Os eleitores mais atentos já estão vacinados. Só os fiéis das várias capelinhas ainda acreditam naquilo que dizem os diversos dirigentes partidários em noite de balanço eleitoral. Ganharam todos, uns de um modo, outros de outro. Podia lá ser de outra maneira?
Desta vez, até a evidente derrocada do BE foi largamente justificada com a alegada transferência de votos para a candidata socialista, para barrar o caminho a André Ventura. O tal voto útil, neste caso tipo “não passará!”
Na impossibilidade prática de uma análise detalhada a nível nacional, o que dizem afinal os números oficiais no concelho de Tomar, que é aquilo que mais deve interessar aos tomarenses, por razões óbvias.
Os socialistas locais alardeiam calma e satisfação, quando se calhar deviam era estar seriamente preocupados. Isto porque, num concelho em que Marcelo Rebelo de Sousa obteve percentagens superiores ao resultado nacional em todas as freguesias, excepto na área urbana à tangente (60,76 nacional, 60,72 em S. João/Santa Maria), os resultados de André Ventura deviam inquietar a atual maioria.
Nas cinco freguesias lideradas pelo PS (Asseiceira, Madalena, Paialvo, Sabacheira e S. João/Santa Maria) Ventura obtém percentagens superiores à nacional. Mais de 13% em 4 e 12,83% na Asseiceira, o que lhe dá a vitória sobre a socialista Ana Gomes, cujo melhor resultado concelhio é o de S, João/Santa Maria, com 13,2%, mesmo assim inferior ao de Ventura, com 13,56%.
Merece destaque a evidente rejeição da candidata socialista, sobretudo na parte nascente do concelho. Apenas 4,13% nas Olalhas e 6,16% na Serra/Junceira, mas também 6,65% em Além da Ribeira, 8,27% na Asseiceira e 9;63% em Paialvo.
Perante estes números, que são incontroversos, em que se baseia o PS local, para conjecturar que vai vencer as eleições locais? É só mais uma balela para enfeitar a verve de Anabela Freitas? Esquecem-se que além do habitual PSD, desta vez há também a incógnita Chega, que no confronto com a socialista Ana Gomes venceu em todas as freguesias, apesar do tal “voto útil” do BE?
António Rebelo
Os partidos que concorrem às eleições não ganham eleições !!! É quem está no PODER que as perde.
Em Tomar tem sido o que aconteceu , por isso a atual presidente só sai se os tomarenses estiverem de tal maneira saturados da sua “governação” que votem noutro partido para se ver livre dela.
Tem pouco a ver com os partidos!! Agora com os anunciados concorrentes é mesmo preciso os tomarenses terem começado a tirar as palas e a perceber o que Tomar tem regredido nestes últimos anos.
Já agora, o chinoca que aparece na época das eleições, está bem conservado!!
A analise de resultados eleitorais é questão interessante para os politólogos, tal como é interessante especularmos acerca das transferências de voto que possam ter existido.
Uma coisa é certa: em tempo de crise, pandémica ou outra, como se vive presentemente, os votos ganham volatilidade, e ao eleitor falta confiança.
Pois então, analisar e especular, não é fácil.
Não sendo a coisa partidária o meu campo preferido para esses exercícios, sempre avanço uma opinião, que tem a ver com a “novidade” das recentes eleições.
Os resultados de Ventura, podem ter surpreendido muita gente.
Mas eram expectáveis, tanto é o descontentamento e a desilusão (justificadíssimos) que reinam entre os Portugueses.
E apareceu um politico que o percebeu, Ventura de seu nome. Arrecadou parte interessante dos descontentes, e dos indignados.
Mas a distancia do Ventura para o Chega, e das Presidenciais para as outras eleições, é enorme. Em especial para as Autárquicas, tão fulanizadas elas são, seja quanto aos protagonistas, seja quanto aos arregimentadores de opinião, e de votação.
Não podemos, pois, em minha opinião, ler nas 2 cartilhas em simultâneo.
Manuel Santos, plenamente de acordo consigo quando escreve que estes resultados não permitem prever o que vai acontecer nas autárquicas, e também tenho tentado passar isso ao António Rebelo. E vou fazer uma previsão: se a situação pandémica não melhorar rápidamente a Anabela Freitas perde a câmara para o PSD. O CHEGA apesar da votação do Ventura não chega lá.
Caro Helder, estamos outra vez com a burra nas couves, como se dizia antigamente. Agradeço de bom grado os seus esforços para me levar a mudar de opinião. Acontece porém que a minha opinião não é essa que me atribui. Em termos claros, eu nunca escrevi ou disse que os resultados das presidenciais PERMITEM PREVER os resultados de Outubro. O que sempre disse e sustento é que são uma boa ocasião para suputar o que possa vir a ocorrer nas próximas autárquicas. Isto porque, como me parece evidente, estes resultados de Janeiro vão ter influência na próxima consulta eleitoral. Aliás, já começaram a ter. O acordo PSD/CDS que exclui qualquer aliança pré-eleitoral com o Chega, é dos primeiros sinais da enorme guerra interpartidária que aí vem.
