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O Nabão já não é sangue do concelho?

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Está a tornar-se rotina haver poluição do Nabão, e a informação local noticiar em tom de protesto, apenas para que fique escrito. Nos finais da década de 50 do século passado, quando em Tomar se ouviu falar no desvio da água do Nabão para abastecer Fátima, foi como se tivessem acendido o rastilho do protesto. Liderados pelo saudoso Nini Ferreira, os tomarenses logo manifestaram, apesar de ser proibido e muito perigoso. Com a palavra de ordem “O Nabão é sangue do concelho”, houve colagem de cartazes, concentração frente aos Paços do concelho e manifestação de rua. Tudo tão inesperado que o temível poder salazarista recuou e nunca mais se voltou a ouvir falar de semelhante coisa. Até o então major Fernando Oliveira, (um dos tenentes do levantamento de 28 de Maio, e mais tarde presidente da câmara, o melhor que houve em Tomar até hoje), ficou assustado

Seis décadas mais tarde, é o que se pode ver, praticamente todos os meses. Uma ETAR municipal descarrega para o rio, que aparece com outra cor, espuma acastanhada, e a cheirar mal, mas os tomarenses em geral não parecem muito incomodados.

De tal forma assim é que, desaparecido o saudoso Nini, o grande defensor do Nabão tem sido o ambientalista Américo Costa. Consciente de que os seus protestos não alcançam grande sucesso, o defensor do Nabão resolveu candidatar-se nas autárquicas de 2017. Contados os sufrágios, conseguiu angariar 333 votos. Três centenas de votos, num concelho com 34 mil eleitores inscritos.

Em contrapartida, a socialista Anabela Freitas, que na questão da poluição do rio andou a endrominar os tomarenses desde 2013, escondendo resultados de análises, e alegando desconhecer os responsáveis pelos sucessivos episódios poluidores, alcançou em 2017 uma bela vitória, a 2ª em 4 anos, com 7.992 votos.

Por aqui se vê que os tomarenses em geral são grandes defensores do seu rio. De tal forma que até se começa a ouvir por aí -“Poluição do Nabão”? -“Não sei de nada!”

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Naturalmente, quem tem o desplante de publicar crónicas assim, só pode ser um malandro, um tomarense degenerado, um egoísta, um estrangeirado que devia era ser corrido daqui pra fora!

Sei disso e de bem mais. A verdade, sobretudo quando triste, é sempre muito incómoda. Mas é a verdade e só por isso me merece todo o respeito. Pena que sejamos poucos e cada vez menos a pensar assim.

                            António Rebelo

 

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6 comentários

    1. Cito um texto recente da jornalista Maria João Avillez, que não é propriamente uma extremista, e que assenta neste caso da poluição do Nabão, como uma luva:
      “Desinteressaram-se? Não lhes faz impressão este estado de coisas? Ou é melhor estar calado e fingir que não se vê? Disfarçar e estar sempre de bem com Deus e com o Diabo? Talvez seja isso. Deve ser isso. Em Portugal ou se vive do Estado, ou se tem medo.
      País submisso.
      Não é de estranhar que tenhamos chegado ao tal indesatável nó. Sabem qual? Um dia terá de se governar com o Chega, sem se poder governar com o Chega.” Maria João Avillez, OBSERVADOR, 28/01/2021

      1. Isso é verdade mas na realidade o Chega não vai resolver problema nenhum. Penso ser até perigoso acreditar em tal. A sua base ideológica passa por escolher grupos que funcionarão como bodes expiatórios (como políticos, não os do Chega, e minorias) responsabilizando-os por todos os males. Os alemães em 1935 atuaram assim, tal como hoje os sunitas ou certos movimentos tribais em África. O problema da sociedade portuguesa (e tomarense) é a falta de criação de riqueza, através de empresas, algo que permitiria ao cidadão liberdade de opção entre organizações, bons e melhores salários e não a dependência dos favores do Estado e até da UE. É o país que é subsidio-dependente. Por alguma razão foi no sul da Itália que a mafia teve condições para criar raízes.

