
Marília Henriques tem 28 anos e é de Tomar. A 23 de outubro de 2020 a sua vida mudou naquilo que considera ser um recomeçar a vida do zero. Sozinha, emigrou para o Luxemburgo e nestes seis meses já fez bastantes progressos o que a leva a dizer que está a adorar a experiência. “A descoberta está a ser fantástica”, confessa.
Tomar na Rede – Porque optou por emigrar?
Marília Henriques – A decisão de emigrar foi muito repentina. Nem deu tempo de pensar muito. Além dos motivos pessoais o que me fez vir para o Luxemburgo foi o ordenado.
– Qual o seu trabalho no Luxemburgo?
Neste momento estou a trabalhar numa empresa de limpezas, onde o que faço é limpar escolas.
– Como foi a adaptação num país diferente do nosso?
A mim não me está a custar muito até agora. Até porque em todo o lado existem portugueses. O que se torna complicado é aprender fluentemente a língua francesa. Mas em todos os sítios que vamos existe sempre um português (supermercados, hospital, bancos). Luxemburgo tem mesmo muitos emigrantes portugueses. A mim o que custa mais talvez seja o clima. Estar muito tempo sem sol, frio. Mesmo o nosso corpo nota bastante esse choque.
– Quais as maiores dificuldades?
A maior dificuldade é lidar com a saudade. Lidar com a rotina que temos em Portugal e que aqui é difícil ter. Sentimos falta de muita coisa. Até do simples café.
– Que outras diferenças sentiu? Há pouco falou no ordenado…
Sim, na remuneração existe mesmo uma grande diferença. Há meses que consigo tirar três ou quatro vezes mais do que o ordenado mínimo de Portugal. Claro que conseguimos ter aqui uma qualidade de vida muito melhor a nível financeiro. Conseguimos juntar dinheiro e temos bastante poder de compra. Aqui a alimentação não é muito cara comparando com Portugal. Os combustíveis são muito mais baratos. Aliás em outubro, quando cheguei, o gasóleo estava 0.954€. Aqui o mais difícil é, sem dúvida, a habitação. É muito cara mesmo quando recebemos bem. O clima até agora é frio, mas suportamos melhor do que por exemplo aí quando estão temperaturas negativas. Aqui tanto neva como faz sol.
E a comida?
A gastronomia dos luxemburgueses, o que posso dizer… eles têm uns pratos um pouco estranhos, não existe comida tão boa como a de Portugal e eles sabem disso. Então quando vamos ao supermercado temos alguma diversidade de artigos e comida pré-feita da nossa. Eles adoram os pastéis de nata. Fazem muitas vezes as semanas portuguesas onde têm muitos produtos do nosso país.
– Nestes seis meses em que está no Luxemburgo já tem alguma história ou peripécia que queira partilhar?
Bem, aqui a polícia luxemburguesa é bastante respeitada. Também com uma certa razão, eles são grandes e largos e com aspeto estranho. Contudo, em Portugal nunca apanhei nenhuma multa e desde que aqui estou já vou em quatro. Posso partilhar uma das histórias que me aconteceu aqui relativamente com os agentes da polícia.
Vinha eu descansadinha da vida de carro para casa, quando reparo que atrás de mim vinham três motas da brigada de trânsito. Eu, já calejada naquela semana por ter apanhado uma multa, tirei o pé do acelerador e fui ali sossegadinha, devagarinho, para ver se eles não me mandavam parar. Ao fim de algum tempo atrás de mim decidiram ultrapassar-me, mas achei estranho uma mota ficar ao lado do meu carro. Mas continuei. Quando, uns metros mais à frente, o agente que vinha a meu lado a escoltar me (senti me importante, mas ao mesmo tempo pensei: mais uma que apanhei) começa a abanar os abraços. Quando eu olho para a frente vejo um grande aparato policial. As duas motas paradas no meio da estrada, pararam o trânsito, ligaram as sirenes, ligaram as luzes, e meteram se de arma em punho em direção a mim. O que fiz: pus as mãos à cabeça e só pensei: “meu Deus matei alguém, só pode!” Ainda olhei para o céu a ver onde estava o helicóptero, sim porque aqui a polícia também tem helicópteros para fiscalizar. Bem, encostei o carro e eles vieram ter comigo.
Enquanto saíam das motas eu na minha cabeça só pensava: o que foi que fiz? Vai ser caro?
Conclusão: mandaram-me parar apenas porque andava num carro com matrícula portuguesa. Os senhores agentes só me queriam informar que só posso andar aqui seis meses com matrícula portuguesa porque depois tenho de legalizar a viatura para luxemburguesa.
– Costuma frequentar as lojas de produtos portugueses e restaurantes portugueses?
Restaurantes desde que cheguei estiveram fechados, mas pelo que vejo existe mesmo muitos portugueses por cá. Há uma série de minimercados portugueses. Como disse, conseguimos encontrar produtos nacionais em qualquer supermercado.
– Quantas vezes e por quanto tempo vem a Portugal?
Eu já fui em dezembro, espero ir agora em agosto. Penso que, pelo menos duas vezes por ano dá para ir a Portugal.
– Como se gere a saudade?
A saudade é o que custa mais. Saudade dos meus pais, dos amigos. É muito difícil gerir. Existem dias muito difíceis. Mas é para o nosso bem e foi a decisão que tomei para ter uma vida melhor e concretizar alguns sonhos. Luxemburgo é um bom país para emigrar. Mas o nosso Portugal é o nosso Portugal.
– Quanto tempo conta ficar no Luxemburgo?
- Espero até à minha reforma.
“Tomar na Rede” lança o desafio aos nossos emigrantes que queiram partilhar a sua experiência noutras paragens do mundo. Se quiser prestar o seu testemunho com uma entrevista, envie-nos um email para