É um grato prazer ser pastoreado por gente assim
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“Finalmente, ao PSD, se pretende manter-se relevante e uma alternativa credível naquilo que deve ser o normal exercício da atividade política, não podemos deixar de rogar a que estude os assuntos e fale verdade, e não obtenha e emita opiniões como se tivesse em alguma página de rede social ou em conversa de café. A Democracia exige mais daqueles que se habilitam para a exercer em nome de todos e de uma comunidade. Uma palavra final para o comandante cessante, ainda chefe de divisão, Carlos Gonçalves, a quem reconhecemos competência e um papel que foi determinante para esta mudança de padrão, certos que continuará a ser um muito válido funcionário nas novas funções que no município virá a desempenhar».
O texto acima é um excerto do longo comunicado do PS de 10 do corrente, que responde a um outro do PSD. Começo por anotar que um assunto exclusivamente municipal, referente ao pelouro dos Bombeiros e Protecção civil, gerido pela srª presidente, acaba discutido na praça pública pelos dois partidos dominantes. Realmente estranho. Muito estranho mesmo. A mostrar que os partidos se consideram donos dos eleitos.
Que o PSD tenha emitido um comunicado, compreende-se. É oposição e os seus elementos sabem bem que a maioria PS controla eficazmente os canais de comunicação locais. Resta-lhes portanto recorrer à sigla partidária, para se fazerem ouvir. Já o facto de os socialistas usarem o mesmo canal, cheira a manobra de diversão. Um jogo de ténis de mesa entre as duas formações, para distrair a malta e tentar entusiasmar os respectivos aderentes. Conduzindo o município há oito anos, devia ser a maioria do executivo a responder às acusações que lhe foram feitas, não o PS.
Nos destaques a negrito, (que são da responsabilidade do autor destas linhas), o leitor mais atento compreenderá porque assim não aconteceu. Além de pouco esclarecedor, o comunicado do PS usa um português tão pouco adequado que chega a dar pena. Em linguagem corrente e clara, ninguém “o roga a que”, ou troca estivesse por tivesse.
São apenas dois exemplos, com o intuito de mostrar o óbvio. A escrita é fruto do pensamento. Por conseguinte, quem não consegue escrever escorreitamente, também não consegue pensar com correcção, apesar de geralmente estar convencido do contrário.
É o grande e principal problema tomarense. Gente com a cabeça mal formatada, conseguiu apesar disso alcançar lugares para os quais não tem manifestamente arcaboiço intelectual, nem estofo cultural. O que até nem seria grave, caso reconhecessem a realidade factual e procurassem remediar com assessorias à altura.
Infelizmente, é o contrário que acontece. Erram e insistem nos erros, convencidos de que estão a fazer tudo da forma mais correcta. Vai daí, a culpa é sempre dos outros. E os críticos são todos mal intencionados. Uns malvados. Entretanto Tomar, a cidade e o concelho, vão-se despovoando. Tomarenses jovens e menos jovens partem em busca de ares mais amenos e de gente menos arrogante e menos casmurra. Mas também neste caso, os eleitos responsáveis há muito que aprenderam a sacudir a água do capote: Dizem que é por causa de Tomar estar situada no interior. Procurar desmentir com o caso de Ourém? Não resulta. Argumentam logo “Pois, mas eles têm Fátima”. Como se em Tomar não tivéssemos o Convento, o Nabão, os Tabuleiros, o Castelo do bode. A má-fé não tem limites.
Regressando ao tosco comunicado socialista, aqui se lamenta a infeliz referência, implicitamente desdenhosa, às redes sociais e às conversas de café. Que fique claro de uma vez por todas: Há, nas redes sociais e nas conversas de café, intervenções de nível muito superior ao que em geral se ouve, tanto nas reuniões do executivo camarário, como nas da Assembleia municipal. Por conseguinte, em certos casos, o silêncio é de ouro.
Fica-se também a saber no citado comunicado que é importante ser a própria presidente a titular do pelouro dos bombeiros e protecção civil, sem que todavia se perceba porquê, por falta de justificação. Em contrapartida, continua por explicar a inesperada demissão do comandante, que pelos vistos até vai continuar ao serviço da autarquia, como chefe de divisão (mais um!). Tão pouco se percebe de que se queixam e porque se demitem ou pedem transferência alguns bombeiros, se tudo vai tão bem como consta do comunicado PS.
Tudo lido e relido, é inevitável a exclamação: Dá gosto integrar o rebanho nabantino (mééé…). É cada vez mais, um grato prazer ser pastoreado por gente assim.
António Rebelo
Esquecendo ou descontando as incursões no reino animal, é um diagnostico clarividente o aquele que o autor A. Rebelo nos expõe, acerca do essencial da nossa vida coletiva.
*São carências de ordem diversa, mas gravosas, dos Dirigentes partidarios a que estamos condenados;
*São Dirigentes que condenam o futuro do Concelho e da Cidade a um triste purgatorio de exodo e de envelhecimento populacional;
*São Dirigentes que não compreendem que Tomar e o Concelho, sendo do Interior, dispõem de instrumentos e de ativos que, se capazmente valorizados, permitem ultrapassar as fragilidades que decorrem da interioridade;
*É uma Presidente da Câmara que não tem, assim, condições para o ser, mesmo que, visivelmemte, goste muito de o ser.
Concordo inteiramente, reforçando até que tal diagnóstico é ainda mais gravoso se for considerado que estes problemas têm, não 7 ou 8 anos, mas 17 ou 18. Mas não é possível concordar com a designação (resignação?) de cidade do interior. Uma cidade com comboios horários diretos para Lisboa, a 25 minutos do maior nó ferroviário, com ensino superior público (ainda que mal aproveitado), numa localização estratégica previligiada, um ex-centro industrial de referência nacional, não pode ser considerada do interior. Mal aproveitado e por muitos resignados, sim.