Opinião

O Mundo em Tensão: entre a Indiferença e o Desassossego

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O mundo de hoje parece mergulhado num estado de tensão permanente. Guerras, crises humanitárias e instabilidade política surgem a cada dia, enquanto a sociedade, anestesiada pelo excesso de informação, reage com uma indiferença assustadora. Do conflito na Ucrânia à tragédia humanitária na Palestina, dos desalojados da tempestade Martim às eleições que já inflamam ânimos e ampliam o ódio, o ser humano parece cada vez mais resignado. No entanto, essa apatia pode ter consequências profundas, inclusive nas eleições autárquicas que se aproximam. Como Fernando Pessoa escreveu, “navegar é preciso, viver não é preciso” – e talvez hoje estejamos navegando à deriva, sem rumo nem destino certo.

Sim, eu sinto o Clima de Tensão e a Indiferença Crescente!

O século XXI trouxe consigo promessas de avanço, mas também um aumento das desigualdades e do sofrimento humano. O conflito na Ucrânia e a crise na Palestina são testemunhos dessa instabilidade. Milhares de pessoas morrem, cidades são destruídas, e milhões de refugiados buscam um lar. Ainda assim, a indignação coletiva parece cada vez mais efêmera. Albert Camus dizia que “a indiferença é a forma mais refinada de destruição”, e é isso que vemos: um mundo em que a empatia se torna luxo e a apatia, regra.

Os desalojados pela tempestade Martim são outra face da mesma moeda. Com as mudanças climáticas e a devastação ambiental, milhares de famílias perdem tudo, mas o ciclo das redes socias segue indiferente. Por isso, coloquei na “pausa” o meu Facebook, cansada e frustrada com os desfiles de vaidades e ciente que, qualquer tragédia de hoje nas redes sociais será esquecida amanhã, substituída por outro evento chocante, mas igualmente passageiro.

Que me perdoem os entendidos na matéria que se segue, no entanto face ao que já ouvi por parte de alguns deputados na TV, leva-me a crer que não vou partilhar aqui nenhuma parvoíce maior do que algumas que temos vindo a ouvir por parte dos que, na teoria, estudaram “Ciências Politicas”. Quero aqui referir, então, que me parece, na minha humilde opinião, que o Impacto Político articula-se com a Cultura da Desgraça.

As eleições que se avizinham, tanto a nível nacional quanto autárquico, já fazem correr tinta, nas redes sociais, revistas e nos jornais. O discurso polarizador cresce, alimentado por narrativas de ódio e ressentimento. Em Portugal, um país marcado pelo “Triste Fado” e pela cultura da “desgraça”, a política reflete esse estado de ânimo. José Saramago alertava que “somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos”, mas até que ponto estamos assumindo a responsabilidade pelas nossas escolhas políticas, quando se fala em abstenção ao voto?

Se esta tendência de ódio e desprezo continuar, se a apatia perante a crise global se manter refletida nas urnas, resultará sempre uma sociedade ainda mais fragmentada. A história ensina que momentos de instabilidade são terreno fértil para o extremismo e o populismo. O desinteresse de hoje pode se tornar a crise de amanhã.

O mundo está em tensão, mas o maior perigo talvez não esteja nos conflitos em si, e sim na forma como nos tornamos espectadores passivos deles. Como escreveu Hannah Arendt, “o mal não é radical, ele é banal” – e a banalização da tragédia é um dos grandes desafios do nosso tempo. Diante de tantos problemas, a única resposta possível é a ação. Não basta lamentar o destino do mundo, é preciso enfrentá-lo com responsabilidade e humanidade.

Em tempos de caos e crise, é comum apontarmos o dedo para onde acreditamos que estão os culpados, onde julgamos que reside o mal. Assim tem sido ao longo de toda a história da humanidade – “o bode expiatório” sempre existiu. Sempre foi mais fácil denegrir, espezinhar, falar mal. O ódio e o mal são inteligentes, astutos e invisíveis. Circulam muita vez sem a “assinatura” de quem o espalha. O ódio é um manto invisível que, sorrateiramente, planeia os seus ataques, apodera-se das nossas entranhas e acaba por pensar por nós. E o que diz o ódio?

“Vou dividir o meu inimigo em pequenos grupos, tornando-o mais fraco. Depois, farei com que se odeiem entre si. E então, será mais fácil derrubá-los a todos!”

