miliapôr, acolitado pelo Sr Cónego Alves e pelo Prior da Freguesia P.e Manuel da Costa Graça. Imponente era o aspecto da Várzea Grande, onde manchas cinzentas de uniformes, quebravam o matizado das variadas cores dos trajes femeninos a nota negra e sombria alguns smokings a por alma daqueles briosos soldados do 15 de Infantaria, mortos no campo da honra e da glória, por esses bravos que ajudaram a escrever com o seu sangue e Ordem do Grande Quartel General Britânico que dava ao Batalhão de Tomar a, que honra de ocupar a direita das formaturas, para eterno descanço dos que sacrificaram as suas vidas no Altar da Pátria para salvação da civilização latina, se elevou no altar de Deus a hóstia consagrada, símbolo d’Aquele que verteu o seu sangue para salvação da Humanidade.. E as orações dos crentes sinceros se levantaram e Deus, pedindo para aqueles que na terra se cobriram de glória, um lugar no Céu, no Reino da Glória !

A missa particular, simples, da manha, sucedeu o cortejo oficial, imponente, da tarde. Todo o Tomar oficial cumpriu gostosamente a sua obrigação, encorporando–se no cortejo. Era de esperar tratava-se de uma homenagem a porturgezes, a patrícios, que a morte arrebatara no cumprimento estricto dos seus deveres .

E por isso, ás 15 horas, a Praça encontrava-se coalhada de povo, para o que muito contribuiu a decisão do comercio, encerrando as suas portas.

Ás 15 e 20. iniciava-se a marcha. Abria-a uma secção de cavalaria da Guarda Nacional Republicana; atraz a filarmonica Nabantina; seguiam-se os Bombeiros, as escolas primárias, colégio das Missões, alunos do colégio militar, dos pupilos, académicos. câmara, associações de classe, Junta de freguesia, tuna, grupos desportivos, imprensa, correios e telégrafos, repartição de finanças, magistratura, oficialidade da guarnição, etc. etc.; depois, a filarmonica Gualdim Pais, e a fechar, outra secção de cavalaria.

O enorme cortejo desfilou pela Corredoura abaixo, cujas janelas se encontravam engalanadas com riquíssimas colchas de Damasco; rua Everard, rua de Leiria, e Largo Cinco de Outubro, ao som da «Portugueza», tocada pelas duas filarmónicas. Na Várzea encontrava-se formada a Guarnição Militar: um pelotão de infantaria da Guarda Republicana e um grupo de companhias de Infantaria 15, cerca de quinhentos homens, sob o comando do capitão sr. Luiz Antonio Aparicio. Á passagem do sr. General Felisberto Alves Pedrosa, que com todo o seu estado maior se encorporara no cortejo, a força presta as honras devidas em movimentos impecáveis, que impressionam bem toda a gente, enquanto a banda faz ouvir as notas de a «Maria da Fonte.

O sr. Bispo de Miliapor, seguido dos Srs, cônego Sebastião José Alves e Padre Manuel da Costa Graça, chega e encorpora-se no cortejo, ao pé do sr. General Alves Pedrosa.

O cortejo toma posições em torno da escavação onde hão de ser construídos os alicerces do Monumento e, sob um sol abrazador, todos ficam aguardando anciosamente as desesseis horas, enquanto os minutos decorrem morosamente, muito morosamente mesmo. Pela vez primeira talvez, o Portuguezinho valente havia chega do antes da hora…

Nisto, na torre de S. João, soam as 4 badaladas; os sinos dobram; um morteiro sobe ao ar, e rebenta com estampido; as cornetas do 15 tocam a sentido e, durante 2 minutos, o silencio é tetrico, profundo, impressionante. Centenas, talvez milhares de pessoas haviam cessado de falar, como que por encanto.

Soa novo morteiro. A guarnição apresenta armas, a banda faz ouvir os primeiros acordes da Portugueza; os militares fazem a continencia, os civis descobrem-se; era a homenagem oficial áqueles que com o seu sangue, reavivaram as paginas gloriosas da nossa historia O sr. capitão Aparicio, num eloquente discurso, historia aos soldados os antecedentes, causas, e consequentes da guerra, explicando-lhes os motivos porque ali se encontravam reunidos; depois, começou a dita cerimonia.

A primeira pedra, essa pedra historica arrancada do velho castelo de D. Gualdım, nos é posta no seu logar, e o sr. General Alves Pedrosa, como representante do sr. Ministro da Guerra, inibido de comparecer, dá Ihe as pancadas do estilo; depois, como de Presidente da Grande Comissão do Monumento, num vibrante discurso, historia e de Abril – e quem o poderia melhor fazer que S. Ex. que por ele sofreu os horrores do cativeiro?- e o trabalho da Comissão nem sempre compreendido, e ainda menos que coadjuvado por muita gente. Segue-lhe no uso da palavra o sr. dr. Antonio Teixeira, como presidente da Camara Municipal que, num elegante e breve discurso, nos fala do 9 de Abril e dos soldadinhos do 15.

Depois, lavra-se o auto que, encerrado na caixa de chumbo lá fica sepultado na pedra, para ser lido, quem sabe? daqui e alguns milhares de anos…

As creanças das escolas, num gesto comovente passaram ante a escavação, lançando flores sobre a primeira pedra do Monumento, onde quem sabe?, em tempos idos, caíram gotas de sangue, dos primeiros glorificadores de Tomar.

Estava terminada a primeira etape duma ideia que em 1923 aventamos no Sporting, a que deu vulto a boa vontade e entusiasmo do sr. Pereira Nogueira e a que a persistencia, tenacidade, trabalho e canceiras da Comissão Executiva do Monumento, prom-te tornar uma realidade:

A banda do 15 rompe a marcha com a Madelon, de tão gratas recordações a quantos estiveram nas trinchas, e a força, imponente, marcial, a sua bandeira simbolo da Patria coberta com as fitas da Torre e Espada e Valor Militar, desfila em continencia perante a primeira pedra do Monumento, que ha de ser erigido á memoria daqueles que lhe ajudaram a conquistar as honrosas condecorações que ostenta.”

Jornal O Templário

Tomar, 11 de abril de 1926

Sobre a comemoração do 9 de abril

 

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