Parece-me pouco convincente essa sua previsão segundo a qual, a continuação da pandemia vai ditar a vitória do PSD em Tomar. Porquê, Helder? O que está você a esconder-nos?
Então as presidenciais não permitem prever os resultados das autárquicas, escreve você e eu concordo, mas a persistência do covid19 já permite?
Aproveito o contexto para também avançar com uma previsão, um simples palpite, no estado actual das coisas, isto é, conhecendo-se apenas a lista do PS. Na minha opinião, caso insistam em apresentar-se sem programa nem projectos realistas, como aconteceu em 2017, os socialistas locais já perderam.
Em Outubro veremos quem tinha razão. Se as eleições forem mesmo em Outubro. Acabo de ler algures que o ratão Santana Lopes já está pedir o adiamento…por causa da pandemia, claro!
Se a pandemia continuar durante muito mais tempo os Tomarenses vão culpar o governo PS: vão dizer que não fecharam as escolas quando deviam, não fecharam as fronteiras a tempo, fecharam os restaurantes e não pagaram o lay off a 100%, etc,etc…, e vão querer dar um cartão amarelo ao governo. A eleição presidencial foi diferente, o Marcelo é muito popular, é um especialista em marketing politíco e é um gajo de centro/esquerda com uma forte crença religiosa. Ele diz que é de direita social mas para mim ele é mais de esquerda. Quanto ao programa mantenho o que já aqui escrevi, ninguém lê aquilo, o que interessa são as influências e a situação geral do país. A malta não se interessa pela gestão municipal, a não ser quando aumentam as taxas municipais, a água e os esgotos. Quando os projectos camarários estão em discussão pública só meia dúzia de gatos pingados lá aparecem.
É um bom raciocínio, Helder, mas convém não esquecer que a História nunca se fez, nem faz, com SES, e o seu texto começa por SE. É natural que a pandemia possa vir a influenciar os resultados das autárquicas, mas creio que não mais que as presidenciais. Porque, presidenciais são presidenciais e autárquicas são autárquicas, tal como o governo é o governo e as câmaras são as câmaras. A seguir a sua linha de pensamento, os eleitores só poderiam castigar o Costa naqueles concelhos em que dirigem a autarquia. É isso, caro Helder?
Sobre os programas eleitorais, há que ser claro. Ninguém pode ler aquilo que não existe. Ando por cá há tempo suficiente para poder afirmar que, de 1976 até agora, em Tomar pelo menos, ainda nenhuma formação política concorrente apresentou um programa eleitoral digno do nome. Tem havido por vezes umas listagens de intenções, sem articulação nem explicação cabal, mas nunca se passou daí. Por conseguinte você tem razão Helder: “ninguém lê” e “A malta não se interessa pela gestão municipal”. É como no cinema, no teatro, na literatura, e por aí adiante. Quando não presta, quase ninguém lá vai e poucos se interessam.
Situação que resto você confirma logo a seguir, na última frase “…só meia dúzia de gatos pingados é que lá aparecem.” Pudera! No caso do chamado PDM de Tomar, aquilo é repelente até para os especialistas da arte, quanto mais agora para os reles profanos, que somos todos nós, na óptica de quem teve o descaramento de vender uma coisa assim à autarquia. Salva-se o acrónimo da coisa: PDM = Plano Director de Merda.
E estou de acordo com A. Rebelo e H. Silva naquela questão essencial do “Programa”, apesar das posições serem contraditórias.
Mas é simples.
De acordo com H. Silva, porque ninguém lê os programas eleitorais. Mas ninguém os lê, porque são “ilegíveis”, já que são, no fundo, todos iguais, e não passam de um cardápio de obras, e de algumas intenções que não mobilizam ninguém.
De acordo com A. Rebelo, porque um bom programa, que vá para além do cardápio de obras, e que mostre um caminho para o Futuro, será lido, compreendido e votado. Um Programa que demonstre como percorrer esse caminho e como alcançar as metas propostas.
Um Programa mobilizador de toda a Sociedade, desde escolas a freguesias; um Programa valorizador das energias (ainda) existentes, que considere ativos, e que recupere vantagens; um Programa ambicioso, capaz de utilizar os recursos disponíveis e de buscar as parcerias necessárias.
