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De onde vem a água do Agroal?

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No grupo “Amigos de Ourém e seu Concelho” no Facebook, Paulo Nunes partilhou um texto sobre a origem da água do Agroal, praia fluvial entre os concelhos de Tomar e Ourém. Da montanha brota uma água muito fria com alegadas propriedades terapêuticas. Mas de onde vem essa água?

Dado o interesse do tema partilhamos aqui o referido texto:

“Muitos se questionam sobre a origem da água do Agroal… o que se passará por debaixo daqueles montes? E a água da Fonte Grande ou do Olho do Tordo? Vamos tentar desmistificar um pouco isto.

O aspeto central desta questão é o tipo de rochas que estão presentes no Maciço do Sicó, que inclui a Serra do Sicó e a Serra de Alvaiázere – o calcário. Este tipo de rochas são permeáveis e dissolvem-se na água, o que origina algares, grutas, rios subterrâneos. É por isso muito difícil encontrar cursos de água à superfície em serras calcárias, pois a água infiltra-se no solo e, com o tempo, vai abrindo caminho no subsolo criando galerias. Acontece isso no Maciço do Sicó e também na Serra d’Aire, pois também ela é calcária.

O que acontece, portanto, no interior daqueles montes é a existência de inúmeras galerias, que podemos imaginar semelhantes às grutas da Serra d’Aire. É para essas galerias que vai correndo a água que se infiltrou na serra durante as chuvas. Como o maciço ocupa uma área muito grande (tem cerca de 50 km de comprimento, iniciando-se perto de Alcabideque, a norte de Penela), o “pinga-pinga” de gotas de água, mesmo fora da época de chuvas, chega para alimentar um curso de água subterrâneo que deverá ter início na parte norte do Maciço do Sicó e que vai correndo para as cotas mais baixas a sul. É possível que existam também algumas infiltrações do próprio Nabão ao longo do seu percurso antes do Agroal, que alimentam estas galerias. O Agroal é, portanto, o final de um conjunto de cursos de água, que formam um rio subterrâneo e seus afluentes (imagine um rio à superfície com os seus tributários, mas neste caso é debaixo do solo.

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A água corre naturalmente para cotas mais baixas e o que está na cota mais baixa do complexo de galerias é o Agroal – está explicado a nascente do Agroal… e o que acontece em períodos de muitas chuvas? Para responder a esta questão temos que continuar a imaginar as galerias por debaixo do monte. Devemos também ter em atenção uma diferença muito relevante entre o curso de um rio à superfície e o curso de um rio subterrâneo – o curso de um rio à superfície é como uma calha (não tem limite superior); o curso de um rio subterrâneo é como um tubo (tem um teto). Quando a água é muita, num rio à superfície, ela transborda pelas margens; num rio subterrâneo, ao não conseguir escoar totalmente pelo dito “tubo”, vai enchendo as galerias interiores da serra; vai enchendo tanto que a certa altura encontra pontos de saída a cotas mais altas… É o que acontece na Fonte Grande, no Olho do Tordo, no Olho da Quebrada, na Mendacha localizada mais a sul, e na própria nascente do Nabão em Ansião, entre vários outros locais… sendo estes pontos de saída ligados às galerias subterrâneas, mas a cotas mais altas do que o Agroal, eles apenas brotam água quando esta é tanta que não se consegue escoar na totalidade pelo Agroal, enchendo assim as galerias e acabando por brotar mais acima.

Uma curiosidade: há muitos milhões de anos, o Nabão ainda não tinha escavado o desfiladeiro naquela zona (o chamado Canhão do Agroal do qual já falámos aqui), e as galerias continuariam mais para sul, talvez até perto do local onde hoje é Tomar. Nessa altura (não se esqueçam que falo de há milhões de anos), o Nabão corria muito mais acima e abaixo corria o rio subterrâneo, sendo o encontro entre os dois feito bem mais a sul. Com o tempo, milímetro a milímetro, o Nabão foi escavando o desfiladeiro… e escavou tanto que a certa altura chegou à profundidade por onde corria o rio subterrâneo… e eis os dois cursos de água, o de superfície e o subterrâneo, unidos no nosso Agroal”.

Paulo Nunes

 

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