  1. Nos anos 50 o Nabão era o sangue de Tomar, dele dependiam muitos milhares de postos de trabalho, com as fábricas de papel e a fiação, mas já não é assim há muitos anos. Hoje os putos já não se recreiam lá, as mulheres já não lavam lá a roupa, já quase ninguém lá pesca e está tudo diferente. Claro que ninguém gosta de ver o rio poluído, é um crime ambiental e faz-me confusão porque é que o mesmo persiste em 2021 com tantos meios para o evitar, a PSP e a GNR têm unidades de proteção ambiental e existe ainda a APA. Meu caro António Rebelo, abra o jogo é explique porque é que ‘odeia’ tanto aquela gente, que mal eles lhe fizeram. Para mim o PSD é ainda mais responsável que o PS pelo estado a que chegou Tomar, achei a governação do Paiva um desastre, se pudesse atribuir culpa seria 50% pelas leis gerais do país e falta de engenho das administrações das companhias que faliram, 30% PSD e 20% PS. Acho que o desaparecimento da indústria não pode ser atribuído á câmara, não era a câmara que geria as empresas. Houve empresas que se associaram a outras, como o Caima, grande produtor de energia eléctrica além da pasta de papel, que foi comprada pelo gajo da Cofina e ainda Integra a Altri, eu sou um pequenissímo acionista, a Portucel que faz do melhor papel de escritório do mundo, a Navigator, da qual também tenho um pequeno número de ações, a Renova faz do melhor papel higiénico e lenços higiénicos do mundo, é uma marca muito forte, e dessa não tenho nada. Para mim é um mistério porque o Prado não se conseguiu associar a outras empresas e sobreviver. Provavelmente o papel cartolina que eles faziam está em desuso. Não sei também explicar porque é que a Platex fechou, a única explicação que vejo é má administração. Parece-me ser um produto muito bom, com muita saída, mas é outro mistério. A única explicação para os bancos manterem a torneira aberta para uns e fecharam para outros é a pericía dos administradores, todas essas empresas que eu mencionei têm divídas muito elevadas e necessitam dos financiamentos bancários para se manterem abertas. Tudo isto para explicar que a culpa não é da câmara. A única coisa que a Câmara pode fazer pela economia é, além de ajudar as startups, promover a cidade e o turismo, e para isso necessita do rio limpo. A última vez que passei por Tomar, em 2019, vi coisas muito interessantes, daí eu ter elogiado várias vezes a câmara, e olhe que eu sou de direita. Acho que as novas unidades hoteleiras têm muita qualidade, os restaurantes são muito bons, come-se muito bem, vi lojas muito interessantes, com produtos diferenciados e únicos. Faltam é os turistas…

    1. Excelente comentário, cidadão Helder Silva. Infelizmente com um ou outro devaneio que me vejo forçado a denunciar, por não corresponder de todo à realidade. O mais fantasista é aquele onde você escreve “abra o jogo e explique porque é que odeia tanto aquela gente, que mal eles lhe fizeram.”
      O Helder não especifica quem é “aquela gente”, mas percebe-se pela continuação que se trata dos autarcas da actual maioria. Pois caro comentador, há um duplo equívoco da sua parte, faltando-me saber se voluntário ou não. É o seguinte. Primeiro, como sabem todos os que me conhecem à longos anos, sempre pratiquei jogo totalmente aberto e nunca odiei nem odeio ninguém. Ignoro até o que seja o ódio. Creio que este seu ponto de vista anómalo provém de uma circunstância bem simples. Sou demasiado frontal e digo sempre o que penso, convenha ou não, numa terra onde imperam as esquivas e as meias-tintas.
      Segundo, não vejo qualquer razão para odiar a maioria PS, na qual votei, conforme já esclareci anteriormente neste blogue. O meu ponto é outro. Consiste em culpar Anabela Freitas por ter andado durante todos estes anos a enganar os tomarenses sobre as origens da poluição do Nabão e os respectivos responsáveis. Podendo parecer que não, é uma situação cada vez mais grave. A poluição continua e acentua-se, na mais escandalosa impunidade, quando agora é do domínio público que a principal origem é a ETAR da Sabacheira, ou seja os esgotos de Ourém.
      Com todos esses organismos de fiscalização que refere, caiu-se há dias numa situação “à portuguesa”, largamente noticiada a nível nacional. Uma suinicultura privada da zona de Leiria foi processada pela GNR, quando esta força armada descobriu uns colectores de efluentes porcinos a derramar directamente para terrenos anexos. Fala-se numa multa que pode ir até 200 mil euros.
      Enquanto isto, a mesma GNR nunca conseguiu até agora localizar os efluentes de Ourém, que através da antes citada ETAR, continuam a poluir o Nabão, situação que se arrasta há pelo menos 10 anos. Pois apesar disso, ainda não houve processo de contra-ordenação, se calhar por se tratar de uma autarquia e de uma empresa intermunicipal.
      É contra isto que eu me insurjo, cidadão Helder. Sem ódio, mas com frontalidade e sem temor.
      O resto do seu comentário merecia muito mais, mas esta minha resposta já vai longa. Fica para uma próxima ocasião.

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