Que bem prega Frei Tomás…

Após leitura atenta do escrito Tempo de democracia, de Tiago Carrão, aqui publicado, concluí desanimado que esse tempo não é o meu. Bem sei que Carrão tem um mérito, raro em Tomar: sabe escrever e ousa publicar o que escreve. É louvável e aqui se aplaude.
Infelizmente, sendo certo que, pelo menos na política, os filhos não devem ser responsabilizados pelos erros dos pais, também é sustentável que quem sai aos seus não degenera.
Se bem entendi, o jovem e promissor dirigente social-democrata local, visou com este seu escrito manifestar o seu mal estar face ao estado algo comatoso da nossa imperfeita democracia, juntando-lhe a ideia de que a responsabilidade pela sua degradação é do PS. Pois fez muito bem. E tem alguma razão.
Aquele lamentável incidente recente, em que o primeiro-ministro e líder do PS repetiu o erro de Américo Tomás, em Coimbra, em 1969, recusando dar a palavra aos contestatários, é um erro crasso. Ainda mais condenável quando se tem em conta que, desta vez, na cerimónia interrompida, se homenageava também Alberto Martins, hoje dirigente do PS, mas em 69 lider silenciado da Associação Académica de Coimbra.
Donde se conclui que a nossa democracia está mesmo doente. Cada vez mais doente. Porque, noutro qualquer país da Europa ocidental, uma vez expulsos do palco os contestatários, o orador oficial, neste caso e para mais o também primeiro-ministro, tê-los-ia convidado logo a seguir, a exporem os seus pontos de vista.
Não foi assim e agora o estrago é irreparável, como se verá ou não em Outubro próximo. Nos votos o povo é quem mais ordena, mas não entende tudo.
Outubro próximo, eis o fito de Tiago Carrão, ao tentar assacar a culpa do relativo desastre em que estamos ao PS, e só ao PS. Faz parte das regras da política politiqueira, mas já começa a cansar.
No caso, faz pouco ou nenhum sentido abordar num blogue de âmbito local problemas nacionais, mantendo sobre as questões locais um usual e prudente silêncio. Faz pouco ou nenhum sentido, e mostra mais uma vez que a permanente passividade dos eleitos social-democratas, tanto no executivo como na AM, é uma opção forçada, que denuncia a falta de projeto consequente para o concelho. Tal como ocorre com Rui Rio a nível nacional.
Por tudo isto, senhor Carrão, e muito mais que fica por dizer, faça um favor aos tomarenses. Nesta sua etapa atual, deixe-se de olhar para Lisboa e passe a abordar os grandes e graves problemas locais. De preferência com hipóteses de ultrapassagem.
Caso contrário, os tomarenses, incluindo muitos dos seus companheiros partidários mais evoluídos, vão continuar a pensar “Que bem prega Frei Tomás. Leiam o que ele escreve. Não vejam o que ele faz.” (adaptação livre do conhecido dito popular “Que bem prega Frei Tomás! Oiçam o que ele diz, não olhem para o que ele faz.”
Leitor identificado, que solicitou o anonimato