Economia

É assim em Lourdes (França)

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A todos aqueles que dizem ou pensam que a necessidade imperiosa de um plano local de desenvolvimento turístico para Tomar, não passa afinal de uma mania, peço que leiam com atenção a tradução a seguir.  Não por mim.  Por Tomar. Pelo futuro de Tomar. Para perceberem que também temos de mudar, de inovar, com Fátima aqui tão perto.

Desde já agradeço o esforço.

 

NO SANTUÁRIO DE LOURDES A CRISE SANITÁRIA PÕE EM CAUSA OS ANTIGOS MODELOS ECONÓMICOS E RELIGIOSOS

Philippe Gagnebet – Le Monde online – 09Março21, 17h03

Reportagem – Atingida em cheio pela epidemia de Covid-19, a cidade marial acaba de passar um ano turístico catastrófico. Nos meios económicos e no religioso pensa-se em novos modelos ainda a inventar.

 

Nem um peregrino no horizonte, ou quase. O largo da estação de caminho de ferro de Lourdes (Altos Pirinéus), neste começo de Março, está quase deserto. Pascal Martin, director do hotel-restaurante Beauséjour, frente ao largo da estação, está bem situado para constatar o desastre. “Estamos com 25% do volume de negócios em relação a 2020. É catastrófico”, diz-nos com ar triste. Na cidade marial [da virgem Maria, nota do tradutor] é costume dizer-se que “foi o caminho de ferro que fez Lourdes.”

Quase um quarto dos 3 milhões de turistas anuais passam pela estação, inaugurada em 1866, oito anos após as 18 aparições da Virgem Maria a Bernadette Soubirous. Desde então, a pequena cidade de 15 mil almas vivia tranquilamente, e bem, do prestígio da sua lenda. “Eram os estrangeiros que animavam isto”, especifica Martin. “Agora temos de nos reinventar, de reconquistar a clientela francesa, de insistir no individual e não nos grupos.”

O seu hotel é quase o único que continua aberto este inverno, numa terra que conta 9.800 quartos e 200 hotéis, entre os quais 140 classificados, o que corresponde ao 2º parque hoteleiro de França, a seguir a Paris.

“A hotelaria e os restaurantes representam 350 milhões de euros anuais. Em Lourdes, 80% da economia depende do turismo”, esclarece Christian Gélis, presidente da União dos ofícios e das indústrias da hotelaria dos Altos Pirinéus.

Perante esta crise sem precedentes, todos os actores da cidade buscam soluções e se questionam. A começar pelo próprio Santuário, pulmão da cidade, com os seus 53 hectares, as 3 basílicas, as piscinas, o museu, o espaço subterrâneo que pode acolher 20 mil fiéis e, bem entendido, os longos caminhos pedestres que conduzem à famosa gruta das aparições.

Em geral organizam 500 peregrinações anuais, que acolhem 6.000 grupos de todos os horizontes. “Em 2020 a actividade caiu 75% e as nossas perdas de exploração são da ordem dos 4 milhões de euros, num orçamento de 30 milhões”, informa David Torchala, encarregado da comunicação da associação de culto, que funciona como uma média empresa, com 250 empregados, dos quais 140 são sazonais.

Em meados de Agosto passado, o ministro da economia Bruno Le Maire, o ministro delegado para as Pequenas e Média Empresas, Alain Griset e o secretário de Estado do turismo, Jean-Baptiste Lemoyne, vieram a Lourdes anunciar várias medidas de apoio: alargamento do fundo de solidariedade às lojas de venda de recordações, exoneração das cotisações sociais durante quatro meses… No início deste ano, a região Occitânia, de que Lourdes faz parte, acrescentou um envelope de 20 milhões de euros. “Mas são as doações que nos vão salvar e que chegam do mundo inteiro”, explica o reitor do santuário, Monsenhor Olivier Ribadeau Dumas. Segundo este ex-porta-voz da Conferência Episcopal de França, nomeado em 2019, “temos de continuar a viver, a inventar e a rezar, mesmo se 2020 foi quase um ano em branco.” Para isso, a instituição modernizou-se nas redes sociais e difunde missas via internet ou pela cadeia KTO. O total de subscritores no YouTube veio por aí acima, chegando aos 800 mil.

Quanto aos comerciantes, fecharam quase todos. Em frente ao Santuário e ao longo das ruas que sobem para a parte alta da cidade só um estabelecimento em cada dez está aberto. Nestes templos habituais de vendas de terços, medalhas e frasquinhos de água sagrada, proveniente da nascente da gruta, aproveita-se para fazer o inventário. “Regra geral, abrimos das 8 da manhã à meia-noite; agora parece que estamos numa praia em pleno inverno”, declara um dos gerentes das 60 lojas que pertencem à Câmara, de quem são rendeiros.

