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A gestão do Convento deve ser entregue a uma empresa municipal ou privada

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António Rebelo

 

Segundo o Tomar na rede, que cita o Público, só em 2021 haverá concurso para recrutar novo director, ou directora, para o Convento de Cristo. O que se explica pela duração do mandato, de três anos, em comissão de serviço, como Chefe de divisão, enquanto o responsável pelo Convento de Mafra, por exemplo, é director de departamento. Anomalias do reino da função pública.

Estava fora das minhas previsões vir um dia a escrever o que segue. Muitos vão considerar uma heresia. E, com a habitual falta de educação, não hesitarão a apodar-me de vira-casacas. Paciência. As coisas são o que são, e o mundo nunca mudou tão depressa. O que torna inútil a médio-longo prazo qualquer tentativa de manutenção do que está, ou de regresso ao passado.

A transferência dos principais monumentos portugueses da Direcção-geral da fazenda pública para o então IPPC fez-se praticamente sem atritos. Quatro décadas mais tarde, chega-se à lamentável conclusão que foi pior a emenda que o soneto, para empregar uma frase feita.

Quando pertenciam ao Ministério das Finanças, os monumentos portugueses eram de entrada gratuita, só havia visitas guiadas, estavam mais seguros, e os horários eram mais alargados por força das circunstâncias. Explicando melhor, em cada monumento havia um número variável de guardas pagos pela DGFP, que só deixavam entrar os visitantes em grupo, acompanhado da entrada até à saída. Ninguém podia andar sozinho dentro do monumento.

Os guardas, que detinham as chaves, aproveitavam o ensejo para irem efectuando paragens no circuito de visita e dando algumas explicações, melhores ou piores consoante o nível cultural de cada um. No final recebiam algumas gratificações pelo trabalho, uma vez que as entradas eram francas.

Na mira desse rendimento extra, que era importante, embora o horário fosse o da função pública, na verdade os monumentos abriam às oito da manhã e só fechavam ao sol posto, ou seja por volta das 21 horas no verão. Pela mesma razão, não se respeitavam os feriados, ou a hora de almoço, pelo que os monumentos estavam sempre abertos ao público durante o dia.

Actualmente, cada entrada custa 6 euros, só há visitas guiadas mediante pedido antecipado e pagamento consoante o estipulado, e o horário da função pública é respeitado de forma estrita.

Daqui resulta que as condições de segurança pioraram muito, pois há constantemente visitantes, que não foram previamente controlados por qualquer pórtico electrónico, deambulando livremente no interior do monumento. Há é certo, alguns vigilantes e alguns dispositivos web, mas todos sabemos bem como estas coisas são. Até que um dia, alguma desgraça…

Além da evidente falta de segurança, o horário dos monumentos é muito acanhado. Faz algum sentido abrir só às 9 da manhã e fechar às 6 da tarde no verão e às 5 no inverno?

Acresce outro problema de grande importância no país que somos. Não havendo visitas guiadas, a esmagadora maioria dos visitantes-pagantes sai do monumento na mesma situação do burro que foi à Meca. No regresso era tão burro como à partida. Não aprendeu nada, porque nada lhe tentaram ensinar.

Solução para estes problemas? A concessão, via concurso público, de cada monumento a uma empresa municipal ou privada, com um rigoroso caderno de encargos, especificando todas exigências na área da segurança, dos horários, da contratação e formação de pessoal, do preço das entradas, dos circuitos de visita, etc.

Como as coisas estão é que não podem continuar durante muito mais tempo. Sob pena de um dia destes termos de lamentar alguma desgraça, quando já não tiver remédio.

É da praxe no vale nabantino: As cabeças pensantes, que na verdade ainda estão em 1999, eventualmente a começar pelos que estão colocados naquele monumento, vão alegar que é impossível guiar todas as visitas ao convento, porque o número de visitantes aumentou muito, sobretudo nos meses de verão.

Trata-se de um argumento sem consistência, que apenas revela ignorância na área do turismo moderno.

Para não irmos muito longe, o Mont Saint-Michel, na costa norte da França, recebe anualmente quatro vezes mais visitantes que o Convento de Cristo (1.478 mil visitantes, contra apenas 336 mil, em 2019) e todas as visitas são guiadas.

