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Como a Tomar de hoje era imaginada há mais de 100 anos

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A 26 de setembro de 1912 o jornal “O Rebate”, de Tomar, publicou um curioso artigo intitulado “Utopia – O que será Thomar d’aqui a cem anos?”. Ou seja, o autor, que assinava por A.N., procurou imaginar como seria Tomar um século depois e previu que seria “uma das mais belas cidades do mundo”. “Thomar d’aqui a cem anos será um el-dourado, a cidade do luxo e do prazer”.

Pelo seu interesse transcrevemos o referido texto com a grafia da época:

UTOPIAS…

O QUE SERÁ THOMAR D’AQUI A CEM ANOS?

Ahi para o ano de 2012 ainda será possível vêr na cidade de Thomar, alguns destes casebres mal alinhados e mal arquitétados que hoje vemos, como que a pôr uma mancha vergonhosa n’este belo jardim que o Nabão banha?

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Thomar d’aqui a cem anos será uma das mais belas cidades do mundo, incomparavelmente mais bela que a mais bela e mais rica cidade da Cote d’Azur.

D’aqui a cem anos Thomar será uma cidade de primeira o ordem, séde do governo da provincia. Aqui esterão aquartelados regimentos d’infanteria, de cavaleria, do artilheria e lá

em cima junto ao Castelo de D. Gualdim Paes um «hangar» gigantesco abrigará uma esquadrilha de «aeroplanos».

O hoje já populoso e laborioso bairro d Além da Ponte será a parte maior da cidade onde se erguem enormes edifícios sobresahindo pela sua arquitétura os da Estação Cetra! dos Caminhos de Ferro e o do Automobile Palace. Thomar a esse tempo será o ponto de irradiação de quatro linhas ferro-viárias que a porão em comunicação rapida por meio de comboios movidos por elétricidade com o norte-sul, éste e oéste do paiz.

O percurso de Thomar a Lisboa será feito em 20 minutos em comboio rapido, apenas com paragem em Santarem,

A esse tempo porém, as viagens de recreio fazem-se pelo aeroplano.

Onde hoje está construida a egreja de S. João erguer-se-ha o magestoso edifício da estação dos aeroplanos. O acésso á torre onde os aéroplanos estão atracados far-se-ha pelo elevador elétrico construído a dentro do edificio.

A Fabrica de Fiação, explorada por um grupo de capitalistas será uma coisa assombrosa. As suas oficinas, as casas das maquinas geradoras da elétricidade, os seus armazens, os seus escritorios e as casas de habitação dos seus dez mil operarios ocuparão uma area de 10 kilometros quadrados.

O Grande Hotel de Tomar, situado onde hoje está o palacio da Anunciada será um belo monumento recheado dos mais requintado luxo. Elevadores elétricos constantemente ao serviço dos opulentos hospedes que ali se veem, hospedar de todas as partes do mundo, se cruzarão subindo e descendo a encosta onde os fócos eletricos á noute vão pôr reflexos brilhantes na água cristalina dos repuchos dos lagos magestosos onde enormes cysnes brancos marcam a nota poética n’aquela maravilha da arte e da natureza.

Os quarteis dos regimentos estender-se-hão por toda a enorme Varzea, hoje propriedade do Conde de Thomar. O grande edificio dos correios e telegrafos, será ahi onde hoje vemos a Companhia de Viação, que a esse tempo d’ela nada restará por ter desaparecido a tração animal…

O nosso belo rio, depois de custosas obras em diques, profundação e outros melhoramentos hidraulicos realisar-se-hão corridas de barcos automoveis.

O Mouchão, propriedade da comuna, será um belo campo de sport. A’ noute a ponte pensil que passa por sobre a cidade e que liga a estação central dos caminhos de ferro com a encosta do Convento para a passagem da linha Thomar Gouveia será d’um efeito surpreendente, com os seus poderosos glôbos elétricos.

E lá em cima o Casino onde hoje estão o palacio e a propriedade dos Condes de Thomar – regorgitará de touristes inglezes, francezes, alemães, belgas, hespanhoes, russos, japonezes… touristes de todas as raças, falando as mais desencontradas linguas.

Da praça da Républica terão desaparecido os atuais Paços do Concelho e a meio erguer-se-ha a estatua de D. Gualdim Paes — aquele que viveu ahi em 1140, mais ano menos ano…

A estatua será pedestre vendo-se no pedestal medalhões com efigies do dr. Vieira Guimaraes e do cidadão José Bento.

Thomar d’aqui a cem anos será assim transformada! Thomar d’aqui a cem anos será um el-dourado, a cidade do luxo e do prazer. Cidade onde se vive e morre n’um minuto, onde as mais fabulosas fortunas tombam sobre os panos verdes dos seus esplendorosos casinos.

E de Thomar d’hoje nada ou pouco restará. As suas ruas serão largas e alinhadas por construções magestosas, edificios de 3 e 10 andares. Os seus jardins enormes e floridos estender-se-hão por toda a parte. E entre os seus edificios, notar-se-hão pela sua arquitétura e pela sua vastidão e altura aqueles onde estão instaladas as sucursaes dos Bancos, a Comuna e – as oficinas e redação de O Rebate que será diario publicando 2 edições de 12 paginas.

