
Vivemos tempos de contradições.
Está tudo bem, como apregoa o atual governo socialista apadrinhado por comunistas e bloquistas ou as dificuldades continuam a existir e a austeridade ainda se mantém?
Vivemos numa realidade sustentável e com futuro, ou tudo não passa de uma ilusão – conjuntural e eleitoral?
A boleia de uma conjuntura europeia favorável – de crescimento económico – e a política de juros baixos e de compra de dívida do Banco Central Europeu não duram para sempre.
Por mais cortinas de fumo que se possam levantar, a realidade dos factos é incontornável e inegável.
Vamos aos números.
Um défice de 0,5% do PIB em 2018 é um resultado histórico, que não acontecia em Portugal desde há 46 anos.
É bom para a credibilidade e reputação do país e contribui para a diminuição dos juros da dívida pública.
A reposição de rendimentos e a recuperação do valor das pensões significaram um aumento do rendimento disponível para as famílias.
O desemprego diminuiu até aos 6,7%, registado em janeiro último.
Tudo isto à custa de quê?
Sobretudo à custa do desinvestimento que tem levado à degradação dos serviços públicos. Só este ano o investimento público deverá alcançar novamente os níveis de 2015.
Com o aumento dos impostos indiretos, que afetam todos os cidadãos indiscriminadamente, desde a conta do supermercado à bomba de combustível.
Através das tão faladas cativações do Ministro Mário Centeno, com o seu Ministério das Finanças a reter muito dinheiro necessário para serviços, equipamentos e meios humanos.
A saúde, um direito consagrado pela nossa Constituição, é um desses exemplos.
Como dizia Paulo Portas há uns dias, “se um governo liberal fizer cativações na saúde, é um crime contra o estado social; se for um governo de esquerda, é uma proeza das Finanças”.
Falamos em saúde, mas poderíamos falar na educação, nos transportes, na segurança e em tantos outros exemplos.
A propaganda do Governo não corresponde à realidade e não é com inaugurações atrás de inaugurações, por vezes até repetidas, e outras tantas promessas que o futuro fica mais otimista.
Vejamos:
A dívida pública em valores elevadíssimos, entre janeiro e fevereiro deste ano aumentou mais 1,2 mil milhões de euros, para um total de 249 mil milhões – razão de preocupação para as instituições financeiras que consideram o rácio da dívida pública portuguesa desequilibrado.
A carga fiscal atingiu em 2018 um valor record de 35,4% do PIB. Sejamos claros, desde pelo menos 1995 que não pagávamos tantos impostos e contribuições como no ano passado.
Cerca de 86% das empresas não cumpre os prazos de pagamento, o valor mais alto de sempre e transversal a todas as regiões do país e a todos os setores de atividade.
Se por um lado, a poupança das famílias está em 4,7%, a mais baixa dos últimos 23 anos e uma das mais baixas da União Europeia.
Por outro lado, o número de famílias sobre-endividadas não para de aumentar, a DECO recebeu o ano passado mais de 29 mil pedidos de ajuda.
Afinal em que ficamos?
O país está efetivamente melhor, as famílias vivem realmente melhor?
Ou tudo não passa de uma ilusão cor de rosa?
Um filme a que assistimos ainda há bem pouco tempo, quando o PS de José Sócrates nos deixou entregues à Troika e com anos de austeridade pela frente.
Será agora a vez do governo de António Costa?
Sabemos bem que as ilusões se pagam caro e que empurrar os problemas com a barriga nada resolve.
Portugal precisa de reformas urgentes e estruturais, que nos coloquem num caminho de crescimento sustentável.
Portugal precisa de uma política de rigor financeiro, é certo, mas também de investimento público.
Caso contrário, continuaremos à mercê dos ventos vindos de fora, capazes de derrubar o país, arrastando as pessoas e as empresas.
Primeiro Portugal, com espírito de missão, olhando o país como um todo, governando para todos os cidadãos, e não olhando apenas aos nossos grupos políticos ou aos nossos familiares.
Como disse Abraham Lincoln: “podem enganar a todos durante algum tempo, ou a alguns todo o tempo; mas não a todos todo o tempo”.
Tiago Carrão
Vice-Presidente PSD Tomar
Temos então um PSD preocupado com o investimento público, nomeadamente na saúde. Era bom esclarecer se o investimento de que fala o PSD é aquele que é entregue a privados (porque gerem melhor, como diz a cassete), ficando o Estado nas décadas seguintes amarrado a contratos que pagam o investimento e os chorudos lucros, único e justo motor do interesse privado. E não venham com a história do governo de Sócrates porque o método vem detrás com Cavaco e Silva em que até acontece que o ministro da construção da Ponte Vasco da Gama é hoje da administração da empresa que explora a dita ponte (e a ponte 25 de Abril, ofertada pelo mesmo ministro).
Quanto aos melhores salários (na verdade quase nada, a não ser no ordenado mínimo) serem a causa da falta de investimento, coerência há com o ex-candidato a líder do PSD, Luís Montenegro, quando este disse que “os portugueses estão pior mas o País está melhor”. Quando será que muitos no PSD percebem que o País são os portugueses e não uma folha de Excel? Uma folha de Excel ao serviço de interesses obscuros.
Pedro Miguel