Se em França é possível… estamos a dar razão aos holandeses que nos acusam de não querer trabalhar.

                                  António Rebelo

 

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10 comentários

    1. Muito esclarecedor este seu comentário, Srª Dª Ana.
      Antes de mais pelo elevado nível do conteúdo. Tanto em termos de ideias como de vocabulário. Tudo de alto nível.
      É inegável que foi escrito por alguém de esmerada educação, e concomitante nível intelectual.
      Garante a Srª que eu escrevi isto: “Foi você que disse que quem lá vai sai pior…” Basta reler o texto para concluir que não é verdade. O que lá está é algo diferente: “NO REGRESSO ERA TÃO BURRO COMO À PARTIDA.”
      Concordará que não é bem a mesma coisa, pois não consta que o comparativo TÃO seja sinónimo de MAIS. E quando alguém, como é o caso, nem sequer consegue compreender com correcção aquilo que lê, isso significa tanta coisa, que até é melhor abster-se de comentar.
      Descendo agora ao seu nível, no que toca a ditos populares, julgo que a sua citação só pode aplicar-se a si própria. Que me conste, terei imensos defeitos, todavia ainda não mudei de sexo, nem tenciono mudar.
      No meu fraco entendimento, recorrendo ao vernáculo lusitano, os adágios que melhor se podem aplicar à minha crónica são dois:
      “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”.
      “As cadelas ladram mas a caravana passa.”
      Terei todo o gosto em debater consigo a pertinência do meu escrito, sempre e quando a senhora Dª Ana esteja disposta e seja capaz de respeitar a outra parte e as ideias expostas.
      Não fiquei minimamente incomodado com aquilo que escreveu. Os tomarenses já só muito raramente me surpreendem ou irritam. Temos de aceitar os conterrâneos tal como eles são, sem acalentar grande esperança de que algum dia venham a ser conforme gostaríamos que fossem.
      Caso não entenda, peço-lhe desde já desculpa, garantindo que está escrito em português. Pelo que, caso seja necessário, estou pronto a seguir Fernando Pessoa: “Eu traduzo para estrangeiro, para V. Exas perceberem melhor.” Para inglês de praia, por exemplo.
      Disse. Por agora.

    2. Já tentei responder-lhe uma série de vezes. Por artes mágicas, a minha resposta tem desaparecido.
      Procurando obviar, vou ser muito breve, a ver se assim passa.
      A senhora nem ler sabe, pois eu nunca escrevi “quem lá vai sai pior” como diz.
      Quanto ao que dizia a sua avozinha, por enquanto ainda não mudei de sexo, nem nunca trabalhei na área da panificação.
      Cada vez que leio os seus comentários fico mais convencido que a era do facilitismo no ensino foi base da desgraça deste país.

  1. Muito esclarecedor este seu comentário, Srª Dª Ana.
    Antes de mais pelo elevado nível do conteúdo. Tanto em termos de ideias como de vocabulário. Tudo de alto nível.
    É inegável que foi escrito por alguém de esmerada educação, e concomitante nível intelectual.
    Garante a Srª que eu escrevi isto: “Foi você que disse que quem lá vai sai pior…” Basta reler o texto para concluir que não é verdade. O que lá está é algo diferente: “NO REGRESSO ERA TÃO BURRO COMO À PARTIDA.”
    Concordará que não é bem a mesma coisa, pois não consta que o comparativo TÃO seja sinónimo de MAIS. E quando alguém, como é o caso, nem sequer consegue compreender com correcção aquilo que lê, isso significa tanta coisa, que até é melhor abster-se de comentar.
    Descendo agora ao seu nível, no que toca a ditos populares, julgo que a sua citação só pode aplicar-se a si própria. Que me conste, terei imensos defeitos, todavia ainda não mudei de sexo, nem tenciono mudar.
    No meu fraco entendimento, recorrendo ao vernáculo lusitano, os adágios que melhor se podem aplicar à minha crónica são dois:
    “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”.
    “As cadelas ladram mas a caravana passa.”
    Terei todo o gosto em debater consigo a pertinência do meu escrito, sempre e quando a senhora Dª Ana esteja disposta e seja capaz de respeitar a outra parte e as ideias expostas.
    Não fiquei minimamente incomodado com aquilo que escreveu. Os tomarenses já só muito raramente me surpreendem ou irritam. Temos de aceitar os conterrâneos tal como eles são, sem acalentar grande esperança de que algum dia venham a ser conforme gostaríamos que fossem.
    Caso não entenda, peço-lhe desde já desculpa, garantindo que está escrito em português. Pelo que, caso seja necessário, estou pronto a seguir Fernando Pessoa: “Eu traduzo para estrangeiro, para V. Exas perceberem melhor.” Para inglês de praia, por exemplo.
    Disse. Por agora.