“O modelo das peregrinações vai evoluir, e já estamos a pensar em 2030. Esta crise ligada ao Covid veio perturbar um certo conforto e um modelo um pouco gasto”, admite o reitor do Santuário. Constatação partilhada por Christian Gélis. “A primeira etapa consistiu em salvar os actores do turismo. Se há ainda 30 hotéis em perigo, também tomámos medidas para os trabalhadores sazonais,” acrescentou. “Agora é necessário trabalhar na segmentação do mercado, sem ruptura de identidade”.

Com o plano “Lourdes, coração Pirinéus”, a câmara quer deixar a sua marca. O novo presidente (independente) Thierry Lavit, eleito em 2020, tenciona “impulsionar uma nova dinâmica, à volta da diversificação e da transição ecológica. Quero ser o piloto e os comerciantes serão ajudantes, ao contrário do que acontecia por vezes anteriormente.”

O eleito esclarece que a Câmara continua muito endividada e que as receitas fiscais de 2020, entre as quais a taxa de residência, ainda não foram recebidas. Projecto de território, novos percursos urbanos, criação de espaços de vida e modernização da arquitectura urbana, figuram nas suas prioridades. Não podendo fazer uma verdadeira revolução, Lourdes poderá vir a ter uma pequena ressurreição.

                      Tradução de António Rebelo, (Universidade de Paris VIII)

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6 comentários

  1. A crise atingiu Lourdes como atingiu Fátima, porque nem o turismo religioso escapou da pandemia. Julgo perceber que o que se pretende para Tomar é o turismo cultural, mais arriscado ainda que o religioso. Ter caminho de ferro e estar (quase) no centro da Europa é muito mais potenciador do que não o ter e estar no extremo da dita Europa. Quanto a projetos do Maire é melhor esperar pelos resultados. Será aqui que vale a pena procurar inspiração para o futuro de Tomar?

    1. Muito inspirador este seu comentário, caro João Agulha. Sobretudo a última frase, que só se pode entender plenamente tendo em conta o que antecede.
      Do meu ponto de vista, no estado actual das coisas, nunca se pretendeu nem pretende nada para Tomar. Nem na área do turismo, nem nas outras. Continuamos como as rameiras da beira da estrada: É o que vier. Isto porque nunca houve nem há planos nas várias áreas. Nem vontade de os fazer, mandar fazer, ou sequer comprar já feitos. Aquele acordo com “laboratório IPT” é apenas argumentação eleitoral, como a seu tempo de verá.
      De resto, mesmo no próprio IPT têm vivido num equívoco. A ideia do tema “turismo cultural” para uma licenciatura em gestão foi obtida de má-fé, junto de um profissional da especialidade, por um dos docentes daquela casa, e tinha implícita uma posterior contratação docente que nunca veio a acontecer.
      Daí resultou uma situação infeliz, que muito tem contribuído para o fraco prestígio do IPT no mundo académico. Sendo um estabelecimento de ensino politécnico, portanto profissionalizante, devia ter, na medida do possível, docentes em simultâneo profissionais exteriores da área em que ensinam. Ao que consta nunca foi nem é o caso. O IPT nunca teve nem tem nenhum verdadeiro profissional, ou ex-profissional de turismo, nos seus quadros.
      É como diz o povo: Tem andado meio mundo a enganar a outra metade. Convém portanto lembrar a sentença bem conhecida do presidente LIncoln: “Pode-se enganar toda a gente durante um certo tempo. Pode até enganar-se uma pessoa durante toda a vida. Mas é impossível enganar toda a gente durante toda a vida.”

  2. Tem razão. Tomar é um “case study” de governação paupérrima nos últimos 40 anos. Mas o pior é que os eleitores locais não só não se importam como parece acharem bem. Quanto ao ipt, é outro exemplo, com os últimos 15 anos sempre a perder alunos, influência e atratividade.

    1. Essa questão dos eleitores sempre contentes é uma das que me dão que pensar. Pergunto-me se não estarão numa situação semelhante à minha, durante a infância e adolescência. Dado que a minha família era muito pobre, todos os dias havia apenas sopa e pão ao almoço e ao jantar. Nessa situação, quer me agradasse ou não, que remédio tinha eu senão comer sopa e pão. Ou passar fome.

    1. Ora viva, caro Zé Caldas.
      Era bom era, mas não volto a cair nessa. Gato escaldado de água fria tem medo.
      Conforme já aconteceu pelo menos três vezes anteriormente, com três outros planos paralelos, almas caridosas sacavam logo aquilo que julgassem ser as grandes linhas essenciais, para usarem como propaganda política, e /ou depois aplicarem de forma inadequada, concluindo que afinal o plano não prestava.
      Foi o que já me aconteceu com o Convento de Cristo, a Comissão Regional de turismo e Turismo cultural no Politécnico.
      Transmita-me o seu @ via Tomar na rede e terei todo o gosto em explicar-lhe por escrito e de forma privada todas essas tramoias.

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