Assim será Thomar d’aqui a cem anos…

A.N.

Jornal “O Rebate”,

26 de setembro de 1912

Copia 2 de Tomar 100 anos 1912 09 26 3

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10 comentários

  1. Uma descrição interessante e com uma linguagem rica reflectindo as ideias utópicas do autor em 1912. O pior é que entretanto as utopias não se confirmaram, pelo contrário, a cidade regrediu especialmente nos últimos 50 anos e a maioria dos tomarenses que votam continuam a acreditar em utopias. Quanto aos outros tomarenses (os que não votam) qualquer coisa serve.

  2. Eu prevejo daqui a 100 anos, com a redução populacional do país, e com muita gente a “emigrar” de Tomar para Lisboa, uma cidade abandonada e tenebrosa, com algumas centenas de pessoas, e muitos edifícios em ruínas. Sem serviços, sem nascimentos (foram todos nascer para Abrantes e aí ficaram), apenas ficaram os velhos na localidade que desceu a vila, e está a perder a vida.

  3. Ora aqui está um otimista, com um grande fascinío pela ciência, nomeadamente aeronáutica e electricidade, que eram as novidades da época, e era alguém que não era tão utópico quanto isso, deve de ter sido um homem bastante lúcido, ou estão era bruxo, porque ele acertou em muita coisa como a estátua de D.Gualdim, e achei curiosa a descrição permonorizada, a iluminação do castelo, a ideia de um TGV, o parque desportivo no Mouchão, e previu o afluxo do turismo, achei muito curioso ele imaginar turistas japoneses, tendo o Japão se aberto recentemente ao mundo ocidental. Hoje já não há otimistas em Tomar, ou se os há não comentam no Tomar na Rede.

    1. Era só para lembrar que entre otimistas e os pessimistas há também os realistas. E estes é que são cada vez menos e cada vez mais calados em Tomar. Deve ser gente com boa audição, que tomou boa nota da conhecida sentença “Quem se mete com o PS leva!”

      1. Francisco Ferreira a vida faz-se com expectativas e convém mais estas serem positivas do que negativas. Quanto a quem se meter com o PS levar é a vida…. com os outros partidos não deverá ser muito diferente, quem vence as eleições acha-se sempre o rei da côcada.

  4. Um visionário fracote. Que chama “palácio do conde” ao Convento e “palácio” ao convento da Anunciada. Mesmo assim tem o mérito de apresentar um programa para o século seguinte, coisa que, cento e 9 anos mais tarde, os diretórios partidários e os tomarenses em geral são incapazes de fazer. Mesmo só para os próximos 4 anos.
    É legítimo deduzir que se trata de um militar, que naquele tempo sonhava com vários regimentos, e até aviação, em Tomar. O futuro veio a desmenti-lo. Chegou até a haver um quartel general, mas nunca unidades de artilharia ou cavalaria, como previa. O que não evitou que entretanto a Várzea grande, que ele antevia toda ocupada por quartéis, se viesse a transformar no que será doravante. Uma espécie de miniparque urbano, foleiro, pretensioso e sem qualquer utilidade prática.
    Enganou-se redondamente no caminho de ferro, cuja estação ficou aquém da ponte e nunca passou de Tomar, apesar dos posteriores esforços dos anos 20/30 para fazer a ligação à Nazaré.
    Mas acertou no caso do Grande Hotel e do Gualdim Pais.
    Edificado logo a seguir à chegada do caminho de ferro, em 1936, o Grande Hotel faliu nos anos 40 do século passado. Resta o prédio em ruínas, atrás daquela fiada de prédios à esquerda da Rodoviária. Em dias de chuva e humidade, como agora ainda se consegue ler parte do nome, na fachada virada para a av. dos Combatentes.
    Igualmente acertou quanto ao monumento a Gualdim País. Pelo que se lê, após mais de três décadas de ruminação nabantina, as inteligências locais acharam que o melhor sítio para uma modesta estátua (por não haver dinheiro para mais) do fundador do castelo era à frente dos Paços do concelho, com o homenageado virado para a igreja e de costas para a Câmara. Até parece que vai entregar o alvará ao sr. padre, mas o escudo a proteger as costas indica que os autarcas (e os funcionários!) não são de fiar.
    A tragédia agrava-se de dia para dia, mas com os tomarenses tão contentes, nada se pode alterar. Até um dia.

  5. Daqui em 100 anos, continuando a mesma molenga dos últimos 46 anos, Tomar como cidade já não existirá, na melhor das hipóteses será uma aldeia abandonada

    1. Nem sei mesmo se levará tanto tempo, tendo em conta que o despovoamento tem vindo a acentuar-se. E contrariando os aproveitadores, a começar pela atual maioria local, não tem a ver só nem principalmente com a interioridade. Tem como principal causa a evidente falta de habilidade prática, de capacidade e de perspetivas de quem preside à autarquia local. As percentagens anuais de migrantes tomarenses é o que mostram.

  6. Esse Senhor a fazer futurologia
    Enganou se é bem
    Tomar é que Bonita Cidade
    É o que faz mexer a Cidade é o Ramal de Tomar e alguns serviços
    Como será Tomar em 2120
    Melhor ou pior
    Possivelmente pior

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