E, enquanto gritamos uns com os outros e disparamos ofensas para todos os lados, como se vê na Assembleia da República, mas ainda nas redes sociais, na busca de um culpado, o mal e o ódio ganham terreno, enraizando-se dentro de nós e dominando-nos.

Para pensarmos em plenitude, devemos livrar-nos de rótulos e divisões: ricos ou pobres, doutores ou operários, portadores de deficiência ou não, gays ou héteros, todos fazemos parte da mesma humanidade.

É difícil para mim olhar para o mundo atual e não viver angustiada com o legado que deixamos aos nossos filhos. O seguinte parágrafo é dirigido aos pais e ao maior projeto das suas vidas. Eu acredito que, se desejamos transformar o mundo, devemos começar pelo nosso lar. A responsabilidade pela educação dos filhos é dos pais, enquanto a formação escolar deve ser uma tarefa conjunta entre a escola e a comunidade escolar, com a colaboração constante dos pais, não como “reclamadores constantes”  mas atores ativos no palco da vida dos seus filhos: verificar se fazem os TPC´s (e para isso não necessitam de saber a “matéria”, inteirarem-se do comportamento dos seus educandos, mandá-los para a cama a horas decentes (sem telemóvel) para uma boa noite de sono reparador, muni-los de bons conselhos e recomendações e em cada dia fazer a simples pergunta:

. O que apreendeste hoje?

Em suma, responsabilizar o próprio filho(a), falar para eles como adolescentes que são, e levá-los à envolvência ativa do futuro que só eles poderão criar se permitirem a ajuda dos adultos neste processo complexo de aprendizagem. Num mundo cada vez mais acelerado e fragmentado, é essencial que resgatemos a importância do verdadeiro diálogo. Ao interagirmos com os filhos, que saibamos olhar-lhes nos olhos, conversar com autenticidade e ouvi-los com atenção. Desejo que os jovens votem. Todos eles. Em plena consciência.

Os jovens, frequentemente subestimados, são muito mais inteligentes e perspicazes do que se costuma dizer. No entanto, estão cansados de uma sociedade degradada, desgovernada por adultos que vivem constantemente com “o pé no acelerador”, como bem refere o Papa Francisco.

Curiosamente, nunca a juventude teve tanto em termos materiais e apoio escolar. Nunca tiveram professores tão bem formados e direções que se esgotam até à exaustão.  Paradoxalmente, nunca tiveram tão pouco em termos afetivos. Fala-se muito em saúde mental, mas recorre-se demais aos recursos especializados quando, na verdade, o bem-estar emocional e a segurança começam no berço.  O tempo e vínculos instáveis marcam profundamente a infância e a adolescência das novas gerações. E é preciso lembrar: a afetividade também se constrói através de regras e limites claros.

Os jovens precisam dessas regras, de pais firmes, confiantes e sobretudo que sejam exemplos de determinação e resiliência, para que os filhos sintam segurança, incorporem bons valores para a vida. Os jovens precisam de incentivos que os encorajem a sonhar e a desenvolver, de novo, a audácia saudável, aprender com responsabilidade face aos desafios.

Todos os jovens querem ser capazes! Todos querem ser livres, mas também almejam ser responsáveis. Os jovens ainda acreditam na mudança do mundo — mas essa transformação só será possível quando os adultos se dispuserem a mudarem primeiro, abandonando a raiva e o ódio quando apontam os outros do dedo, quando deixarem de, tantas vezes contaminam as relações humanas. O futuro da sociedade está nas mãos de quem educa e orienta, e não apenas na escola. Está na hora de assumirmos essa responsabilidade.

Desejo que neste “Circo de Feras” em que se tornou o mundo, refletivo inevitavelmente nos jornais, com bombardeamento de palavrões e ofensas na TV , Instagram, Facebook e tik Tok, a bondade seja antes de todas as coisas e que possamos agir incansavelmente desta forme, guiados pela sensatez, pela luz da nossa consciência própria e que se eduque as crianças e os jovens por esse caminho.

Conceição Godinho (mãe de 3 filhos, esposa, irmã, tia e professora)

 

Fotos de alguns exemplos de bons valores e sentimentos em via de extinção,

 

 

 

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