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Sacudir a poluição do capote

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A abrir e para simplificar, digamos que ao fim de vários anos de protestos, sobretudo do tomarense Américo Costa, e de habilidades autárquicas várias para ir camuflando a triste realidade, a câmara de Tomar acabou por admitir aquilo que já muito antes era voz corrente na cidade -a poluição do Nabão tem três origens principais: a ETAR de Seiça, uma suinicultura e alguns lagares.

Colocada assim perante uma realidade triplamente desconfortável, uma vez que é tomarense e gosta do rio, mas preside em simultâneo à câmara, vítima da poluição e cujos eleitores se queixam cada vez mais, e à Tejo ambiente, poluidora cujos clientes forçados vão também protestando, Anabela Freitas adoptou uma política pessoal muito hábil, porém arriscada em termos eleitorais. Vai tentando sacudir a poluição do capote. Mas ninguém gosta de ser enganado. Sobretudo quando é intencional.

Enquanto presidente da Tejo ambiente, anunciou e apoia um grande projecto, da ordem dos 22 milhões de euros, alegadamente para resolver quase por completo o problema da poluição do Nabão. Enquanto presidente da Câmara, vai solicitando apoio popular para obter verbas europeias destinadas ao dito investimento, ao mesmo tempo que vai tentando sacudir a água do capote. Repete com insistência que infelizmente a autarquia só tem autoridade sobre o rio na área urbana. Subentendido, …e aqueles malandros do governo não fazem nada por Tomar.

Topa-se, mesmo sem auxiliares de visão, que se trata de mais uma desculpa bem engendrada para fugir às responsabilidades que lhe incumbem, e que podem vir a provocar a perda de muitos votos. Situação assaz desconfortável em ano eleitoral.

É verdade que a câmara só tem autoridade sobre o Nabão na área urbana. Mas também é verdade que a origem dos efluentes poluidores é agora bem conhecida. Sabemos portanto que pelo menos a ETAR e a suinicultura nunca cabalmente identificada, ou sequer mencionada nominalmente, estão localizadas no território do concelho de Tomar, fora da área fluvial de competência governamental. E dependentes de alvarás municipais.

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Cai assim por terra, sem remissão possível, a argumentação de Anabela Freitas. A Câmara tem mesmo competência para intervir, e se algum dia ganhar coragem e deixar de ter medo de perder votos, bastará ordenar aos seus funcionários que sinalizem o colector ou colectores entre a ETAR e o rio, bem como entre a suinicultura e o Nabão. Depois é só proceder em conformidade. Chamar as autoridades para constatarem as descargas e recorrer ao poder judicial contra os poluidores, nos termos da lei em vigor. É assim que se faz em todo o país. E as penalidades previstas são bem pesadas.

Poderá haver depois algum ou alguns conflitos de interesses. Como por exemplo Anabela queixosa (Câmara de Tomar) contra Anabela arguida (Tejo Ambiente). Ou ainda, eventualmente, autoridades procurando evitar molestar oficiais na reserva, entretanto reconvertidos na suinicultura. Mas isso dos compadrios é típico da política à moda de Tomar desde há muitos anos. “Não me comprometa!”

Uma nota final, sobretudo para aqueles tomarenses mais esperançados na resolução do problema da poluição do rio. Aproveitem enquanto dura o confinamento para lerem esta longa reportagem do OBSERVADOR.

Se em Leiria, concelho com mais de 110 mil eleitores, contra os 34 mil de Tomar, o problema da poluição do rio Liz se arrasta há 50 anos, apesar do nome do afluente mais atingido -Ribeira dos milagres- para quando uma solução para o Nabão? 

Visivelmente, não temos peso político para tanto.

Se calhar, o tal projecto de 22 milhões de euros, é bem capaz de ser só conversa eleitoralista para entreter. Segundo a frase popular, “dá tempo ao tempo e o tempo te dará todas as respostas.”

Há eleições autárquicas lá para Setembro ou Outubro. É nelas que mora a solução para a poluição do Nabão. Ouviram, eleitores tomarenses???

                                                                 António Rebelo

 

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6 comentários

  1. Em cheio Prof.Rebelo.
    Acresce que se o Tejo Ambiente aumentar a construção de redes de drenagem para as ETARs que já nao têm capacidade de tratamento o problema irá aumentar grandemente.
    MG

    1. É o que já está a acontecer. A Tejo ambiente já abriu concurso público para mais 1.450 ramais domésticos em Ourém. Acresce que parte daquilo que foi combinado entre Ourém e Tomar aquando da construção da ETAR de Seiça em terrenos da Sabacheira, nunca foi cumprido. Há por exemplo a rede de esgotos da Sabacheira, cujos ramais domésticos ainda não foram feitos. Ou seja, a freguesia tem uma ETAR , tem parte da rede, mas não se pode dizer que tem saneamento público. Lindo, não é?

  2. Continuar a fazer equilibrismo político, renunciar às duas presidências ou renunciar só à presidência da Tejo ambiente. São os 3 cenários possíveis para Anabela Freitas. Nenhum deles é confortável. Nem garante a reeleição.
    Se entretanto até Setembro aparecerem os desejados/reclamados 22 milhões de euros e começarem as anunciadas obras para resolver o problema da poluição, a vitória do PS em Tomar ainda é possível. Caso contrário, mesmo com tantos votos précomprados (subsídios, ajustes, empregos, eventos, auxílios vários), é melhor aguardar para ver. Os tomarenses estão fartos de mentiras e falsas promessas.

  3. Falta a vinda do investidor chinês , que costuma aparecer para a foto de família antes das eleições..
    Se já estiver incapacitado pela idade pode vir o filho , pois eles são todos parecidos..
    Já agora o turismo beneficia deste espetáculo de cor e cheiro nos futuros hotéis da estalagem e Convento de St. Iria!!

    1. Ora aí está um cluster turístico a incluir num hipotético plano local de desenvolvimento turístico -turismo de odores, para estimular a glândula pituitária. Seremos os primeiros no país ou mesmo na Europa, e podemos avançar sem hesitações. Temos merda que chega e sobra. Em todos os sentidos da expressão.

  4. Torna-se cada vez mais estranho e visível o silêncio dos eleitos e comentadores habituais do PSD sobre esta nauseabunda matéria. É bem capaz de ser porque a câmara poluidora é do PSD.
    Se for o caso, é tempo de optar, minhas senhoras e meus senhores. Tomar sempre em primeiro lugar? O partido antes de Tomar? Decidam-se.
    A poluição está aí para durar e as eleições são já ali adiante.

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