
O Cidade de Tomar desta semana publica na página 2 uma peça com óbvia origem camarária, que obriga a um esclarecimento, por uma questão de higiene mental. O título da citada peça denuncia bem a sua origem, sendo afinal todo um programa: INTERVENÇÃO NO AÇUDE DO MOUCHÃO ALTERA SAZONALIDADE EM FAVOR DA SEGURANÇA E EFICÁCIA. Ou seja, em português escorreito, para que todos possam entender, PARA MELHORAR A SEGURANÇA E EFICÁCIA AÇUDE TEMPORÁRIO DO MOUCHÃO PASSA A DEFINITIVO.
Ainda assim, ambas as versões induzem o leitor em erro. Porque resulta do próprio texto em questão que na verdade não existem preocupações de segurança ou de eficácia. Apenas se pretende reduzir drasticamente o esforço anual dos funcionários da autarquia. É legítimo. Mas é outra coisa.
Infelizmente, para quem de boa fé julga ter conseguido “descobrir a pólvora”, esta já foi descoberta há séculos. Pelo que, não duvidando da honestidade dos arautos da ideia, cumpre lembrar a frase feita “Quem ignora o passado está condenado a repetir os mesmos erros.”
É precisamente o caso. Em 29 de Abril de 1967, foi inaugurado em Tomar o Hotel dos Templários, pelo “venerando chefe de Estado” de então, que no seu discurso foi claro: “Estou muito contente por me encontrar nesta encantadora cidade de Setúbal, pela primeira vez desde a última que cá estive.”
Nessa primeira fase do Hotel dos Templários, tinham também montado uma roda idêntica à do Mouchão, com um açude na aparência de modelo tradicional. Mas já então, tentando simplificar, resolveram fazer uma base em cimento armado, vulgo betão, com cavidades para as estacas. Foi um sucesso durante alguns anos. Em Outubro bastava retirar a areia, os ramos e a erva, ficando apenas as estacas e respectivas escoras. Em Abril seguinte, recolocava-se a a rama e a erva, puxando-se depois a areia.
Só mais tarde se deram conta que, contrariada no seu curso normal, a água do rio “comia” os alicerces do muro de suporte do Mouchão e da própria Estalagem. Era um rombo de tal monta que foi logo resolvido desmontar o açude e rebentar com a base de betão. Procedeu-se depois ao enchimento do rombo e à reparação do muro de suporte.
Eram tempos de censura, a informação local nada disse sobre tal erro, e anos mais tarde até a roda do hotel foi retirada.
Meio século mais tarde, repete-se o erro. Coloca-se uma sapata, desta vez com simples enrocamento, em vez de betão. Os autores da ideia e respectivos apoiantes gabam as vantagens. Não falam dos inconvenientes prováveis, que decerto desconhecem.
Todos os muros naquela zona do Nabão, bem como a Av, Marquês de Tomar estão assentes em estacaria de pinho, que ampara o enchimento com areia, cascalho e terra. Se um ano destes houver algum aluimento da faixa de rodagem ou dos canteiros do Mouchão/Várzea Pequena, já sabem. Tratem de desmontar o açude e voltar ao método tradicional.
Há muito que o Lavoisier sentenciou: “As mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos.”
Depois não venham com a habitual cantilena que ninguém avisou nem era previsível.
Gualdim Porque Sim
Muito oportuno, este alerta. Ainda será possível à douta Câmara introduzir uma emenda no orçamento para reparação dos efeitos da erosão da água. Eventualmente, teremos até mais uma Grande Opção para abrilhantar a posteriori a sessão de hoje da Câmara: a preparação do Nabão para enfrentar os desafios do Futuro.
É óbvio que a câmara vai fazer de conta que não leu. Porque é a sua especialidade. Passam a vida a fazer de conta. Por isso quase metade do eleitorado também faz de conta que vota. Amor com amor se paga.