
Um lar de idosos que funcionava clandestinamente na estrada da Serra em Tomar foi encerrado no dia 26 pela Segurança Social.
Os 13 idosos que estavam nas instalações foram retirados, numa operação que implicou um grande aparato e envolveu a polícia e a Delegação de Saúde Pública. Foram encaminhados para casa de familiares ou para outros lares.
No comunicado da PSP refere-se que “o Comando Distrital da PSP de Santarém, através da Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial da Divisão Policial de Tomar, e em conjunto com a Segurança Social (SS) e a Delegação de Saúde Pública de Tomar, em 26-08-202, promoveu a realização de uma ação de fiscalização numa casa de acolhimento/lar de idosos na cidade de Tomar”.
Acrescenta-se que “como resultado da ação resultou o encerramento cautelar daquele local, sendo retirados 13 (treze) idosos das instalações, quer por familiares diretos, quer por ação direta da Segurança Social”.
A PSP e a Segurança Social deviam dar mais informações sobre este e outros casos semelhantes, designadamente sobre as condições em que estavam instalados e idosos e como eram tratados.
E digo isto, porque este assunto nem sempre tem sido tratado com a verdade e isenção que se impõe.
É do meu conhecimento, no desenvolvimento de uma actividade profissional que desenvolvi anteriormente, que lar legalizado não é sinónimo de boas condições e tratamento exemplar dos idosos em todas as valência, assim como lar NÃO legalizado é sinónimo de espelunca, de depósito desumano de idosos, de maus tratos, etc.
Infelizmente temos muitas práticas boas e até excelentes, bem como más, reprováveis e condenáveis, nos legalizados e nos não legalizados.
Mas a hipocrisia do Estado, e a incompetência e burocracia da Segurança Social, mal or :
ganizada, com muitas estruturas inúteis por redundantes, onde se perdem muitas assistentes sociais e pessoal administrativo, são as grandes responsáveis pela situação que, há muitos anos, se vive em Portugal, no que diz respeito ao apoio aos idosos.
Estes lares, ditos clandestinos, só proliferam cada vez mais por três razões :
1ª – O Estado demitiu-se totalmente de construir e manter a funcionar, com dignidade, Estruturas Residenciais para Idosos ( vulgo Lares).
2ª – O Estado deixou de contratualizar (quer dizer camas/vagas em que o idoso apenas paga uma percentagem do seu rendimento, em função dos seus recusos e do seu estado de dependência) camas para idosos em Instituições Particulares de Solidariedade Social e com Lares de Idosos Lucrativos, há muitos anos, mesmo muitos. E as poucas camas que restam do período em que isso aconteceu, quando vagam, são, em muitos casos, VENDIDAS por valores que chegam a 10 ou 12.000 euros. Hoje, são raríssimas as vagas de camas contratualizadas pelo Estado nessas instituições em que isso não acontece.
3ª – Os valores das mensalidades da esmagadora maioria dos Lares de Idosos, ditos legalizados, com ou sem fins lucrativos, estão completamente desfasadas dos rendimentos gerais e das pensões de reforma da esmagadora maioria dos idosos.
Neste quadro, proliferam como cogumelos, por todo o País, os Lares não legalizados.
São a única alternativa à inércia total do Estado e dos milhares de burocratas inúteis e arrogantes que se sentam nas cadeiras e nos carros da Segurança Social. Naturalmente ressalvando as ainda muitas e honrosas excepções que ainda lá encontramos e que nos mantém com um fio ligado à esperança.
E são esses Lares que, uns bem, outros menos bem e até mal, que se estão a substituir ao ESTADO inerte e cego que só fala dos idosos em tempo de caçar votos, porque o voto de um centenário pobre vale tanto como o de um multimilionário que hoje passeie pelas luxuosas estâncias de férias da Sardenha, a falar francês e sem máscara.
Vigilância e acção firme sobre as pessoas e Instituições que fazem do desprezo pelos idosos o seu negócio, SIM, mas com verdade, sem demagogias, sejam legais ou ilegais, públicos, sociais ou privados.
Ao contrário do que, infelizmente, tantas vezes acontece : querer mostrar serviço ilusório, de fogacho, mostrar uns vestidos ou um penteados e com uma postura de mandatários de um qualquer Luís XIV.
Uma última palavra para a comunicação social, sobretudo a local, que pela proximidade vai conhecendo as situações e que deve cumprir o seu dever ético de as denunciar, mas nunca deixando de enquadrar o problema nas políticas do Estado, independentemente de quem for governo.