  2. Há cromos que se não existissem tinham mesmo de ser inventados. Este é um deles.
    Quando se mistura uma saloiice provinciana com habilitações literárias e uma inteligência que ele é o primeiro a reconhecer e vangloriar modestamente, dá nisto. O cavalheiro até acha que o mundo ficou embasbacado e parou porque ele “mudou de opinião”. ´Óh homem, mude lá as vezes que quiser. Quanto a isso, a gente nem sabia que era opinião, nem que mudava, nem que você a tinha. Pode continuar, portanto.
    Agora essa de o convento ficar melhor nas mãos de privados ou de autóctones é mesmo um gatito pequenino com um grande rabo de fora.
    Já uma vez um rapaz que se acha vocacionado para as coisas a cultura, em particular teatro com sopa no fim, veio a público com essa lengalenga. No caso dele foi porque tinha lá andado no convento a fazer umas pantominas de brincar às escondidas – teatro de autor, achava ele, provavelmente – e a direcção do monumento achou que já era demais e bastava. E foi quanto bastou para o cavalheiro achar que ele é que devia ser o director. É claro que ele não disse assim. Disse que deveria ser a edilidade e designar o director – o que vai mais ou menos dar ao mesmo.
    No caso em apreço, este senhor, hiperentendido em turismo, sem rival em arredores muito largos, também acha por bem que, privado ou municipal é que é. Nacional e público é que não.
    Lá por ser público e nacional, não quer dizer que esteja bem. Longe disso. No uso, no estudo e na compreensão do convento haverá muita coisa a melhorar mesmo. Mas reparem bem neste aspecto da história daquelas pedras: ele até já foi privado, agora é nacional e até é com orgulho que muitos o consideram universal da humanidade. E então era agora que uns pindéricos cá do burgo, cuja edilidade não tem capacidade para arranjar uma rua, salvar uma antada da construção “pato-brava”, dar uso a um conventozito à borda do rio (aquelas ruinas junto à ponte velha), armados em “experts” gestores de património, travestidos de “privados” ou “municipais”, haveriam de ir “dirigir” o convento de Cristo?
    Enxerguem-se, senhores. A ideologia do “pequenino”, do poder local e do privado-municipal, numa sociedade pequena e tacanha como a nossa, é mesmo muito perigosa. É o terreno fértil e o húmos do compadrio e corrupção.
    E é, sobretudo, o caminho certo e garantido de um maior fechamento cultural.
    Mal por mal está muito melhor assim.

    1. Permita-me que o felicite, cidadão Samora. O sr. é mesmo uma maravilha, e este seu texto uma obra-prima de incoerência. Com uma virtude -é um retrato quase perfeito do cidadão tomarista. Autoconvencido, conservador e pretensamente de esquerda.
      Após investir com muito ânimo contra a “saloiice provinciana”, o cidadão cosmopolita Samora deixa-se afinal dominar pela velha e ultrapassada ideologia, numa postura pior que saloia porque carneiral. Após reconhecer que as coisas não estão bem no Convento de Cristo, nem para lá caminham. Após reconhecer que “haverá muita coisa a melhorar”. Acaba por rejeitar qualquer mudança substantiva, baseado em três argumentos: incapacidade municipal, compadrio e corrupção. Vai daí dispara: “Mal por mal está muito melhor assim”.
      Uma posição insensata, cosmopolita cidadão Samora. Porque há uma diferença abismal entre aquilo que já existe, e não serve cabalmente, e o que poderá vir a existir. Em palavras simples, onde já se viu comparar factos com meras hipóteses?
      A câmara não tem capacidade para assumir a gestão conventual? E quem disse que seria a Câmara a assumir tal responsabilidade? Há perigo de compadrio e de corrupção? E no actual modelo não há? São todos uns santinhos?
      Para concluir, releia por favor, cosmopolita cidadão Samora, a enormidade que escreveu no final do seu comentário: “Mal por mal está muito melhor assim”. Como é que sabe? Está a comparar com quê, uma vez que o outro modelo ainda nem existe?

