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Saiba por onde passa a Procissão de Santa Iria

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20 de outubro é dia de Santa Iria, padroeira de Tomar, e dia de procissão para lembrar o lendário martírio da santa.

A procissão sai da igreja de Santa Maria do Olival às 11h15, depois da missa que começa às 10h30. Segue pela rua Aquiles da Mota Lima, Praceta Mário Nunes, Rua Manuel de Matos, Praceta Raul Lopes, Alameda Um de Março, Rua Marquês de Pombal e Ponte Velha onde há o tradicional lançamento de pétalas de flores ao rio Nabão.

Lenda de Santa Iria

No ano 653 governava o Condado da Nabância o Conde Castinaldo, casado com Cássia, os quais tinham um filho chamado Britaldo.

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Na cidade havia dois conventos beneditinos. O dos homens, Santa Maria, de que era Abade Célio, tio de Iria e que ficava onde hoje se ergue a igreja de Santa Maria dos Olivais; e o das mulheres, Santa Clara, junto à Ponte Velha (romana), depois do de “Santa Iria”.

Foi nesta época que se deu o facto notável, o qual, por se referir a personagens que então viviam na antiga cidade goda, com pálida e frouxa luz, apenas nos deixa lobrigar, lá ao longe naquelas remotas eras (por entre a fantasia dos cronistas, que o revestiram de fábulas e lendas), o quer que seja de verdadeiro, que pouco mas alguma coisa nos revela daquela antiga povoação.

Numa quinta dos arredores da Nabância viviam Hermegildo e Eugénia, que tinham uma filha muito bonita, chamada Iria, Irene ou Ireia. Era uma jovem bela, formosa pelas formas, bela pelas virtudes, confiada ao cuidado das suas tias maternas, Casta e Júlia, recolhidas ou professas no Convento de Freiras, junto ao Rio Nabão.

Quando Iria atingiu os 15/16 anos, Célio, que era o Abade do Convento de Santa Maria (hoje Santa Maria dos Olivais) confiou a sua educação a um monge chamado Ramígio, quem mais confiança lhe merecia, pelo seu saber e virtudes. Em breve deu ela sobejas provas da sua inteligência e da sua dedicação à fé católica, que tão ardentemente professava, por isso era estimada e apreciada por todos aqueles que a conheciam. Naquelas épocas semi bárbaras e em outras que se lhe seguiram, a donzela, a quem a natureza prodigalizava os dons da formosura, se topava por desventura com algum jovem e altivo fidalgo ou rico e soberbo castelão que a cobiçava, podia julgar-se perdida: ou a desonra ou a morte; foi assim que sucedeu à formosa Iria.

Defronte dos Paços do Governador havia uma capela dedicada a S. Pedro Fins, onde hoje é o cemitério, capela reedificada no tempo de Filipe II, em 1617; hoje só resta dela uma lápide com uma inscrição que se achava embebida na parede da frente, pelo lado de dentro da parede do mesmo cemitério. Naquela capela e naquela época era costume fazer-se em dia de S. Pedro uma festa solene, a que assistiam as religiosas do Convento. Iria, por essa altura, ia ali fazer as suas orações. Aconteceu que Britaldo, filho de Castinaldo e Cássia, então governadores da cidade, a viu e se apaixonou por ela doidamente. Mas Iria, que já tinha resolvido ser freira, não correspondeu ao seu amor nem anuiu a rogos, nem aceitou propostas, com que mais encandesceu a alma ardente daquele moço fidalgo, indo até ao desvairamento, transformando o amor em feroz paixão.

É aqui que começam as divergências quanto ao desenrolar dos acontecimentos. Uns afirmam que Britaldo, de desgosto, adoeceu gravemente. Iria, sabendo-o doente e qual o motivo, foi junto dele para o consolar e convencer da impossibilidade de tal amor.

No entanto, o Frei Ramígio, o frade escolhido para a educar, ficou também perdido de amores por ela e fez-lhe propostas menos honestas, que ela repudiou vivamente. Como vingança, conseguiu que Iria tomasse um chá, que teve o condão de lhe dar toda a aparência de grávida.

Britaldo, fiado nas aparências, louco de ciúmes e julgando-se traído, encarregou Banaão de a matar.

Assim, no dia 20 de Outubro de 653, quando Iria rezava numa capelinha junto ao rio, foi morta à punhalada e o seu corpo atirado às águas do Nabão. O corpo foi rio abaixo e só parou em Scalabis, onde “milagrosamente” desenvolveu um sepulcro de mármore.

De então para cá, Scalabis tomou o nome de Sant’Irene – Santarém.

 

João Maria de Sousa, na sua Notícia Descriptiva e Histórica da Cidade de Tomar, de 1903, tem uma versão um pouco diferente da história, dizendo que Britaldo,  “receoso que outro viesse a gozar o que a ele lhe era negado mandou-a assassinar. Um soldado da sua confiança, chamado Banão, por certo de maus instintos, foi ele escolhido e encarregado de executar os seus atrozes desígnios.

Junto ao Convento, na margem do rio, havia uma pequena gruta cavada na rocha (que ainda hoje ali se vê), o pego onde Iria costumava todos os dias ir fazer oração; escolhera aquele lugar solitário para que nenhuma distracção a pudesse perturbar naquele êxtase em que a sua alma cândida e pura ia talvez misturar-se com os anjos e acompanhá-los nos seus hinos de glória ao Criador. No dia 20 de Outubro de 653, ao alvorecer, estava ela naquela espécie de santuário; o ligeiro murmúrio da aragem na concavidade dos rochedos, o som monótono e triste produzido pelo murmurar das águas roçando na penedia, confundiam-se com o brando murmúrio dos seus lábios, agitando-se trémulos na fervosa prece; talvez pedindo a Deus que apagasse no coração daquele homem o fogo duma paixão a que ela não podia corresponder; subitamente é surpreendida pelo bárbaro e cruel assassino que, desapiedado, lhe embebe no peito o vil punhal, despoja-a dos seus vestuários para os apresentar ensanguentados a Britaldo e lança ao rio o cadáver. É provável que o sicário lhe levasse ordem de lhe fazer as últimas propostas, que foram rejeitadas, preferindo a morte à desonra. Por isso a Igreja canonizou-a como Virgem Mártir; os cronistas perpetuam a sua memória nas crónicas sagradas, narrando o facto; os crentes adoram-na como Santa; a arte imortalizou-a, pintando em tela e burilando na pedra a sua imagem, para impô-la à admiração e veneração das gerações sucessivas, como lá ainda se vê em um nicho, que está no cunhal da parede do Convento, por cima do pego em que deitaram o cadáver da Santa.”

 

Almeida Garrett ainda nos acrescenta que “enquanto ia navegando o corpo da santa, teve Célio, abade do convento, uma revelação que lhe descobriu a verdade e os milagres do caso e, comunicando-a logo aos monges e ao povo de Nabância, saiu com todos de cruz alçada e foi por esses campos da Golegã fora, até chegar à Ribeira de Santarém. Aí, benzendo as águas do rio, estas se retiraram corteses e deixaram ver a sepultura que era de fino alabastro, obrando à maravilha pelas mãos dos anjos.”

 

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