Mas talvez seja pedir demais…a começar pela competência…
O problema, o grande impedimento para que surjam programas credíveis, robustos, adequados e mobilizadores, é mesmo o subentendido por Manuel Santos na última frase deste seu comentário. Os vários quadros partidários (incluindo os assessores disto e daquilo) não têm capacidade para elaborar documentos complexos, nem querem pedir ajuda exterior, justamente para não revelar essa incapacidade geral. É muito mais fácil ir espalhando a ideia de que ninguém lê programas na altura das eleições.
E Tomar vai padecendo, sem norte, à deriva, com obras ao calhas, cuja utilidade não é nada evidente.
Eu quando digo que ninguém os lê quero dizer que a grande maioria não o faz, vota por simpatia partidária ou de acordo com a circunstância. O que interessa são as influências partidárias que o partido consiga fazer, é o ir de porta em porta espalhar a palavra, e isso acontece muito nas freguesias rurais em que os cândidatos á junta se prestam a isso, eu ainda me lembro de andar pelo mercado e virem ter comigo para me darem umas canetas e autocolantes, não sei se ainda o fazem. O António Rebelo já aqui falou do filho do Zézinho, o Américo Costa, e que o mesmo só teve trezentos e poucos votos, salvo erro. E ele ofereceu-se para trabalhar de borla!!!! Eu vi o debate entre os candidatos, gostei das ideias dele, lembro-me que ele tinha um bom programa muito orientado para problemas concretos: ambientais, económicos, queria trazer indústria de volta (não sei como!!!), até me lembro que ele tinha uma solução para os ciganos que passava por os indemenizar para que eles saíssem pelo próprio pé, mas votou pouca gente nele, a meu vêr por dois motivos: ele não tinha uma grande estrutura partidária a apoiá-lo e pareceu-me nervoso e pouco á vontade em orar em público, o que se compreende porque não é fácil. Todos os programas vão dizer temos de trazer a indústria de volta, eu votaria naquele que explicar como, vão falar em potencializar o Politécnico, é só tretas e banalidades. Em Tomar, sem o apoio de uma grande estrutura partidária, PS ou PSD, não vão lá.
Autárquicas 2017 / Câmara municipal:
34.814 inscritos | 100%
NÃO VOTOU: 14.994 não votos | 43,07%
PS: 7.972 votos | 22,90%
PPD/PSD: 6.817 votos | 19,58%
B.E.: 1.194 votos | 3,43%
EM BRANCO: 730 votos | 2,10%
CDS-PP: 661 votos | 1,90%
NULOS: 565 votos | 1,62%
PTP: 333 votos | 0,956512%
Presidências 2021:
34.031 inscritos | 100%
NÃO VOTOU: 19.246 não votos | 56,55%
Marcelo Rebelo de Sousa: 9.250 votos | 27,18%
André Ventura: 1.991 votos | 5,85%
Ana Gomes: 1.578 votos | 4,64%
Marisa Matias: 585 votos | 1,72%
João Ferreira: 504 votos | 1,48
Vitorino Silva: 339 votos | 0,996151%
Tiago Mayan Gonçalves: 261 votos | 0,766948%
EM BRANCO: 156 votos | 0,458406%
NULOS: 121 votos | 0,355558%
Não vejo como possa haver tradução directa de resultados de um lado para o outro.
De qualquer das formas qualquer um dos participantes está MUITO LONGE de ser apoiado pela maioria, quando se vai a ver os número como eles de facto são e não com aquele esquema de fingir que os não votantes não contam… porque não ir tanto quanto sei significa que a pessoa não está a apoiar nenhum dos candidatos… e por tanto até deveria contar como voto em branco (implícito).
Muito interessante, João, este seu ponto de vista. Não se trata de fingir que os não votantes não contam. É o próprio programa informático oficial de suporte que assim o dita. As percentagens indicadas são sempre em relação aos votos entrados nas urnas.
Você não vê “como possa haver tradução directa dos resultados de um lado para o outro”, e tem razão. Não é isso que procurei fazer. Limitei-me a apontar tendências. Tomemos como exemplo as próximas autárquicas. Sendo previsível que vamos ter uma luta na qual apenas três candidaturas têm hipóteses de vencer (PS, PSD e CHEGA), os acomodados vão discordar. Dirão que, não senhor, o partido do malvado do Ventura não tem qualquer hipótese, pois obteve apenas 1990 votos, quando o PS venceu as últimas autárquicas com mais de 7 mil sufrágios.
É tudo verdade, João, tal como no caso das abstenções. Mas convém acrescentar que se Ventura e o Chega não chegaram aos 2 mil votos, pior fez Ana Gomes e o PS, que se ficaram pelos 1.500 e poucos votos no concelho.
Está a ver, João, o que se pode e deve fazer? Não transpôr ou traduzir resultados, mas tê-los sempre em conta para identificar tendências. É o que tenho procurado fazer.