
No passado dia 31 de julho, a Assembleia Municipal de Tomar discutiu o estado do concelho[1]. O Senhor Presidente da Câmara apresentou alguns indicadores retirados do Instituto Nacional de Estatística (INE) / PORDATA, fornecidos pela Informa B&D pelo Município, Comunidade Intermunicipal e pelas empresas municipais.
Os indicadores que podem ser mais associados ao ambiente foram divididos nas seguintes áreas:
Área temática | Indicador (unidade) | Valor | Variação |
Saneamento | Taxa de cobertura: - Patrocínio - Rede fixa (%) Rede móvel (%) | 59 41 | N/D N/D |
Recolha de resíduos | Indiferenciados (t) | 11 968 | -16% |
Seletivos (t) | 4546 | +40% | |
Recolha seletiva (%) | 38 | +49% | |
Mobilidade urbana | N.º utilizadores TUT N.º viagens em TUT N.º viagens transp. a pedido N.º viagens bicicletas partilhada | 870 10 053 5791 12 614 | +22% +5% N/D N/D |
Espaços verdes | Área (m2) | 2023: 140 917 2024: 174 839* 2025: 564 839** | N/D +19% +69% |
Ciclovias | Executada (km) | 11,18 | N/D |
Em projeto (km) | 5,25 | N/D |
* Flecheiro
** início da co-gestão da Mata Nacional dos Sete Montes
N/D – Não disponibilizada
É difícil avaliar os indicadores da rede de saneamento e da recolha de resíduos, uma vez que não há referência ao ano a que dizem respeito (pensa-se que seja 2024) e não é possível perceber a tendência de evolução ao longo do tempo. Também na mobilidade urbana, seria interessante perceber a lotação média dos TUT e a tendência de evolução desde que estes transportes foram disponibilizados. Nos espaços verdes, seria interessante ter informação sobre plantações e abates de árvores, além das áreas. Para o indicador das ciclovias, não se percebe se o executado foi no ano transato, ou se foi num período de alguns anos e teria sido interessante mostrar um mapa do concelho e da cidade com esta informação, identificando claramente onde se vão executar os 5,25 km em projeto.
Compreende-se que a apresentação não possa ser exaustiva dada a limitação de tempo, mas pensa-se que seria importante fornecer mais informação e tendências de evolução para perceber para onde o município está a caminhar.
É precisamente isso que é possível fazer no portal ODSlocal[2], que resume o desempenho dos municípios no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do qual o Município de Tomar faz parte. Os ODS foram estabelecidos em 2015 pelas Nações Unidas, estão divididos em 17 áreas temáticas e têm metas de cumprimento até 2030.
A Figura abaixo resume o desempenho de Tomar em cada ODS: as fatias no centro mostram a distância para atingir as metas de 2030 de cada área temática (variando entre 0 e 100%). Os dados mais recentes variam por área temática e por indicador (2018 a 2024) e, no portal, é possível ver a tendência e comparar com outros municípios e com a média nacional.
Assim, Tomar está muito bem posicionado para atingir a meta dos ODS 4 – Educação de qualidade, 14 – Vida debaixo de água e 1 – Erradicação da pobreza, estando muito próximo e até acima de 75% do atingir da meta, está bem posicionado (acima de 50%) nos ODS 10 – Reduzir as desigualdades, 12 – Produção e consumo sustentáveis, 16 – Paz e justiça, 17 – Parcerias para desenvolvimento, 5 – Igualdade de género, 6 – Água e saneamento e 3 – Vida saudável. Quase a 50% de atingir as metas estão os ODS 9 – Inovação e infraestruturas, 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, 7 – Energias renováveis, 8 – Trabalho digno e crescimento económico. Os ODS que ainda estão aquém (25% ou inferior) são 2 – Erradicação da fome, 13 – Combate às alterações climáticas e 15 – Ecossistemas terrestres e biodiversidade.
A análise de alguns dos indicadores dos ODS 3 – Saúde de qualidade, 8 – Empregos dignos e crescimento económico e 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, revela as seguintes dinâmicas:
– Saúde: Farmácias e postos farmacêuticos móveis de 0,4 por 1000 habitantes em 2023, tendo-se mantido neste valor desde 2012 e acima da média nacional de 0,3 em 2022, o que indica uma boa cobertura, mesmo sem crescimento recente.
– Emprego: taxa de atração líquida de população empregada por conta de outrem de -3,3% em 2022, sendo de -0,7 em 2018 e muito inferior à média dos municípios membros do portal, de 0,05. Não é apresentada a média nacional. Isto significa que o município de Tomar perde mais trabalhadores do que atrai e está pior do que em 2018.
– Habitação: O rácio entre valores de arrendamento e rendimento aumentou de 30,5% em 2017 para 34,1% em 2022, refletindo uma maior pressão sobre os rendimentos das famílias e alinhando-se com a tendência de agravamento dos encargos habitacionais observada noutros municípios e a nível nacional.
– Proteção da biodiversidade e paisagem: As despesas municipais nesta área diminuíram drasticamente, de 26€/hab em 2015 para apenas 2€/hab em 2022, ficando muito abaixo da média nacional (16€/hab), o que pode indicar uma redução da prioridade a esta vertente.
– Património cultural: Em contraste com o indicador anterior, os investimentos em património cultural cresceram substancialmente, passando de 1,9€/hab em 2015 para 53,4€/hab em 2023, superando largamente a média nacional de 14,5€/hab em 2022. Este aumento sugere um forte foco na valorização cultural, possivelmente com impacto positivo na identidade local e atratividade turística.
A análise dos ODS reforça a importância de articular todas as dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e económica) e de acompanhar a evolução dos indicadores ao longo do tempo. Só assim é possível obter uma visão abrangente do estado atual do concelho e compreender com maior clareza a direção que está a seguir, permitindo orientar políticas e ações para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
Joana Simões
Licenciada em Eng. do Ambiente pelo IST
Mestre em Bionergia pela FCT/UNL
Doutoranda em Ciências da Sustentabilidade na UL
[1] https://www.youtube.com/watch?v=C1bc0E4RlpY [2] https://odslocal.pt/tomar?lang=EN&tabId=tab-indicators
Estas pomposidades quase me levam às lagrimas, de tanto rir. Se há coisa de que tenho absoluta certeza é que em 2030 estaremos 5 anos pior do que agora. Apostam???