  3. Ó Carlota:
    Então a menina acha que eu estou a comparara com meras hipóteses?
    Repare bem:
    – O que aconteceu em termos de demora e dificuldades para os munícipes com as obras em Palhavâ.
    – O que está a acontecer na Torres Pinheiro.
    – O que (não) está a acontecer com esse tal Convento de Santa Iria
    – O que aconteceu com os achados arqueológicos à volta do cemitério velho e local do Centro de emprego: tapar, alcatrão e cimento para cima, e os achador foram para Évora.
    – As Antas que são destruídas.
    Quer mais comparações? A menina então acha que o município e o privado têm mais competências, sensibilidade ou qualificações para gerir o património universal que é o Convento de Cristo.
    Olhe, Carlota: não me interessa nada que seja público e nacional e estatal ou privado ou municipal. E até lamento que o pendor predominantemente turístico que é dado ao monumento, no fundo, o abastarde. Mas isso é sinal dos tempos. Agora, no mínimo está preservado. Poder ser que gerações futuras o respeitem mais.
    Mas uma coisa é certa: a câmara municipal – tudo o que é post Manuel da Silva Guimarães – tem mais que provas dadas de que não faz a mínima ideia do que seja cultura. Tanto na versão património, como noutro aspecto qualquer.
    (Agora entretenha-se lá a adjectivar-me de “conservador”, de Esquerda” ou de outro epítetos que lhe aprouver)

    1. Sr. A. Samora:
      Acho este seu comentário mais pausado, mais dialogante em suma. O que só pode facilitar o indispensável debate sereno. Isto quanto à forma.
      Quanto ao conteúdo, a situação anterior mantém-se, conquanto agora se perceba melhor a argumentação que o sr. usou. Isto porque, convém ter em conta o seguinte:
      1 – Se não li mal, o autor não propõe uma gestão municipal, mas de uma empresa municipal, o que não é de todo a mesma coisa. Os monumentos de Sintra, por exemplo, são geridos por uma empresa intermunicipal, (Parques de Sintra Monte da Lua) e não pela DGPC, com geral agrado de todos. Mas também é verdade que Sintra está muito mais próxima de Lisboa (e na Região Saloia, veja bem!), recebendo por isso muito mais visitantes.
      2 – A crónica inicial aponta também para a eventualidade de uma empresa privada para dirigir o Convento, continuando a DGPC a tutelar no aspecto patrimonial (manutenção e restauro).
      3 – Vai-me desculpar, mas insisto na minha. Não é aceitável, em circunstância alguma, comparar ocorrências com meras hipóteses. Procurando justificar-se, o que compreendo e agradeço, o sr. acrescentou agora uma série de factos que não abonam nada a favor da gestão autárquica. Pelo contrário.Todavia, nenhum deles tem qualquer relação com o Convento, com a gestão de monumentos, ou com uma empresa municipal a constituir e destinada a esse fim.
      Uma nota a concluir.: Não acho que o município e/ou a iniciativa privada têm à priori mais competências, sensibilidade ou qualificações para gerir o Convento. Dependerá sempre dos colaboradores a contratar, bem como da formação que lhes for ou não facultada.
      O que sei, e disso tenho a certeza, é que não teriam os vícios, as manias, a prepotência, a evidente falta de formação e a arrogância daqueles que lá estão agora e desde há 40 anos. A começar pelo topo e a acabar na base.
      Há por lá um pessoal que, entre outras atitudes muito pouco dignas de funcionários públicos, até já furaram os pneus do carro de um director que pretendeu melhorar a situação. É claro que o visado se apressou a regressar às origens, mais concretamente à Batalha. Está a ver como as coisas são na realidade profunda, respeitável cidadão Samora?

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