
Começaram esta semana as obras de conservação e restauro do pórtico da igreja de Santa Maria do Olival em Tomar.
A empreitada foi entregue à empresa Signinum, Gestão de Património Cultural, a mesma que restaurou a igreja de S. João Baptista e a igreja de Nª Srª da Graça, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Tomar.
O contrato entre a câmara e a empresa, no valor de 21 226,5 euros (20.025,23 €+ 6%IVA), já foi assinado a 2 de setembro do ano passado, mas só agora começaram os trabalhos, desconhecendo-se a causa para este atraso.
Aquele pórtico ao estilo gótico tem revelado preocupantes sinais de degradação com queda de pedras e de elementos escultóricos.
Durante as obras que se vão prolongar por três meses a entrada no monumento faz-se pela porta lateral.
Perigo na igreja Santa Maria do Olival: reboco da torre está a desfazer-se
Sobre a igreja de Santa Maria do Olival
Classificada como MONUMENTO NACIONAL em 1910, é um exemplar emblemático da Arte Gótica em Portugal.
Igreja de invocação de Nossa Senhora da Assunção, é uma obra Gótica marcante (destaque para o Portal Triunfante), apresentando também diversos elementos característicos do Renascimento e Maneirismo (colunas toscanas, abside flanqueada por gigantes, pilastras e capitéis jónicos…). Uma das primeiras neste estilo e que serviu de modelo a muitas outras no nosso país…
Ao longo dos séculos o monumento foi sofrendo acrescentos e alterações ao original.
Implantada sobre o SELIUM (próximo do antigo FÓRUM da Cidade Romana) localiza-se na Margem Esquerda do Rio Nabão, na cidade de Tomar.
A Igreja de Santa Maria do Olival ergue-se no Séc. XII, sobre os alicerces das estruturas do Império Romano, que são utilizados como suporte e muros de uma extensa Necrópole Medieval associada à Igreja.
O Primitivo Templo, fundado por Gualdim Pais, por volta de 1160, foi Sede da Ordem dos Templários entre nós, servindo de Panteão dos mestres da ordem.
Neste espaço foi inicialmente erigido um Mosteiro da Ordem Beneditina (mandado edificar por São Frutuoso – Arcebispo de Braga), Mosteiro Cristão (séc.VII) quando ainda faltava muito tempo para Portugal nascer …
Segundo a Lenda… fala-se ter existido aí num Túnel construído pelos Templários, ligando o Castelo à Igreja de Santa Maria do Olival. No chão da igreja existe uma laje maior que as outras e alinhada de forma diferente- artefactos que suportam a tese de que aí terminava esse túnel.
Durante a Idade Média, Tomar cresceu entre o Monte do Castelo e o Rio. Santa Maria ficava na outra margem, nos terrenos cobertos de olivais – daí o nome da Igreja “ Santa Mara dos Olivais ”.
GUALDIM PAIS manda construir, sobre os muros do velho MOSTEIRO BENEDITINO, uma IGREJA e uma poderosa TORRE, para proteger o Templo de possíveis ataques. Dessa época restou apenas o Portal da Igreja.
Terminada a guerra com os Árabes, a paz trouxe um novo estilo arquitetónico, o Gótico… e operam-se alterações.
A Igreja e a zona envolvente serviam de NECRÓPOLE das Freiras da Ordem, tendo o próprio Gualdim Pais sido sepultado no interior do templo, em túmulo datado de 1195 (do qual resta apenas a inscrição funerária):
“ Aqui jaz o Irmão Gualdim Pais, Mestre da ordem dos Templários de Portugal, em 1195 nos idos de Outubro, aqui no Castelo de Tomar, que como muitos outros povoou. Descansa em paz.”
Do mesmo espólio temos também parte do túmulo de D. Martim Martins, Mestre dos Templários que viveu em meados do séc.XIII.
Na 2ª metade do século XIII, reinado de Afonso III, a Primitiva Igreja sofre ampla reforma dando origem ao edifício gótico atual. Da feição Românica inicial (fachada norte, arco de volta perfeita) o novo templo torna-se referência da arquitetura gótica mendicante portuguesa, servindo de protótipo de várias igrejas paroquiais, monacais e catedralícias do Norte e Sul do Portugal.
Com a extinta Ordem do Templo (1314), esta Igreja torna-se Sede da recém instituída Ordem de Cristo, mantendo a sua função funerária. A sua grande importância na época medieval – é comprovada pela Bula Papal (passada ainda no período templário), que colocou este templo na dependência direta do Papa e da Santa Sé, fora da alçada da Diocese. Mais tarde, através de duas Bulas (1454-Papa Nicolau V e 1456- Papa Calisto III) foi dada obrigação à Ordem de Cristo de estabelecer direito espiritual sobre todas as terras encontradas pelo Reino de Portugal, como “nullius diocesis”, tornando esta Sé Matriz de todas as Igrejas Matrizes dos territórios encontrados na Ásia, África e América, sendo-lhe conferida a honra de Sé Catedral – associada à intensa participação da Ordem de Cristo na Diáspora dos Descobrimentos.
Na Modernidade (Séc. XVI), reinado de D. João III e D. Manuel I, é submetida a obras de reparação e sofre alterações: são destruídos os túmulos dos Mestres Templários e da Ordem de Cristo que estavam no interior da igreja, acrescento de uma varanda com alpendre e sobre esta são construídas cinco capelas laterais, construção da abóbada e da janela golpeada da sacristia, galeria da fachada sul, capelas maneiristas …
No Séc.XVII é enriquecida com azulejaria e na 1ª metade do Séc.XX procura-se recuperar a aparência gótica da igreja (reconstrução da cantaria do altar-mor e a grande ROSÁCIA da fachada principal, que substituiu a janela pré existente sobre o arco do cruzeiro.
::::::::::::::::::::Breve abordagem estilística::::::::::::::::::::::::::::
Igreja Paroquial gótica manuelina e maneirista.
São alguns dos principais motivos de interesse:
– a “ROSÁCEA” sobre o o portal, com as 12 pétalas de vidros coloridos por onde entra a luz que ilumina a igreja. É um dos mais belos elementos artísticos deste templo/monumento;
– o interior da “CAPELA – MOR”, onde está a linda Imagem de Nossa
Senhora do Leite (Nossa Senhora a amamentar Jesus) do Séc. XVI;
– PORTAS maneiristas de comunicação para as Capelas e arcos de entrada do
(lado Sul);
– Janela manuelina da SACRISTIA e o PÚLPITO quinhentista;
– Imagem de Nossa Senhora de Leite (Séc. XVI).
De Planta Longitudinal, é composta por três Naves, Cabeceira tripartida escalonada, com absidíolos quadrangulares.
A Fachada Principal tem três corpos, divididos com Contrafortes, correspondendo às naves do interior: o corpo central rasgado por pórtico de arquivoltas quebradas. O conjunto é sobreposto por Grande Rosácea.
São várias as características do Gótico mendicante: fachada, planimetria e organização de volumes.
Por Conceição Fragoso, Historiadora (Agosto 2019).
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FONTES
– AMORIM, Rosa – História de Tomar, Tomar, 1982.
– CHICÓ, Mário Tavares – A Arquitetura Gótica em Portugal, Lx,1981.
– DUARTE, Maria do Rosário Antunes – “A Igreja de Santa Maria do Olival” in
BOLETIM CULTURAL da CMT, Tomar,1988.
– GUIMARÃES, Vieira – Inscrições Tomarenses, Séc.XIII, Anais dos Amigos dos
Monumentos da Ordem de Cristo, Tomar, 1918.
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– Dicionários Porto Editora.Infopédia, “Igreja de santa Maria do Olival”, Lx,2019.
– WWW.PatrimónioCultural.gov.pt